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Internacional

Brasil e Nigéria firmam acordos bilaterais durante visita de Estado

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© José Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil quer ampliar o fluxo comercial com a Nigéria e afirmou que os dois países apostam no livre comércio, em um momento em que ressurgem “o protecionismo e o unilateralismo” no mundo. Lula recebeu o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, para uma visita de Estado, nesta segunda-feira (25), no Palácio do Planalto, e reafirmou sua preocupação com o desenvolvimento do continente africano.

Ele lembrou que o intercâmbio entre Brasil e Nigéria “diminuiu drasticamente” na última década, de US$ 10 bilhões em 2014 para US$ 2 bilhões no ano passado, sendo a Nigéria o quarto maior parceiro comercial brasileiro na África.

“Nos últimos governos, o Brasil se distanciou da África. Duas das maiores economias da América Latina e da África devem ter um intercâmbio muito maior”, disse, durante declaração à imprensa.

“Nesse momento, em que ressurgem o protecionismo e o unilateralismo, Nigéria e Brasil reafirmam a sua aposta no livre comércio e na integração produtiva. Seguimos empenhados na construção de um mundo de paz e livre de imposições hegemônicas”, acrescentou.

Entre as áreas possíveis de cooperação, Lula citou agricultura e pecuária, petróleo e gás, fertilizantes, aeronaves e máquinas. Hoje, o Brasil exporta principalmente açúcares e melaços (74%), enquanto as importações são concentradas em fertilizantes (48%) e petróleo e derivados (48%).

Lula reafirmou que o Brasil tem uma dívida com o continente africano diante dos 350 anos de escravidão a que o povo negro foi submetido no território brasileiro. Para o presidente, a dívida histórica deve ser paga com solidariedade, transferência de tecnologia e assistência para o desenvolvimento da agricultura local, por meio de uma relação “solidária, fraterna e igualitária”.

“A única forma de a gente pagar não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade, em alinhamento político, econômico, cultural, porque o Brasil tem que ajudar a África transferindo tecnologia, transferindo conhecimento, tudo aquilo que a gente aprendeu aqui no Brasil que deu certo, sobretudo na área agrícola. O Brasil tem obrigação de ajudar o continente africano a ter o mesmo desenvolvimento que nós tivemos aqui”, disse.

Por sua vez, o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, contou que a Nigéria tem uma população muito jovem, que está pronta para troca de ideias e para aproveitar as oportunidades com as transferências tecnológicas. “Eles sabem que o Brasil tem os ativos que nós precisamos”, afirmou.

Segundo Tinubu, a Nigéria tem interesses na produção industrial de medicamentos genéricos, já consolidada no Brasil, e em parcerias com a Petrobras, na exploração de gás natural. “Somos o terceiro maior produtor de petróleo da África e isso não esta levando à atividades comercias de valor como deveria”, afirmou.

Retomada

A Nigéria é um dos principais parceiros do Brasil no continente africano, com 65 anos de relacionamento bilateral.

Em junho último, em Abuja, capital nigeriana, o vice-presidente Geraldo Alckmin presidiu, pelo lado brasileiro, a sessão do Mecanismo de Diálogo Estratégico. Também neste semestre, em março, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, realizou visita oficial à Nigéria.

Nessa retomada da cooperação, Lula contou que vários acordos já foram firmados em áreas como defesa, agricultura e pecuária, segurança, produção audiovisual, comércio, investimentos, turismo e energia.

Durante a visita desta segunda-feira, foram assinados outros cinco atos bilaterais. Um deles é o acordo sobre aviação civil, com o propósito de estabelecer e explorar os serviços aéreos entre os dois territórios. Foi aprovado o início da operação de um voo direto entre São Paulo e Lagos, cidade litorânea da Nigéria, a ser operado pela maior companhia aérea do país africano, a Air Peace.

Também foram assinados memorandos de entendimento para a formação de diplomatas, para o estabelecimento de consultas políticas sobre temas bilaterais e questões regionais e internacionais e, também, entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES) e o Banco de Agricultura da Nigéria (BoA) para promoção de comércio e investimentos.

