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Caminhos da Reportagem analisa ação policial mais letal do país
O episódio desta segunda-feira (17) do premiado programa Caminhos da Reportagem aborda a Operação Contenção, ação policial que entrou para a história como a mais letal do Brasil.

A produção da TV Brasil vai ao ar às 23h e analisa os impactos da operação realizada em 28 de outubro de 2025, quando 2.500 policiais ingressaram nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, para cumprir mandados de prisão contra suspeitos ligados ao Comando Vermelho. A ação resultou em 121 mortes, incluindo quatro agentes de segurança.
O programa traz uma reflexão sobre a política de enfrentamento que vem sendo adotada há mais de quatro décadas pelas autoridades de segurança fluminense. A reportagem resgata os relatos de familiares de vítimas.
Débora Velloso, mãe do policial civil Rodrigo Velloso, descreve a devastação ao perder o filho. Tauã Brito, mãe de Wellington Brito, jovem de 20 anos morto durante a incursão, relata o desespero ao tentar alcançá-lo para que pudesse se entregar.
A edição também apresenta a visão das autoridades.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, classificou a operação como histórica.
“Foi um dia histórico para o Rio de Janeiro. A maior operação da história das polícias aqui. Foi uma operação de cumprimento de mandado judicial, de mais de um ano de investigação, mais de 60 dias de planejamento. Temos muita tranquilidade de defendermos tudo o que foi feito ontem”, disse o governador, no dia seguinte à operação.
Especialistas em segurança pública, ouvidos pelo Caminhos da Reportagem, analisam criticamente a eficácia desse modelo de confronto direto adotado pelo estado carioca. A coordenadora do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Grillo, explica por que ações dessa natureza não conseguem desarticular as facções criminosas.
“Essa operação em nada vai afetar o Comando Vermelho enquanto organização. Essas operações de incursão armada em territórios de favela são o principal método de combate ao crime no Rio de Janeiro há quase quatro décadas e elas já se mostraram ineficientes no combate ao controle territorial armado e aos mercados ilegais que operam nesses territórios”, afirma Carolina Grillo.
O pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a repetição dessas operações violentas contribui para a criação de um ambiente de guerra.
“Esse tipo de ação violenta produz respostas violentas e um mercado de guerra. Muita gente começou a ganhar dinheiro em torno disso. Em vez de produzir ordem, tem produzido desordem e contribuído para aumentar o caos das cidades”, conclui.
A solução, na visão de pesquisadores da área de segurança pública, passa pelo combate à corrupção, melhorias no sistema penitenciário e desarticulação do lado financeiro das organizações criminosas. Além disso, para eles, são necessárias políticas públicas para mudar a realidade social das favelas. “[É preciso] um investimento social para oferecer alternativas de vida para molecada que é seduzida pelo tráfico. Você tem que ter arte, cultura, esporte, uma série de atividades para que ela se sinta sonhando em participar do futuro numa sociedade que oferece oportunidades”, destaca Manso.
Ficha técnica
Reportagem: Ana Passos
Apoio à reportagem: Ana Graziela Aguiar, Thiago Padovan
Produção: Ana Graziela Aguiar, Thiago Padovan, Vitor Abdala, Vitor Gagliardo
Apoio à produção: Acácio Barros
Reportagem cinematográfica: Alexandre Nascimento, Sandro Tebaldi, Eusébio Gomes
Auxílio técnico: Adaroan Barros, Caio Araujo, Eduardo Domingues, Yuri Freire
Edição de texto: Ana Passos
Edição de imagem e finalização: Ubirajara Abreu
Arte: Aleixo Leite, Caroline Ramos, Wagner Maia
Pesquisa no acervo da EBC: Artur dos Santos, Fabio Araujo Jorge, Mariana Nazareth, Nelson Lin, Pedro Modesto, Thiago Guimarães
Sonorização: Maurício Azevedo
Intérprete de Libras: Mateus Delmar
Agradecimentos: Band TV Rio, Luiza Arruda, Rede TV!, Voz das Comunidades
Serviço
Caminhos da Reportagem – Operação Contenção, a maior chacina do brasil –Segunda-feira (17), às 23 horas, na TV Brasil
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Lula assina 28 decretos para regularizar territórios de quilombolas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou 28 decretos para regularização de territórios quilombolas localizados em 14 estados. O ato de assinatura foi realizado no Palácio da Alvorada, em Brasília, e marca o Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20).

