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Eficiência de operações policiais no Rio é de apenas 1,4%, diz estudo

A eficiência das operações policiais na região metropolitana fluminense, nos últimos anos, foi de apenas 1,4%. Mesmo considerando aquelas que foram razoavelmente positivas, a taxa de eficiência das mais de 22 mil ações da polícia não chega a 16%. As constatações são de levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Os pesquisadores analisaram as operações policiais com base em três critérios, aos quais foram atribuídas notas: se houve presos ou vítimas (feridos ou mortos); se houve apreensão de armas e drogas ou recuperação de bens; e quais foram as motivações (mandado de busca e apreensão, repressão ao tráfico, disputa de grupos criminais, fuga/perseguição, operações patrimoniais, retaliação por morte/ataque, outros e sem informação).
As operações mais bem avaliadas foram aquelas com nenhum morto ou ferido, mas que resultaram em prisões e apreensões e que tiveram como motivação o cumprimento de mandados judiciais ou o atendimento a demandas urgentes da população.
As notas podem variar de -12 (menos 12) a +15 (mais 15). Fatores como não causar nenhuma morte resultam em nota positiva de 4 pontos, por exemplo, já as ações com três mortes ou mais resultam em perda de 5 pontos.
São eficientes apenas aquelas operações com notas 14 ou 15 e razoavelmente eficientes aquelas com resultado entre 11 e 13,5. As pouco eficientes são aquelas entre 7 e 10,5 pontos e as ineficientes, entre 1 e 6,5.
Aquelas com 0,5 ponto ou menos são classificadas como desastrosas. Das 22 mil operações analisadas, 8,9% foram consideradas desastrosas, 30% ineficientes e 45,3% pouco eficientes.
Em 2021, a pesquisa havia constatado que a eficiência era de 1,7% e as razoavelmente eficientes, 13,4%, enquanto as operações desastrosas eram 12,5%.
“Me parece que esse é um grande indicador da disfuncionalidade da segurança pública no Rio de Janeiro. É evidente que as operações policiais são instrumentos necessários, dado o cenário conflagrado da cidade. Mas essas operações se rotinizaram e acabaram se transformando nos elementos únicos da ação pública nessa área”, afirma o pesquisador Daniel Hirata. “E não tivemos um sistema de controle que pudesse pensar em maior eficiência dessas ações”.
Nessa quinta-feira (25), uma operação policial no complexo de favelas de Israel, na zona norte da cidade, para reprimir os roubos de veículos e de cargas na região, teve que ser suspenso depois de algumas horas, depois que seis civis foram baleados, dos quais três acabaram morrendo.
A operação causou vários transtornos às redes públicas de saúde e educação e também ao trânsito na Avenida Brasil, uma das principais vias da cidade, e ao transporte público na área. Segundo a Polícia Militar, apenas uma pessoa foi presa e duas granadas foram apreendidas.
Nesta sexta-feira, o governo do Rio de Janeiro decidiu reforçar o policiamento na Avenida Brasil e nas principais vias de acesso. De acordo com nota divulgada pelo governo, os batalhões operacionais da Polícia Militar atuam com adicional de viaturas, motopatrulhas e helicópteros para manter a segurança de quem trafega e mora no entorno da principal via expressa do Rio.
A decisão de intensificar o policiamento da área foi tomada pelo governador Cláudio Castro depois de uma reunião com a cúpula da segurança pública na tarde de ontem.
Fonte: Agência Brasil
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Brasil: venezuelanas têm dificuldade de integração socioeconômica

Ações de acolhimento e integração da população venezuelana no Brasil necessitam, de forma urgente, de maior articulação com outras políticas públicas, incluindo saúde, moradia, educação e trabalho, em nível nacional e local, com foco especial na igualdade de gênero. É o que aponta pesquisa conduzida pela Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pela ONU Mulheres, com o apoio do governo de Luxemburgo.
Desde abril de 2018, mais de 150 mil venezuelanos interiorizados de forma voluntária em Boa Vista foram realocados para mais de 1,1 mil cidades brasileiras. O estudo cita avanços na integração, incluindo aumento de 12% no rendimento médio mensal individual e de 8% no rendimento domiciliar per capita. As entidades alertam, entretanto, que persistem desigualdades entre homens e mulheres na inserção laboral e no acesso a serviços essenciais, sobretudo entre mulheres e famílias monoparentais.