Por fim, os dois países firmaram memorando para cooperação em ciência, tecnologia e inovação. O objetivo é promover a colaboração eficaz em pesquisas sobre biotecnologia e bioeconomia, ciência oceânica, ecossistemas de inovação, energia, desenvolvimento espacial, transformação digital e desenvolvimento de matérias-primas.

Durante sua declaração, Lula contou que, ainda neste semestre, o Brasil vai designar um adido da Polícia Federal para atuar em Abuja, capital nigeriana. “A preocupação com o combate ao crime organizado, o terrorismo e ao tráfico internacional de drogas também esteve no centro da nossa reunião de hoje”, disse.

“Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais. Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade nacional. A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas”, acrescentou o presidente.

Após o encontro no Palácio do Planalto, Lula recepciona as autoridades para um almoço no Palácio do Itamaraty. Ainda hoje, o presidente nigeriano será recebido pelos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal e participa do encerramento do Fórum Empresarial Nigéria-Brasil, ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

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Internacional

Tarifaço é ineficaz até para americanos, diz economista de Harvard

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O “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra parceiros comerciais é uma política ineficaz até mesmo para os americanos, de acordo com o professor e economista da Universidade de Harvard Dani Rodrik. Segundo ele, as sucessivas taxações sobre produtos que chegam aos Estados Unidos, uma das principais políticas externas de Trump, não servem para incentivar a economia americana, tampouco para garantir melhores empregos para os próprios americanos.

“Há uma boa chance de que, no final das contas, isso seja autodestrutivo”, diz Dani Rodrik. 

Rodrik é ganhador de inúmeros prêmios e, atualmente, é codiretor do Programa Reimagining the Economy, na Kennedy School, e da rede Economics for Inclusive Prosperity. Entre 2021 e 2023, foi presidente da Associação Econômica Internacional, na qual ajudou a fundar a iniciativa Mulheres na Liderança em Economia.

Nesta semana, o economista participou do seminário Globalização, Desenvolvimento e Democracia, realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Open Society Foundations, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.

Dani Rodrik fez duras críticas à política adotada por Trump. Segundo ele, os objetivos alegados pelo presidente, como a reconstrução da indústria americana e o fortalecimento da classe média, não serão alcançados com tarifas de importação.

“O problema com a América de Trump não é o nacionalismo econômico, é que Trump não está adotando políticas que sejam nacionalistas o suficiente. Na verdade, não apenas não está claro de quem é o interesse, mas posso dizer que não está servindo ao interesse econômico americano” afirma.

Os produtos do Brasil estão entre os alvos de Trump. No último dia 6, entrou em vigor a tarifa de 50% imposta sobre parte das exportações brasileiras para o país norte-americano. Segundo o governo brasileiro, a medida, assinada no dia 30 de julho, afeta 35,9% das mercadorias enviadas ao mercado norte-americano, o que representa 4% das exportações do Brasil. 

Cerca de 700 produtos foram incluídos em uma lista de exceções que não sofrerão a sobretaxa. Para reduzir o impacto aos demais produtores nacionais, foi divulgado o Plano Brasil Soberano, no último dia 13.

Dani Rodrik explica que, ao taxar os produtos, pode-se até aumentar a arrecadação ou mesmo o lucro das empresas americanas, mas isso não necessariamente será revertido em empregos de qualidade e bem remunerados aos americanos ─ o que poderia fazer com que a qualidade de vida da população, sobretudo da classe média, melhorasse.

“As tarifas apenas aumentam a lucratividade de certos segmentos da manufatura. Agora, quando algumas empresas se tornam mais lucrativas, elas necessariamente inovam mais? Elas necessariamente investem mais? Elas investem mais em seus trabalhadores? Elas necessariamente contratam mais trabalhadores? Elas tentam ser mais competitivas? Todas essas coisas boas não estão diretamente ligadas ao fato de que, agora, elas estão ganhando mais dinheiro, porque você também pode reverter os lucros maiores aos gerentes ou acionistas”, diz.