Os decretos declaram que são de interesse social os imóveis rurais localizados em territórios quilombolas.
A medida vai permitir desapropriação das propriedades pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o pagamento de indenizações aos proprietários. Após essas etapas, os quilombolas vão receber a titulação de posse definitiva das áreas.
Em uma publicação nas redes sociais, o presidente disse que o país está ampliando as políticas públicas que chegam aos territórios e às comunidades quilombolas.
“Hoje, dia 20 de novembro, o Brasil reafirma que a igualdade racial é memória, reparação e um projeto de futuro. Essa data, marcada pela luta de Zumbi dos Palmares e pela resistência do povo negro, lembra que democracia forte se constrói com direitos garantidos e oportunidades reais para todas e todos”, escreveu.
A ministra Igualdade Racial, Anielle Franco, disse que os decretos vão beneficiar 5,2 mil famílias e 31 comunidades. Segundo a ministra, Lula já assinou 60 decretos no atual mandato.
“Esses decretos são o passo anterior à titulação. Hoje, a gente tem um recorde de decretos assinados. O último número que nós tínhamos, de 50, foi no mandato da presidenta Dilma. E hoje, o presidente Lula se torna o presidente que mais assinou decretos na história do país”, afirmou a ministra.
Decretos
Os decretos serão aplicados em propriedades rurais de 14 estados: Bahia (6); Ceará (3); Sergipe (3); Goiás (2); Rio Grande do Sul (2); Maranhão (1); Paraíba (1); Rio de Janeiro (1); Santa Catarina (1); São Paulo (1); Mato Grosso do Sul (1) e Alagoas (1).
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Mulheres negras LBTI se mobilizam por direitos no 20 de novembro
Mulheres Negras Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Intersexo (LBTI) reunidas em Brasília aproveitaram o feriado da Consciência Negra para finalizar um diagnóstico para apontar as necessidades, problemas e falhas das políticas públicas brasileiras voltadas a estes grupos.

Coordenadora do Comitê Nacional LBTI, a psicóloga Amanda Santos é uma das organizadoras do encontro que culminará, dia 25, na Marcha de Mulheres Negras. Segundo ela, a ideia do documento é viabilizar “uma série de ações visando o bem estar das mulheres negras”.
Amanda Santos explica que, a exemplo do grupo do Centro-Oeste, reunido nesta quinta-feira (20) em Brasília, há várias outras rodas de conversas sendo estabelecidas com o mesmo objetivo em outras cidades.
Diagnóstico
“Trata-se de um relatório nacional com eixos básicos de sobrevivência em áreas como saúde, segurança, comunicação, direito familiar, arte, cultura, moradia”, justifica a coordenadora.
Ela explica que conceitos distorcidos que desconsideram a diversidade da sociedade acabaram por estabelecer regras e até mesmo legislações que dificultam a esse grupo o acesso a direitos historicamente reconhecidos e concedidos a outros grupos.
Esse processo excludente que retira acesso a direitos básicos nada mais é, segundo ela, do que LGBTfobia.
Os exemplos são muitos, segundo a ativista. “Há situações de casais homoafetivos em que uma das parceiras não poderá tomar decisões sobre procedimentos, caso a outra fique doente e perca a consciência. Nesses casos, caberá à família tomar a decisão”, disse ela ao lembrar que, em muitos casos, a conexão com a família não é tão próxima quanto a da cônjuge.
Diversidade
Ela cita também alguns programas de habitação do governo que não consideram os mesmos direitos dos casais héteros para os homoafetivos.
“Na área da saúde, muitos órgãos públicos e privados colocam dificuldades para reconhecer nome social adotado pela pessoa. É preciso criminalizar essa recusa”, defendeu a coordenadora.
Segundo ela, o governo precisa reparar essas situações e enxergar a diversidade do próprio país. “E a sociedade precisa enxergar os direitos que nos foram excluídos”, complementou.
Reparação
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Pesquisadora aposentada do IBGE e referência do movimento lésbico e LGBT, Heliana Hemetério. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.
A reunião de hoje contou com a participação de uma referência do movimento lésbico e LGBT: a fundadora da Rede Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais Negras, Heliana Hemetério.
Pesquisadora aposentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), Heliana diz que tornar o 20 de Novembro um feriado nacional foi importante por reconhecer aqueles que representam a maior parte da população brasileira.