Os dados mostram, por exemplo, que homens venezuelanos sem filhos e com maior nível educacional têm mais chances de conseguirem oportunidades para interiorização voluntária de Roraima para outros estados. Já mulheres venezuelanas, segundo a pesquisa, enfrentam mais vulnerabilidades e respondem pela maioria entre chefes de famílias monoparentais, além de apresentam maiores taxas de desemprego e informalidade.
Ao tratar de avanços no mercado de trabalho, o estudo destaca que houve redução no tempo médio sem trabalho, de 6,7 para 4,7 meses, com destaque para uma melhora da inserção laboral das mulheres ao longo do tempo – ainda aquém quando comparado ao tempo médio dos homens. No quesito educação e língua, crianças e adolescentes abrigados ainda enfrentam mais dificuldades de acesso à escola. “A compreensão do idioma português melhorou, especialmente entre mulheres”, cita a pesquisa.
Dados sobre saúde reprodutiva indicam que o uso de métodos contraceptivos entre venezuelanos interiorizados no Brasil cresceu, mas persistem barreiras tanto no acesso como no pré-natal, além de problemas na prevenção do câncer entre mulheres abrigadas. Já sobre insegurança alimentar e discriminação, a pesquisa alerta que ambos os temas registraram aumento entre mulheres venezuelanas abrigadas e entre pessoas interiorizadas de modo geral.
Entenda
Iniciada em 2021, a pesquisa foi feita em três fases de coleta de dados quantitativos: a primeira, entre maio e julho de 2021; a segunda, entre os meses de outubro e novembro de 2021; e a terceira, entre agosto e novembro de 2023. Para fins de comparação, foram entrevistadas pessoas de origem venezuelana interiorizadas e pessoas residentes em abrigos em Boa Vista.
Os estudos foram executados pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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Carta do Brics tem capítulo contra todas as formas de discriminação

A Carta do Rio de Janeiro, declaração final dos líderes que participam da reunião de cúpula do Brics, que acontece neste domingo (6) e na segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, traz um capítulo específico que manifesta compromisso contra “todas as formas de discriminação”.
“Reafirmamos a necessidade de todos os países cooperarem na promoção e proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais sob os princípios da igualdade e do respeito mútuo e de combaterem a todas as formas de discriminação”, afirma trecho do parágrafo que trata de parcerias e promoção do desenvolvimento humano, social e cultural.
O Brics é um grupo formado por 11 países-membros e dez parceiros, que se identificam como Sul Global, nações em desenvolvimento e desafios sociais similares. A reunião de líderes acontece no Museu de Arte Moderna do Rio, uma vez que o Brasil ocupa a presidência rotativa anual do grupo.
Além do combate a todas as formas de discriminação, os países do bloco se comprometem a fortalecer a cooperação em questões populacionais para o desenvolvimento socioeconômico, particularmente no que diz respeito aos direitos e benefícios de mulheres e pessoas com deficiência, ao desenvolvimento da juventude, ao emprego e futuro do trabalho, à urbanização, à migração e ao envelhecimento.
Direitos humanos
O trecho da declaração também faz citação direta aos direitos humanos e à democracia.
“Necessidade de promover, proteger e cumprir os direitos humanos de forma não seletiva, não politizada e construtiva, sem padrões duplos, por meio do diálogo e da cooperação construtivos. Apelamos ao respeito à democracia e aos direitos humanos. Nesse sentido, destacamos que eles devem ser implementados tanto no nível da governança global quanto no nível nacional”, afirma o documento diplomático.
A Carta do Rio de Janeiro aponta entre os elementos a serem combatidos o racismo, xenofobia (aversão a estrangeiros) e intolerância religiosa.
“Reiteramos a necessidade de intensificar a luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e intolerâncias correlatas, bem como contra a discriminação com base na religião, fé ou crença, e todas as suas formas contemporâneas ao redor do mundo”.
Os líderes advertiram ainda sobre “tendências alarmantes de discurso de ódio, desinformação e informação enganosa crescentes”.