Para ele, as tarifas, quando adotadas pelos países, devem ser medidas temporárias e devem ser associadas a ações internas que estimulem a economia.

“As tarifas são um expediente temporário, um escudo temporário, mas não são o principal instrumento pelo qual você atinge esses objetivos, porque, para isso, não são muito eficazes”, diz. “Os impostos podem ter um papel a desempenhar, mas o papel que desempenham seria, na melhor das hipóteses, um complemento, sempre que você tiver uma estratégia doméstica ─ seja para proteger certos setores ou políticas sociais, seja para promover a inovação por meio de políticas industriais ou por meio de mais empregos e bons empregos”, acrescenta.

O economista cita a China como um exemplo de modelo de crescimento. “A China tem seguido políticas que promovem seus próprios interesses econômicos nacionais acima de tudo. Mas, como resultado, essas políticas foram, em sua maioria, bem planejadas em termos de crescimento econômico”, defende.

Investimentos no Brasil

Trump também foi criticado pelo presidente do Conselho da Open Society, Alex Soros, que também participou do seminário. A Open Society é uma rede internacional de filantropia fundada por George Soros, pai de Alex.

Soros comentou o fechamento da Usaid, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que era a principal agência de ajuda externa do governo dos EUA. Segundo ele, as ações humanitárias sofreram “muitos dos cortes mais dolorosos. Agora se sabe que pessoas morreram ao redor do mundo por conta dos cortes da Usaid”, diz.

“Falando como um americano, isso não é um interesse americano”, disse Alex Soros.

Na quarta-feira (20), no dia do evento, a Open Society Foudations anunciou que apoiará iniciativas na América Latina voltadas para populações historicamente marginalizadas, com foco especial em povos indígenas, comunidades afrodescendentes e mulheres. A estratégia terá Brasil, Colômbia e México como foco principal.

A intenção é apoiar, com um plano de investimento com duração de oito anos, organizações da sociedade civil e parcerias com governos para criar conjuntamente políticas públicas que atendam de forma direta às necessidades dessas populações, promovendo acesso a serviços, saúde, meio ambiente saudável, empregos de qualidade e segurança.

Para a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, esses cortes feitos por Trump impactam principalmente os países pobres.

“Nós não temos como enfrentar as desigualdades no mundo de forma isolada, muito menos os países em desenvolvimento e países pobres”, diz. “Eu acho que é muito importante que a gente tenha uma reação dos atores comprometidos com a democracia, que não se fechem no olhar somente da agenda econômica e comercial, mas que passem a olhar o que está em risco de fato”, defende.

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Internacional

Com brasileiros, Flotilha da Liberdade leva ajuda humanitária a Gaza

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© gazafreedomflotilla/Instagram

Com brasileiros a bordo, a Freedom Flotilla – ou Flotilha da Liberdade – fará nova investida em setembro para levar ajuda humanitária a Gaza, no Estado Palestino. O território, com acesso totalmente controlado por Israel, sofre oficialmente com fome, segundo a  Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). 

Dezenas de embarcações da flotilha partem de portos no Mar Mediterrâneo, com previsão de chegada a Gaza por volta do dia 13 de setembro. A primeira embarcação sairá de Barcelona, em 31 de agosto. As demais partirão, no dia 4 de setembro, de Túnis, na Tunísia, e de outros portos que ainda não foram divulgados.  

Segundo a Freedom Flotilla Brasil e o Global Movement to Gaza Brasil, de 8 a 15 ativistas brasileiros estarão a bordo das embarcações. No total, participarão ativistas de 40 países.

“Nossos corações se solidarizam com o sofrimento do povo Palestino que vive ao primeiro genocídio amplamente televisionado. São centenas de milhares de palestinos feridos ou assassinados, e outros milhões afetados pela inanição, doenças e falta de atendimento médico deliberadamente causados pelo pelo regime sionista”, disseram as duas organizações em nota enviada à Agência Brasil

“Nós organizamos a nossa indignação para atuar onde nossos governos falham. Estamos navegando com a solidariedade dos povos contra a cumplicidade e a impunidade que reinam no Brasil e no mundo”, acrescentaram.

