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Internacional

Brics no Brasil busca consolidar bloco em expansão pós-guerra no Irã

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© Fernando Frazão/Agência Brasil

A guerra de Israel e dos Estados Unidos (EUA) contra o Irã – um dos membros permanentes do Brics – ampliou os desafios do bloco de países que busca se consolidar institucionalmente na Cúpula do Rio de Janeiro (RJ) neste domingo (6) e segunda-feira (7).

Nos últimos dois anos, o Brics cresceu de cinco para 11 integrantes permanentes, além de incluir dez novos membros parceiros. Administrar essa expansão é um dos desafios da presidência do Brasil para consolidar o mecanismo de cooperação multilateral que pretende modificar a atual arquitetura global de poder.    

O contexto não era dos mais tranquilos, mesmo antes do conflito com o Irã, por causa da guerra tarifária do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos (EUA), e suas ameaças contra os países que substituam o dólar nas transações comerciais, sendo essa uma das propostas que ganhou força na Cúpula de Kazan, na Rússia, em 2024.  

Em meio ao cerco econômico e financeiro das potências ocidentais contra Moscou, o país em guerra contra a Ucrânia tem mais pressa para criar alternativa à moeda estadunidense.

Além disso, Inteligência Artificial (IA), mudanças climáticas, Irã, Palestina e debates sobre saúde global, paz e segurança mundiais estão entre os temas em destaque.  

Para especialistas em Brics consultadas pela Agência Brasil, a ambiciosa agenda russa do ano passado foi reduzida no Brasil que, semelhante a outros países do fórum, como Índia, Egito e Emirados Árabes Unidos, evita provocar a principal potência do Norte, avessa a mudanças que fragilizem seu poder global.

A professora de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pesquisadora do Brics Policy Center, Ana Garcia, avalia que o acirramento da polarização internacional reduziu a agenda liderada pela Rússia no ano passado.  

“A Rússia veio muito ambiciosa, ‘com o pé na porta’, com propostas inovadoras. Já o Brasil reduziu a ambição da agenda vinda da Rússia na tentativa de não criar uma situação mais desafiadora com os EUA, com o Trump”, comentou.

Entre as propostas citadas pela especialista, está a criação de uma bolsa de grãos para contribuir com a estabilização do preço internacional dos alimentos. Isso porque hoje esse preço é fixado pela Bolsa de Valores de Chicago, nos EUA. Além disso, a Rússia deu muita ênfase à desdolarização.

Para Ana Garcia, o Brasil focou mais em iniciativas que fortaleçam e facilitem o comércio e os investimentos entre os países membros.

“Isso é positivo porque hoje, tirando a China, que é o maior parceiro comercial de todos os países membros, o comércio intra-Brics ainda é reduzido. Brasil e África do Sul, por exemplo, tem comércio irrisório mesmo após 16 anos da entrada do país africano no grupo”, avalia.

Tensão geopolítica 

A coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC do Rio de Janeiro, professora Maria Elena Rodríguez, destacou que o momento geopolítico é de tensão e, tirando a Rússia e o Irã, os demais países estão mais cautelosos.

“Em termos de participação e propostas, a Cúpula de Kazan foi muito substancial, mas muitas propostas foram reduzindo de lá pra cá. A Rússia teve um ímpeto bastante grande, mas o mundo mudou. Parte daquela agenda ficou um pouco mais devagar. Isso porque os países estão mais cautelosos, incluindo a China”, analisou.

Rodríguez explicou que países como Índia, Brasil, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e África do Sul buscam se equilibrar diante das tensões internacionais.

“Basicamente, estão buscando uma agenda mais neutra, focada no Sul Global, mas não contra o ocidente, evitando esse confronto direto.”

Desdolarização

Talvez a agenda mais espinhosa do bloco seja a de criação de sistemas de pagamento em moedas locais, o que levaria à substituição do dólar, ao menos parcialmente, no comércio entre os países.

A proposta é duramente criticada por Donald Trump que teme perder os benefícios de ter o dólar como moeda internacional.

A professora da UFRRJ Ana Garcia pondera que essa agenda é de longo prazo e países como Brasil, Índia, e mesmo China, têm muitas reservas em dólar e uma mudança imediata poderia provocar impactos indesejados nas economias desses países.

“Deter a moeda internacional – como os EUA faz com o dólar – traz poderes extravagantes, como possibilidade de isolar países por meio de sanções financeiras, e aumentar o endividamento público sem maiores preocupações, mas traz custos também para equilibrar a economia nacional com a global”, argumentou a especialista.