Os representantes dos países saudaram uma decisão da União Africana (organismo composto pelos 55 países do continente), que designou 2025 como ano de reparação para africanos e os afrodescendentes. “Reconhecemos os esforços da União Africana para combater o legado destrutivo do colonialismo e do tráfico de escravizados”.
Em vários momentos, o documento defende a importância do empoderamento das mulheres e de garantir participação delas plena, igualitária e significativa em todas as esferas da sociedade”.
Os países citaram discussões promovidas sob a presidência brasileira relacionadas aos impactos da misoginia e da desinformação online sobre as mulheres.
Cultura e IA
O grupo de países encoraja os membros a formularem programas para apoiar e fomentar as economias culturais e criativas dos países, “reconhecendo o crescente peso econômico e a contribuição dos setores culturais e criativos para a economia em geral”.
Em referência ao passado colonial, o capítulo ainda ressalta a “importância do retorno de bens e patrimônios culturais aos seus países de origem”. O Brics defende que as relações internacionais sejam em bases não hierárquicas.
Os países reconhecem que a Inteligência Artificial (IA) “está transformando as relações de trabalho, criando oportunidades de emprego, “mas também apresentando desafios, como o deslocamento de empregos e o aumento da desigualdade”.
Dessa forma, o Brics se compromete com políticas inclusivas que utilizem a tecnologia de forma responsável para garantir a IA para o bem e para todos, “levando em consideração as políticas nacionais, as regulamentações e os acordos internacionais aplicáveis”.
A quatro meses da COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que será realizada em novembro, em Belém (PA), o Brics reafirmou compromisso com o aumento do financiamento e com o fortalecimento da governança, da solidariedade e da resiliência na redução do risco de desastres, “incluindo aqueles relacionados à mudança do clima, especialmente para o Sul Global”.
Brics
O Brics é formado por 11 países-membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia. Essas nações representam 39% da economia mundial e 48,5% da população do planeta.
Os países que têm status de parceiros são Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã. Os parceiros não têm poder de voto.
Os países-membros se alternam ano a ano na presidência. O Brasil será sucedido pela Índia em 2026.
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‘Sociedade lucra sonegando direitos às domésticas’, critica sindicato

Aprovada há dez anos, a Lei das Domésticas, como ficou conhecida a Lei Complementar 150, é considerada um marco por regulamentar direitos dos trabalhadores domésticos conquistados a partir da Emenda Constitucional 72, a PEC das Domésticas. Passado esse tempo, a categoria, formada por uma maioria de mulheres negras, ainda enfrenta barreiras para ter a carteira de trabalho assinada e os novos direitos. Outro desafio é inclusão das diaristas, deixadas de fora da lei.
Na avaliação da presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município do Rio de Janeiro, Maria Izabel Monteiro, a LC 150 introduziu direitos importantes, como a jornada máxima de 44 horas semanais, o pagamento de horas extras, adicional noturno e a obrigatoriedade do pagamento do FGTS. Porém, a sociedade, como um todo, se beneficia da economia do trabalho doméstico, que libera tempo para outros profissionais, mas sonega encargos e ignora direitos da categoria.
“A sonegação vem porque a própria sociedade vê um valor social menor neste trabalho e ignora os direitos das domésticas” afirmou a dirigente. “A classe média alta não considera o trabalho doméstico como profissão, mas não abre mão de ter uma trabalhadora em casa. Quem é empregador – e tem direitos trabalhistas – precisa saber que aquela pessoa que cuida do seu bem maior, da sua casa, de seus filhos, de seu pai, mãe, avô, avó, não é da família e tem direitos”, completou Maria Izabel. Ela defende mais fiscalização, com blitzes em condomínios, por exemplo.
O Brasil tinha 5,9 milhões de trabalhadores domésticos em 2022, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cerca de 91% são mulheres, e sete em dez são negras. A metade dos trabalhadores domésticos (52,9%) é chefe de família, e só dois em dez possuíam carteira assinada.
“Falhas na lei”
Apesar dos benefícios trazidos pela Lei Completar 150, a coordenadora-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza Maria Oliveira, cobra também o reconhecimento das diaristas como domésticas, e a correção do que ela chamada de “falhas” na lei. As domésticas foram excluídas do abono salarial (PIS), pago aos trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, e só têm direito a três parcelas de auxílio-desemprego, com teto de R$ 1.518 (um salário mínimo). Os demais trabalhadores formais recebem cinco parcelas, de até R$ 2.424,11.