Segundo as duas organizações, a intenção da ação é criar um corredor humanitário para o transporte de comida, água e medicamentos para o povo palestino. Eles pretendem também romper o controle israelense sobre Gaza: “romper, de maneira não violenta, o cerco ilegal imposto pelo regime de ocupação em Gaza, que limita ou proíbe o acesso de alimentos, água e medicamentos”. 

“É necessária uma ação imediata para o fim do genocídio e o acesso de órgãos internacionais para alimentar o povo palestino”, destacam.

De acordo com a Freedom Flotilla Brasil e o Global Movement to Gaza Brasil, a missão tem garantias legais baseadas em medidas provisórias da Corte Internacional de Justiça, que proíbem o bloqueio de entrada de ajuda humanitária à Gaza; resoluções do Conselho de Segurança da ONU, as quais garantem o acesso de ajuda humanitária à Gaza; e leis marítimas internacionais, que proíbem a interceptação de embarcações humanitárias em águas internacionais.

Em junho, uma embarcação da Flotilha da Liberdade que se dirigia a Gaza levando ajuda humanitária foi interceptada por Israel. Doze tripulantes, entre eles o brasileiros Thiago Ávila, foram presos em águas internacionais.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) publicou nota, na ocasião, classificando a interceptação do navio da Flotilha da Liberdade, por Israel, como um crime de guerra e pediu ao governo brasileiro a suspensão das relações diplomáticas e comerciais com Tel Aviv.

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Especialistas rejeitam chamar Venezuela de narcoestado, como diz Trump

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Em meio a acusações dos Estados Unidos de que o governo venezuelano lidera um cartel de drogas para justificar as ameaças militares contra o país sul-americano, especialistas entrevistados pela Agência Brasil contestam classificar a Venezuela como um narcoestado.

Para a consultora sênior da União Europeia para Políticas sobre Drogas na América Latina e Caribe, a advogada Gabriela de Luca, o uso do termo é exagerado e impreciso.

“O que se sabe, com base em investigações sérias, é que existem sim militares e autoridades envolvidos em esquemas de tráfico, principalmente em áreas de fronteira. Mas não há provas de que exista uma estrutura centralizada, comandada pelo governo, que coloque o Estado a serviço do narcotráfico”, disse.

Na semana passada, em visita ao Paraguai, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que o governo da Venezuela “é um grupo que está operando em águas internacionais simplesmente exportando para os EUA veneno, que está matando e destruindo a comunidade”. “O Cartel de los Soles é uma das organizações mais amplas que existem no continente. O regime de Maduro não é um governo, é uma organização criminosa”, acrescentou.

Segundo Gabriela de Luca, é enganoso classificar o grupo Cartel de los Soles, que o governo Donald Trump diz ser chefiado pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, como um cartel de drogas típico, a exemplo dos mexicanos, como o Sinaloa.

“O que há são redes difusas, envolvendo militares e ex-militares, e alguns políticos, que facilitam o tráfico em determinadas regiões. Há provas de conluio entre oficiais venezuelanos e traficantes, como laboratórios interceptados, mas nada que configure necessariamente uma organização única, ou que seja dirigida por Maduro, e sim um sistema de facilitação que varia conforme interesses regionais”, acrescentou Gabriela.

O ex-oficial nacional de Inteligência dos EUA para América Latina, o professor Fulton Armstrong, levantou dúvidas quanto às primeiras denúncias de que Maduro teria relação com o narcotráfico, feitas ainda em 2020.

“A maioria das drogas nunca passou pela Venezuela. O chamado Cartel de los Soles está sendo alardeado nos documentos de indiciamentos [contra o governo Maduro]. Nenhum analista sério que eu conheça fora do governo, eu não sei o que eles estão dizendo dentro do governo agora, mas nenhum observador sério hoje diria que existe tal cartel”, explicou o professor em entrevista à organização Codepink.

O especialista chefiou o gabinete do Centro de Crimes e Narcóticos do governo estadunidense, além de ter participado da Comunidade de Inteligência dos EUA. Atualmente, é professor de estudos latino-americanos na American University, em Washington D.C.