“[O feriado nacional] reconhece a existência de 54% da população brasileira que se declara negra. Estas são pessoas que se declaram como tal, o que nos leva a crer que o percentual real é ainda maior”, argumentou.
Heliana explica que a data ajudará na reparação de injustiças que são históricas. “O que é reparação? É reconhecimento do negro como cidadão, com moradia, educação, estudo, lazer, direitos, saúde”, disse. Para ela, a data ajuda a “recontar a História, mas sob um outro olhar”.
Para ela, que é também historiadora, o que levou o Brasil a abolir a escravidão não foi o desejo de melhorar a vida de sua população negra.
“A verdadeira motivação foi econômica”, afirmou ao explicar que, na época, havia muita pressão externa e mudanças das estruturas sociais motivadas pela Revolução Industrial.
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Consciência Negra: ato na Avenida Paulista reúne militância e cultura
Centenas de pessoas participaram, na manhã desta quinta-feira (20), na região central de São Paulo, da 22ª edição da Marcha da Consciência Negra – Zumbi e Dandara 300+ 30. 

O ato organizado pelo Movimento Negro Unificado (MNU) e pela União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) reuniu centenas de pessoas na Avenida Paulista para lembrar a importância de Palmares e seus líderes e a “representação dos negros nas instituições com poder de decisão na sociedade”.
A manifestação teve de dança e música de religiosidade afro-brasileira, com shows curtos de estilos musicais diversos, incluindo ritmos como reggae, MPB e Black Music. Entre as apresentações, ocorreram discursos curtos e objetivos, focados na importância da mobilização em torno de pautas comuns.
O professor Ailton Santos, um dos organizadores do evento, afirmou à Agência Brasil, que o momento é “justamente de fazer com que a sociedade brasileira, que se diz democrática, de fato faça incluir aqueles que, há muitos anos, historicamente continuam à margem da sociedade.
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XXII Marcha da Consciência Negra na avenida Paulista. Foto – Rovena Rosa/Agência Brasil
“Diariamente, o povo negro sofre em função de várias violências. Normalmente falamos da morte matada, mas esse é o último estágio, porque até ela chegar, passamos diariamente por outras, que envolvem mobilidade, segurança, saúde e educação.”
Para o professor, é necessário que o governo reconheça que uma população, historicamente, está sendo colocada de lado.
“Então, a nossa bandeira é não morremos, e fazer com que o projeto que envolve a reparação, que hoje está na casa dos 20 milhões, seja aprovado para todos os negros e negras do Brasil”, concluiu.
Cuidado, não corre na rua
Ana Paula Félix, 56 anos, é copeira e acompanhou a marcha na tarde desta quinta-feira. Ela considera que é importante apoiar as manifestações, apoiar aqueles que sofrem preconceito e desvalorização por causa da cor. Com três filhos criados, de idades entre 34 e 30 anos, ela se diz orgulhosa por todos terem cursado universidades públicas, o que foi possível por meio de políticas de apoio. Mas ela ainda reclama que outras situações, “que ainda não melhoraram”.
“Você sabe que periferia ainda é o pior lugar para os negros morarem, porque é o lugar que a polícia não respeita. E nossos filhos é que pagam esse preço. Então a gente tem que estar sempre falando aos nossos filhos: – Cuidado, não corre na rua, anda sempre com documento, põe sempre a camisa, esteja sempre com o cabelo cortado, barba feita. Porque são os negros que mais morrem.”
Pautas e reivindicações
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O grupo seguiu em caminhada até o Masp – Museu de Arte de São Paulo – onde foram sugeridas pautas, reivindicações e a possibilidade de participação em movimentos. Giovana Santos, 31 anos, que estava passando pela via, parou para escutar e acompanhar os temas. “É importante acompanhar as políticas públicas que estão realmente ativas, sabe? Eu acho interessante, eu gosto de me informar”, disse a jovem, que trabalha como atendente de telemarketing. Para ela, a violência, inclusive policial, é um dos pontos para o qual tem mais atenção.
“Temos visto a polícia, que deveria sempre nos proteger, nos atacar. É muito importante a população saber disso, e é muito bom saber que os movimentos tem se organizado para reivindicar, embora aninda pareça um sonho, a gente sentar e conversar e tentar se entender”, afirmou.