“Essa questão do seguro-desemprego é difícil porque, quando a gente é mandada embora, ganha menos, e há uma série de regras novas que dificultam o resgate, se você ficou menos de um ano em uma casa, por exemplo”, disse Maria*, que hoje é babá e trabalha desde os 10 anos de idade em casa de família. Ela reconhece avanços, mas cobra a igualdade. “A única coisa que a gente ainda não tem é o PIS, mas assinar a carteira foi bom. Quando eu comecei, em Guarabira, no interior da Paraíba, a gente não ganhava R$ 100 por semana. Até hoje, o pessoal lá não paga um salário”, contou.
A pedido da categoria, a equiparação dos direitos das domésticas e inclusão das diaristas na LC 150 está em discussão no governo federal. De acordo com a subsecretaria de Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Paula Montagner, a medida é complexa e exige discussão com a sociedade. “Qualquer medida ou legislação apresentada pelo Executivo demanda ir ao Congresso [Nacional] e ser capaz de convencer o legislador nessa direção”. Porém, Paula reconheceu que o ministério precisa “facilitar o recolhimento patronal combinado”.
Em 2015, a lei complementar garantiu aos domésticos também a indenização por demissão sem justa causa, o pagamento de horas extras, folga semanal remunerada e o direito a intervalo para repouso ou alimentação de uma hora, no mínimo, por dia, admitindo-se a redução para 30 minutos por meio de acordo. Para assegurar o registro, a trabalhadora precisa ser inscrita pelo patrão no Sistema E-social.
Os direitos conquistados são uma forma de reconhecer a importância da profissão, na opinião de Tâmara*, que é empregada doméstica registrada. Porém, mais medidas de valorização são necessárias.
“A gente dá nosso tempo, amor, carinho, a gente se dedica às crianças, aos idosos, é um trabalho cansativo, que libera tempo para os outros moradores, mas que não é respeitado, muitas vezes, somos maltratadas pelos patrões”, reclamou. Ela se refere a violências, como o assédio moral e sexual.
Tâmara é mãe solo de duas crianças e complementa a renda como folguista aos finais de semana e no contraturno. Segundo a PNAD, em 2022, quatro em dez domésticas eram pobres (26,2%), com renda de até meio salário mínimo, ou extremamente pobre (13,4), com renda menor que um quarto de salário mínimo. Mulher negra, pobre, chefe de família e com baixa escolaridade, Tâmara tem o perfil da trabalhadora doméstica no país.
Na avaliação de Anazir Maria de Oliveira, assistente social e pioneira na luta das domésticas, a desvalorização da categoria tem raízes na escravidão. O fim do regime não garantiu empregos assalariados a pessoas negras, e a relação com as domésticas espelhou a casa grande, com formas de assédio, violência e maus tratos.
Creuza Oliveira, da Fenatrad, concorda que a resistência ao pagamento das domésticas está enraizada no passado, o que explica a rejeição à formalização.
“[Patrões] Passaram décadas e décadas sem pagar nada, tendo os serviços dessas mulheres em suas casas, em suas fazendas e em seus apartamentos, sem pagar nada”. Além disso, por ser feito por mulheres, nunca foi valorizado, refletiu Creuza.
Trabalho doméstico escravo
Autora da PEC das Domésticas, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que também atuou pela LC 150, vê ainda outra barreira para enfrentar a exclusão histórica das domésticas: o trabalho doméstico escravo.
“Nós temos tido avanços, mas ainda não concluímos a tarefa de ter as trabalhadoras domésticas com seus direitos conquistados cumpridos pelos seus empregadores”, afirmou a deputada à Agência Câmara.
Para melhorar a fiscalização, a subsecretaria Paula Montagner, do MTE, informou que é necessário construir “um percurso legal”, que está em discussão na área de inspeção, e envolve outras áreas, como as polícias, a assistência social e o Judiciário.
Para denunciar trabalho escravo doméstico, ligue para o Disque 100, registre a queixa sistema Ipê do MTE ou no site do Ministério Público do Trabalho (MPT).
*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.