Saúde
Anvisa fiscaliza clínicas de estética em seis cidades

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realiza, em parceria com vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, uma operação de fiscalização em clínicas de estética nas cidades de Brasília, Goiânia, São Paulo, Osasco (SP), Barueri (SP) e Belo Horizonte.
Em nota, a autarquia informou que a operação envolve inspeções em dois fabricantes de dispositivos médicos nas cidades de Anápolis (GO) e Porto Alegre. Ao todo, 50 fiscais participam das ações.
O objetivo é verificar as condições sanitárias e a regularidade dos estabelecimentos e de produtos utilizados, “para impedir situações que podem trazer risco à saúde dos usuários, bem como alertar a população sobre os riscos dos procedimentos estéticos”.
No primeiro dia da operação, iniciada nesta quarta-feira (12), foram vistoriados 19 serviços de estética e embelezamento – em todos eles, a Anvisa informou ter encontrado algum tipo de irregularidade.
“Em todas as situações, foi lavrado auto de infração e será aberto processo que pode levar à aplicação de penalidades após o processo de apuração.”
Ainda de acordo com a agência, diversos produtos classificados como irregulares foram apreendidos. Em uma das clínicas localizadas em Osasco, por exemplo, foram encontradas mais de 300 ampolas de produtos injetáveis em condições de risco à saúde, além de nove equipamentos médicos que precisaram ser interditados.
“Na primeira etapa da operação, dois estabelecimentos foram totalmente interditados na cidade de Goiânia e na capital mineira. Outros três sofreram interdições parciais devido às irregularidades: dois em São Paulo e um em Brasília.”
Irregularidades
Entre os problemas já identificados durante a operação estão produtos sem registro para comercialização e uso no Brasil e medicamentos manipulados em grande escala por farmácias, que não podem funcionar como fábricas.
Equipamentos descalibrados, reutilizados de forma indevida, e produtos armazenados sem controle de temperatura também foram identificados.
“Em Goiânia, os fiscais encontraram produtos manipulados em que o nome de funcionários aparece no lugar do nome dos pacientes para burlar a fiscalização, além de produtos com prazo de validade vencido.”
Já em São Paulo, os agentes identificaram toxinas botulínicas armazenadas sem controle de temperatura e vencidas, além de produtos e medicamentos sem comprovação de regularização.
Em uma clínica de Goiânia, foram apreendidas embalagens de fenol abertas e vencidas. A substância teve o uso para fins estéticos suspenso no Brasil pela Anvisa. Na mesma cidade, uma clínica teve interdição total de suas atividades.
Em Belo Horizonte, os fiscais encontraram anestésicos vencidos e sem data de validade em uma das clínicas inspecionadas, assim como fios e cânulas utilizados em procedimentos invasivos sem registro na Anvisa. A clínica foi interditada.
Em Brasília, foi identificado um serviço de estética que não possuía responsável técnico para as atividades prestadas no local.
“Também foram verificadas, em algumas cidades, falhas na esterilização de materiais, anestésicos sem data de validade no rótulo, produtos injetáveis estéreis abertos para serem usados novamente e cosméticos sendo usados de forma injetável, o que é proibido pela legislação sanitária.”
De acordo com a Anvisa, produtos sem registro ou manipulados de forma irregular foram encaminhados às autoridades policiais para subsidiar investigações.
“Havia também estabelecimentos realizando procedimentos invasivos sem possuir autorização para tal atividade ou sem profissional de saúde habilitado. Eventuais irregularidades relacionadas à habilitação profissional serão notificadas aos conselhos profissionais, que são os órgãos responsáveis pela fiscalização do exercício profissional no Brasil.”
Em um estabelecimento de Belo Horizonte, foram flagrados instrumentos de uso único para microagulhamento da pele sendo reutilizados e com restos aparentes de sangue.
Em uma clínica em Goiânia, as equipes descobriram anotações referentes a dois casos de infecção, sendo um deles por micobactéria, após procedimentos realizados. Os casos, segundo a agência, não haviam sido notificados ao sistema de saúde público, “contrariando a legislação, que estabelece a notificação compulsória”.