Dona das maiores reservas de petróleo do planeta, a Venezuela mantém com os EUA uma relação de atrito desde a chegada dos chavistas ao poder, há 25 anos.

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As novas ameaças do governo Trump trouxeram tensões para a América Latina devido ao risco de uma intervenção direta de Washington no continente latino-americano, o que não ocorre desde a invasão do Panamá, em 1989.

Na época, os Estados Unidos invadiram o pequeno país centro-americano sob a justificativa de que o presidente-general Manuel Noriega, ex-aliado de Washington, tinha relações com o narcotráfico. A invasão custou a vida de milhares de panamenhos.

Narcoestado

O coronel da reserva da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) Robson Rodrigues, doutor em ciências sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), concorda que o grupo de Los Soles não tem grande protagonismo, ao contrário do que afirmam os EUA.

“As atividades criminosas dessas facções estão superestimadas. Não tenho convicção de sustentar essa hipótese de narcoestado, e que o Maduro facilita facções criminosas. Eu acho que não é por aí”, comentou em entrevista à Agência Brasil.

Para o especialista em segurança pública, enviar navios de guerra e cerca de 4,5 mil militares à costa venezuelana não é uma medida eficiente para combater o narcotráfico.

O coronel Rodrigues diz que, para combater o narcotráfico, teria que ser feito um trabalho de inteligência e de diagnóstico preciso em parceria com os Estados da região, o que não ocorre.

“Eu não vejo, como especialista de segurança pública, uma preocupação dos EUA em realmente resolver esse problema. Se quisesse resolver, a primeira coisa que teria que fazer é deixar de abastecer essas organizações com armas, como faz, direta ou indiretamente. Essas armas que chegam lá, em grande parte, vêm pelas fronteiras dos próprios EUA”, afirmou.

Rodrigues ponderou ainda que o envolvimento de autoridades estatais com o narcotráfico é registrado em diversos países, incluindo os EUA.

“O Departamento de Estado [dos EUA] teve envolvimentos [com o tráfico]. A gente sabe qual é a história da cocaína. A CIA [Agência de Inteligência dos EUA] esteve envolvida inclusive com produção de cocaína”, lembrou.

A relação de forças militares dos EUA com o narcotráfico foi revelada em um novo livro lançado neste mês pelo repórter investigativo e editor da revista Rolling Stone, Seth Harp.

“Harp conta uma história contundente de narcotráfico nas Forças Especiais, conspirações envolvendo drogas apoiadas por policiais corruptos, acobertamentos militares flagrantes, cumplicidade americana no tráfico de heroína no Afeganistão e as consequências perniciosas da guerra contínua”, informa o resumo da obra.

Denúncia dos EUA

A acusação de que a cúpula do Poder na Venezuela estaria envolvida com o narcotráfico na América Latina foi feita, pela primeira vez, no primeiro mandato do presidente Donald Trump, ainda em 2020, no contexto da política de “máxima pressão” para derrubar o governo Maduro.

No ano anterior, em 2019, o então deputado Juan Guaidó se autoproclamou presidente da Venezuela e buscava provocar um racha nas Forças Armadas Bolivarianas para pôr fim ao período chavista que, desde 1999, contraria as políticas da Casa Branca na região.

O então procurador-geral dos EUA William P. Barr disse que “há mais de 20 anos” Maduro e seus assessores “supostamente” conspiraram com as guerrilhas colombianas para comercializar toneladas de cocaína para os EUA, colocando o presidente venezuelano e diversas autoridades do país como lideranças do chamado Cartel de los Soles.

No início deste mês, a atual fiscal geral dos EUA, Pamela Bondi, anunciou o aumento de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões da recompensa por informações que levem à prisão de Maduro. Ela acusa o presidente venezuelano de integrar, inclusive, outras organizações criminosas, como o Tren de Aragua, da Venezuela, e o Cartel de Sinaloa, do México.

Segundo a funcionária do governo Trump, Maduro é um dos maiores narcotraficantes do mundo e uma ameaça à segurança dos EUA.