Ana Garcia explicou que a China não tem interesse imediato de arcar com esses custos para não prejudicar a economia. Por isso, avalia que o tema continuará como uma medida em fase de estudo no Brics.

“A China usa os instrumentos bilaterais que ela tem para circular o yuan, mas sem fazer disso uma agenda política. A China é ainda a principal detentora em reservas internacionais em dólar. E ela não quer abrir a economia. Seu fluxo de capitais é controlado para evitar especulação financeira. Com isso, ela não consegue fazer sua moeda circular livremente para ser descontada por todos, como é o caso do dólar”, explicou.

A professora da PUC do Rio Maria Elena Rodriguez concorda que essa é uma agenda de longo prazo, mas avalia que é possível que a Cúpula do Rio entregue algum avanço em relação ao uso de moedas locais, especialmente na padronização técnica de como o sistema deve funcionar.

“Talvez alguma medida para ajustar as regulamentações de todos os países, alinhar questões tributárias, para permitir um avanço futuro. Mas não vai ser muito mais do que isso”, ponderou.

Institucionalização do Brics

Um possível avanço mais concreto da Cúpula sob a presidência brasileira é em relação a acordos para disciplinar a tomada de decisões em um Brics ampliado. Atualmente, não há regras definidas para o funcionamento do fórum.

A especialista em Brics Maria Elena Rodríguez avalia que é preciso concretizar o que significa o agrupamento, tendo cuidado para amarrar essas regras sem deixar o grupo muito rígido.   

“Minimamente, tem que ter alguns elementos que ajudem a definir como será uma nova ampliação do bloco, ou para melhorar a performance do grupo. O Brasil está apostando bastante nessa agenda para entregar um Brics mais formalizado”, finalizou.

A professora de relações internacionais da Federal Rural do RJ, Ana Garcia, lembrou que o Brics ainda não tem nenhum documento formal estabelecendo os procedimentos de tomada de decisão.

“É preciso decidir se as decisões vão continuar sendo por consenso, ou não. Quais critérios objetivos apara adesão de novos membros? Se essa agenda avançar, vai ser um ganho para o bloco, para o grupo”, concluiu.

Brics

O Brics é um bloco que reúne representantes de 11 países membros permanentes: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

Também participam os países parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia, Nigéria, Vietnã e Uzbequistão.

Os 11 países representam 39% da economia mundial, 48,5% da população do planeta e 23% do comércio global. Em 2024, países do Brics receberam 36% de tudo que foi exportado pelo Brasil, enquanto nós compramos desses países 34% do total do que importamos.

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Internacional

Brasil disponibiliza visto eletrônico para participantes da COP30

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© Fernando Frazão/Agência Brasil

O Brasil vai conceder vistos eletrônicos especiais para os estrangeiros que participarão da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). As regras para concessão do documento foram publicadas nesta segunda-feira (14). 

A emissão será de graça e permite mais de uma entrada no Brasil até o final do ano, com prazo de permanência de 90 dias, sem possibilidade de prorrogação.

O visto especial é para as pessoas dos países membros da Convenção do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) e apátridas, desde que credenciadas no evento. Familiares, acompanhantes e menores de 18 anos de idade não estão incluídos. O Itamaraty disponibilizou uma plataforma eletrônica para receber os pedidos.

De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), são esperados mais de 40 mil visitantes durante a conferência, sendo 7 mil das equipes da ONU e delegações dos países. Diante desse número, os voos serão ampliados, com novas rotas e uma frequência maior de conexões, especialmente na Região Norte.

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Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a expectativa é de 46 mil passagens a mais, totalizando quase 250 mil, um aumento de 23% de viagens domésticas em relação a novembro do ano passado. O aumento de voos internacionais será ainda maior, 44%.

Os visitantes estrangeiros também vêm pelo mar. O Terminal Portuário de Outeiro, em Belém, está sendo requalificado para receber dois navios de cruzeiro, com 6 mil leitos, que vão funcionar como hotéis flutuantes durante a COP30. A construção do novo píer de mais de 700 metros será concluída na metade de outubro, um mês antes da abertura oficial. A ideia é que o novo terminal receba rotas regulares de turismo depois da conferência.

A COP30 acontecerá em Belém, no Pará, entre os dias 6 a 21 de novembro.