“Outra questão verificada em alguns estabelecimentos de cidades diversas foi a ausência de protocolos de segurança do paciente e de procedimentos para gerenciar riscos do uso de medicamentos, equipamentos e produtos para a saúde e realizar gerenciamento de resíduos, além da inexistência de prontuários para registrar a evolução dos pacientes ou eventuais intercorrências.”
Alguns estabelecimentos, de acordo com a Anvisa, não possuíam sequer pias para lavagem das mãos ou faziam a assepsia dos equipamentos em banheiros de uso comum.
As empresas autuadas, além de pagar multas, devem receber penalidades que podem variar de advertência ao cancelamento de autorização e de licença.
Saúde
Alta Performance Mental: Por que descansar é essencial para alcançar o seu melhor

Por Dr. Roberto Roni, psicólogo e especialista em neurociência e comportamento
Vivemos em uma era em que a palavra “produtividade” se tornou sinônimo de valor pessoal. É como se estar sempre ocupado fosse sinal de sucesso. Mas a ciência nos mostra que o verdadeiro desempenho de alta performance, principalmente no aspecto mental, exige mais do que esforço constante — exige equilíbrio.
A alta performance mental não é apenas trabalhar mais, mas trabalhar melhor. E isso só é possível quando o cérebro tem tempo e espaço para se recuperar. “O descanso não é perda de tempo, é parte estratégica do processo. A mente precisa de pausas para reorganizar informações, consolidar aprendizados e recuperar energia emocional e cognitiva”, explica o psicólogo Roberto Roni, especialista em neurociência e comportamento.
Estudos demonstram que o excesso de estímulos e a ausência de pausas geram um estado de fadiga mental crônica. Isso compromete a memória, o foco, a tomada de decisões e até mesmo a criatividade — funções cruciais para quem busca alta performance em qualquer área da vida.
Segundo Dr. Roberto, é preciso abandonar a ideia de que descansar é um luxo. “O descanso é uma ferramenta poderosa de desempenho. Quando respeitamos nossos limites e incorporamos momentos de pausa no dia a dia, estamos dando ao cérebro o que ele precisa para operar no seu melhor nível”, afirma.
Sono de qualidade, pausas ao longo do expediente, atividades de lazer e até momentos de ócio são elementos essenciais de uma rotina de alta performance mental. Eles ajudam a regular o estresse, equilibrar emoções e manter a clareza mental necessária para decisões assertivas.
A chave está no equilíbrio: produtividade com propósito, foco com leveza e esforço com autocuidado. “A mente humana é como um músculo: precisa ser treinada, sim — mas também precisa descansar para crescer”, conclui o especialista.
Saúde
Celulite: mais do que estética, uma questão de autoestima e bem-estar

Por Dr. Cleugo Porto, médico especialista no tratamento de celulite e lipedema
A celulite ainda é tratada por muitos como uma “questão estética menor”, mas para milhões de mulheres, ela vai muito além da aparência. Trata-se de algo que impacta diretamente a forma como elas se enxergam, se sentem e se posicionam no mundo. “Tratar a celulite é, sim, cuidar da estética, mas também é um ato de acolhimento à autoestima e à saúde emocional da mulher”, afirma o Dr. Cleugo Porto, referência nacional no tratamento de celulite e lipedema.
A celulite é uma condição multifatorial que envolve alterações na circulação, na inflamação dos tecidos e na estrutura da pele. Ou seja, não é apenas uma “imperfeição visual”. E por isso, precisa ser olhada com atenção técnica e empatia. “Muitas pacientes chegam ao consultório relatando vergonha de usar determinadas roupas, de ir à praia ou mesmo de se olhar no espelho. O impacto emocional é profundo e legítimo”, destaca o especialista.
Nos tratamentos modernos, a proposta vai além de suavizar os furinhos. “Nosso objetivo é devolver à paciente a liberdade de se sentir bem no próprio corpo. E isso envolve técnica, conhecimento e respeito à individualidade de cada mulher”, diz Dr. Cleugo.