“Até o momento, o DEA [Departamento de Combate aos Narcóticos dos EUA] apreendeu 30 toneladas de cocaína ligadas a Maduro e seus associados, com quase 7 toneladas ligadas ao próprio Maduro, o que representa uma fonte primária de renda para os cartéis mortais baseados na Venezuela e no México”, disse Pamela Bondi em comunicado.

Porém, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, informou que as autoridades do país não têm evidências que liguem Maduro ao Cartel de Sinaloa.

“Da parte do México, não há nenhuma investigação relacionada a isso. Como sempre dizemos, se eles têm alguma evidência, mostre-a. Nós não temos nenhuma prova”, disse Sheinbaum, segundo noticiou a Reuters.

 

Mercado de drogas

O centro de pesquisa dos Estados Unidos Washinton Office on Latin America (WOLA), que reúne especialistas no continente latino-americano e é crítico do governo Maduro, avaliou, com base em dados do tráfico de drogas de autoridades estadunidenses, que o papel da Venezuela no comércio mundial de drogas é exagerado.

“Não há dúvida de que o crime organizado e a corrupção floresceram em meio à crise da Venezuela. No entanto, a escala do tráfico transnacional de drogas pela Venezuela é frequentemente exagerada, alimentando uma cobertura sensacionalista e imprecisa da mídia”, informou a organização.

Para a WOLA, o exagero do papel da Venezuela no tráfico internacional de drogas é usado por alguns políticos para argumentar contra a possibilidade de uma solução negociada para o conflito venezuelano.

“Os dados do CCDB [Banco de Dados Consolidado Antidrogas Interagências dos EUA] não justificam muitas das alegações feitas por aqueles que defendem a narrativa do ‘narcoestado’ para descrever o crime organizado na Venezuela”, informou em 2020.

A consultora sênior da União Europeia para Políticas sobre Drogas na América Latina e Caribe, Gabriela de Luca, informou à Agência Brasil que a Venezuela não é uma produtora relevante, mas sim uma rota de passagem da droga para os EUA.

“O grosso da cocaína sai da Colômbia. Estimativas sérias falam em algo entre 7% e 13% da cocaína mundial passando por território ou águas venezuelanas. Ou seja: não é irrelevante, mas também não é o grande centro do mercado global”, avalia.

O documento mais recente da Agência das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC), o Relatório de Mundial sobre Drogas de 2025, afirmou que os principais fluxos de tráfico de cocaína continuam sendo dos países andinos, citando diretamente Colômbia, Bolívia e Peru como grandes produtores, sem referências diretas à Venezuela.

O mais recente relatório da União Europeia, de 2025, também não menciona a Venezuela como ator no mercado global, citando, por outro lado, o Equador, Brasil e Colômbia.

“O tráfico de drogas ilícitas é altamente dinâmico e se adapta rapidamente a desenvolvimentos geopolíticos, conflitos regionais e mudanças nas rotas comerciais. Nesse contexto, mudanças na Colômbia, Brasil e Equador contribuíram para o aumento observado no tráfico de cocaína para a União Europeia por grupos do crime organizado”, diz o relatório.

Cooperação e intervenção

Autoridades de países latino-americanos têm criticado as declarações e medidas do governo Donald Trump que indicam possível interferência direta nos territórios da América Latina sob o argumento da “guerra às drogas”.

A presidenta do México, Claudia Sheinbaum, informou que é possível colaborar, mas sem interferência externa. Posição semelhante à da Colômbia e do Brasil.

Em reunião com o presidente do Equador, Daniel Noboa, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o combate às drogas não deve justificar intervenção externa.

“Não é preciso classificar organizações criminosas como terroristas nem violar a soberania alheia para combater o crime organizado. Só conseguiremos deter as redes criminosas que se espalharam pela América do Sul agindo juntos”, disse Lula.

No início do ano, Trump classificou diversas organizações do narcotráfico como terroristas e tem pressionado o Brasil a adotar a mesma postura em relação aos grupos criminosos locais.

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