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Internacional

Lula: governo tem apoio do povo para enfrentar sanção de Trump

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© Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou, nesta sexta-feira (11), que o governo tem apoio do povo brasileiro para enfrentar as sanções econômicas do governo dos Estados Unidos (EUA) e que o Brasil não pode “baixar a cabeça” para as chantagens e ameaças de Donald Trump.

“Esse país não baixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata. Ninguém. E eu acho que, nesse aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação”, disse o presidente, durante cerimônia, em Linhares, no Espírito Santo (ES), de lançamento de indenização a atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais (MG).

Diversos setores da sociedade brasileira têm criticado a medida do governo Trump de taxar todos os produtos brasileiros em 50%, incluindo organizações empresariais, de trabalhadores, meios de comunicação, do Parlamento e dos movimentos sociais.

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Lula voltou a defender o uso da Lei de Reciprocidade para responder as taxações de Trump caso as negociações com Washington não surtam efeito. Trump alega falsamente que os EUA têm déficit comercial com o Brasil, o que é desmentido pelas próprias estatísticas dos EUA.

“Entre comércio e serviço, nós temos um déficit de US$ 410 bilhões com os EUA [em 10 anos]. Eu que deveria taxar ele”, disse Lula, acrescentando que Trump está “mal informado”.

>> Entenda a guerra de tarifas de Trump e consequências para Brasil

Bolsonaro

O presidente Lula ainda fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que vem sendo investigado pelo Ministério Público (MP) por supostamente articular sanções contra o Brasil para escapar do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado. Já Trump alega que ele é vítima de perseguição política e associa as tarifas contra o Brasil ao julgamento do político do PL.

“Que tipo de homem que é esse que não tem vergonha para enfrentar o processo de cabeça erguida e provar que foi inocente? Quem está denunciando ele não é ninguém do PT, quem está denunciando ele são os generais e o ajudante de ordens dele, que era coronel do Exército”, disse Lula.

O presidente ainda questionou a ação da família Bolsonaro contra o julgamento da trama golpista. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se licenciou do cargo de parlamentar e foi para os EUA, onde pede ações do governo Trump contra o Brasil.

“O ‘coisa’ [Bolsonaro] mandou o filho, que era deputado, se afastar da Câmara para ir lá, ficar pedindo, ‘Ô Trump, pelo amor de Deus, Trump, salva meu pai, não deixa meu pai ser preso’. É preciso que essa gente crie vergonha na cara”, disse Lula, ainda na cerimônia, em Linhares (ES).

Bolsonaro é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar uma tentativa de golpe de Estado para anular as eleições presidenciais de 2022 com objetivo de se manter no poder. Ele teria pressionado os comandantes militares para aderir ao golpe, com planos de assassinatos do presidente Lula, do vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moras.

Nas redes sociais, Bolsonaro elogiou Trump, disse que a tarifa é resultado do afastamento do Brasil “dos seus compromissos históricos com a liberdade” e pediu “aos Poderes que ajam com urgência apresentando medidas” para resgatar a “normalidade institucional”. Bolsonaro e seus aliados negam os crimes imputados de tentativa de golpe de Estado.

Para analistas consultados pela Agência Brasil, a sanção de Trump contra o país é chantagem política mirando o Brics, a regulação das big techs e uma tentativa de interferir no processo judicial e político interno.  

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Trump diz que deve falar com Lula, mas “não agora”

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© REUTERS/Kevin Lamarque/Proibida reprodução

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (11) que pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre e medida que taxou em 50% as exportações brasileiras. Contudo, Trump afirmou que a conversa não ocorrerá agora.

Durante visita aos afetados pelas enchentes no estado norte-americano do Texas, Trump foi perguntado se pretende conversar com Lula. 

“Talvez, em algum momento, eu possa falar com ele [Lula], mas não agora”, respondeu.

Trump também voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Ele é um homem honesto, que ama o seu povo e é um negociador muito forte”, completou.

Na quarta-feira (9), Trump enviou uma carta ao presidente Lula e anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país norte-americano. As tarifas passam a valer a partir do dia 1º de agosto.

No documento, Trump justifica a medida citando o ex-presidente Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Ele também destacou ordens do STF emitidas contra apoiadores do ex-presidente brasileiro que mantêm residência nos Estados Unidos.

Em reação ao tarifaço, Lula declarou que o Brasil é um país soberano com instituições independentes e que não aceitará ser tutelado por ninguém. O governo brasileiro também deve recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).

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