Cuidar da celulite é também cuidar da saúde. Afinal, ela pode estar associada a desequilíbrios hormonais, retenção de líquidos, má circulação e até ao início de quadros como o lipedema — uma doença que afeta diretamente o tecido adiposo e causa dores, inchaços e prejuízo funcional.
“Quando a mulher se permite buscar um tratamento, ela não está sendo vaidosa. Está exercendo seu direito de se sentir bem, de se olhar com carinho e de cuidar do que sente. E isso tem um poder transformador enorme”, conclui o médico.
Saúde
Antes restrita à Amazônia, febre oropouche se espalha pelo país

Até 2023, a febre oropouche era uma doença quase exclusiva dos estados da Região Amazônica, mas este ano, o Espírito Santo, a quase 3 mil km de distância se tornou recordista de casos com 6.318 registros. Pesquisadores tentam entender o que levou a doença a se espalhar pelo Brasil, e gestores de saúde pensam estratégias para controlar a oropouche em meio a uma população sem nenhuma imunidade prévia.
Este ano, infecções por oropouche já foram confirmadas em 18 estados mais o Distrito Federal, somando 11.805 casos. Cinco pessoas morreram pela doença, 4 no Rio de Janeiro e 1 no Espírito Santo e há duas mortes sendo investigadas. Em praticamente todas as semanas, os casos deste ano superam os do ano passado, e a expectativa é que que a soma de 2025 seja superior a quantia de 13.856 registrada em 2024. O número de mortos já é superior. No ano passado, foram quatro: 2 na Bahia, 1 no Espírito Santo e 1 em Santa Catarina.
A febre oropouche é causada por um vírus transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis, mais conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, incidente em todo o país. Ela causa sintomas semelhantes aos de outras doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e chikungunya, principalmente febre e dor na cabeça, músculos e articulações.
A infecção também pode causar complicações na gravidez, incluindo microcefalia, malformações e óbito do feto, assim como o Zika virus. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda que as gestantes que vivem em áreas com registros da doença reforcem a proteção contra os mosquitos. Apesar da transmissão do vírus por via sexual ainda não ter sido comprovada, pessoas com sintomas também devem usar preservativo durante as relações sexuais como medida preventiva.
De acordo com o chefe do Laboratório de Arbovírus e Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz, Felipe Naveca, estudos genéticos mostram que os casos que se proliferam no Brasil foram causados por uma nova linhagem do vírus, que surgiu no Amazonas, circulou pela Região Norte e depois se espalhou.
“E nós também conseguimos mostrar que esse cenário está muito relacionado com algumas áreas de desmatamento recente, principalmente no sul do Amazonas e no norte de Rondônia, que serviram como pontos cruciais para dispersão desse vírus. Aí pessoas infectadas acabaram levando para fora da Região, porque depois que ela é infectada pelo vírus, leva um tempo até manifestar os sintomas”, complementa Naveca.
O maruim existe em todo país, mas precisa de ambientes úmidos e com matéria orgânica em decomposição para se reproduzir, por isso, é mais incidente em áreas florestais e de plantações, especialmente nas lavouras de banana. Os surtos têm ocorrido principalmente em regiões periurbanas, de transição entre ambientes rurais e de mata e áreas habitadas por humanos. Apenas as fêmeas transmitem o vírus da febre oropouche, que também podem ser inoculados em animais.
Segundo Naveca, as mudanças ambientais também têm um papel na proliferação da doença. “Todas as vezes que você tem eventos mais extremos, seja de seca ou cheia dos rios, isso afeta a população não só do vetor, mas também dos animais que o mosquito se alimenta. Então, isso modifica todo esse ecossistema. Os nossos dados mostram que a população do vírus, aumentava justamente nos períodos de chuva na Região Amazônica.”
Um estudo internacional recente analisou dados de seis países sulamericanos, incluindo o Brasil, e identificou que as variáveis climáticas, como as mudanças de padrão da temperatura e da chuva, foram os principais fatores de influência para a disseminação da oropouche, contribuindo com 60%. Por isso, os pesquisadores acreditam que eventos climáticos extremos, como o El Niño, provavelmente tiveram um papel fundamental no surto iniciado em 2023.
O Ministério da Saúde reforçou o monitoramento dos casos de Oropouche e tem feito reuniões periódicas e visitas técnicas aos estados, para orientar as autoridades locais sobre as formas corretas de notificar, investigar e encerrar os casos suspeitos.
“Em parceria com a Fiocruz e a Embrapa, a pasta realiza estudos sobre o uso de inseticidas para o controle do vetor, com resultados preliminares promissores. As evidências apoiam a definição de estratégias de enfrentamento da doença, especialmente durante surtos, e a redução de seu impacto na população. A prevenção inclui o uso de roupas compridas, sapatos fechados, telas de malha fina nas janelas e eliminação de matéria orgânica acumulada”, declarou o Ministério em nota.
Espírito Santo
As autoridades de saúde do Espírito Santo também estão em alerta já que o pequeno estado com pouco mais de 4 milhões de habitantes se tornou o recordista de casos no ano passado e este ano. O subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, explica que boa parte dos 78 municípios capixabas têm características periurbanas, com muitas áreas de plantação, o que facilita a reprodução do maruim. Com mosquitos em abundância, e uma população sem imunidade prévia, o vírus encontrou as condições ideais para se disseminar.
“Nós identificamos também que os primeiros casos ocorreram na época da colheita do café, que é um período que circulam muitas pessoas que vêm de outros estados para trabalhar nas lavouras. Isso acaba sendo um momento favorável para a transmissão, ainda porque os trabalhadores passam uma semana em uma cidade, depois seguem para outra…” complementa Cardoso.
Enquanto os pesquisadores trabalham para mapear as áreas de maior incidência do maruim, a secretaria reforça o treinamento dos profissionais de saúde.
“Como era uma doença desconhecida, eles começaram a entender agora o que está acontecendo, para saber identificar e agir diante de um caso de Oropouche. Então nós estamos fazendo a qualificação das equipes municipais, para fazer o reconhecimento clínico, principalmente diferenciar a oropouche da dengue e das outras arboviroses e estamos treinando também os agentes comunitários de saúde”, garante o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde.
A febre oropouche também se tornou uma novidade indesejável em alguns estados da Região Nordeste, com destaque para o Ceará, que registrou 674 casos este ano. De acordo com o Secretário Executivo de Vigilância em Saúde do estado, Antonio Lima Neto, os casos no Ceará também começaram em áreas de plantio, principalmente de banana, mas também de cacau e mandioca.
“No primeiro ano, nós tivemos 255 casos, que se concentraram em distritos rurais, com pequenos povoados, todos localizados na região Serrana do Ceará, conhecida como Maciço de Baturité. Em 2025, quando a doença retornou, ocorreu algo diferente que foi uma transição da doença para a principal cidade da região, que é Baturité. Onde, ao invés de você ter 500 moradores, você tem 20.000 pessoas”, complementa.
De acordo com o secretário executivo, o estado também está investindo em ações de manejo clínico e vigilância laboratorial, para diagnosticar corretamente a doença, especialmente em gestantes. O Ceará foi um dos estados que registrou a morte de um feto, após a infecção da mãe por oropouche. No ano passado, pelo menos cinco casos de óbito fetal e um caso de anomalia congênita foram registrados no Brasil, causados pelo vírus.
“O controle vetorial de um mosquito domiciliado, ele tem um fundamento central, que é a eliminação de criadores, como no caso do Aedes Aegypt. Você eliminar os locais onde ele se reproduz, você renovar a água, cuidar do lixo doméstico… Com o mosquito-pólvora, você teria que fazer uma barreira química entre as plantações e as áreas onde as pessoas vivem,. O Ministério da Saúde tem realizados testes em busca de produtos eficientes, mas não é algo trivial”, afirma Antonio Lima Neto.