Internacional
EUA querem excluir Irã da rota comercial Rússia-China, diz analista

A entrada direta dos Estados Unidos (EUA) no conflito entre Israel e Irã é parte do esforço de Washington para retirar o país persa da rota econômica construída pela China e pela Rússia na região da Eurásia, que é o território que une a Europa com a Ásia. Essa é a avaliação do historiador e pesquisador de conflitos armados e de geopolítica, o delegado Rodolfo Queiroz Laterza.
“Os EUA estão se reorientando para um confronto de longo prazo na região da Ásia-Pacífico e tentando retirar o Irã do contexto geoeconômico construído pela China e pela Rússia através da rota Transcaspiana, que alijaria a Europa e as rotas comerciais controladas pelo eixo atlanticista [do Atlântico Norte, ou seja, dos EUA e da Europa]”, explicou.
A rota Transcaspiana é uma rota comercial do sudeste asiático que liga a China com a Europa via Cazaquistão, Azerbaijão, Mar Cáspio e Turquia, entre outros. Para Laterza, a entrada dos Estados Unidos no conflito deve ser analisada no contexto de uma nova ordem mundial emergente onde a desintegração da globalização sugere a criação de blocos econômicos regionais rigidamente controlados.
Nesse cenário, o corredor comercial euroasiático é chave e um dos objetivos da guerra contra o Irã seria excluir o país persa desse processo de integração econômica.
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“O Irã alavancaria a iniciativa da Rota da Seda e a União Econômica Eurasiática, a qual o Irã teve adesão ano passado no formato de acordo de livre comércio”, completou o especialista.
A Rota da Seda é a iniciativa da China, criada em 2013, para conectar, por meio de projetos de infraestrutura, sua economia com a de outros países. O Irã é visto como um parceiro estratégico da China na Nova Rota da Seda.
Já a União Econômica Eurasiática (UEE) é uma aliança comercial iniciada em 2015 que busca conectar estados asiáticos como Cazaquistão, Quirguistão e Armênia aos europeus Rússia e Belarus, criando esse corredor econômico euroasiático. O acordo da UEE com o Irã entrou em vigor em maio deste ano.
“O verdadeiro objetivo estratégico é a sobrevivência econômica dos EUA. Portanto, eles buscam cortar o fornecimento de petróleo em condições favoráveis para a Europa e a China, forçando ambos a aceitarem termos comerciais rigorosos – tarifas em troca de acesso renovado aos fluxos de energia”, analisou.
Essa avaliação diverge das narrativas oficiais, que sustentam que a guerra é movida para impedir o programa nuclear do Irã de chegar a uma bomba nuclear, o que o Irã sempre negou. Em 2018, no primeiro governo Trump, os EUA se retiraram, sem consultar seus parceiros, do acordo nuclear firmado em 2015 com Irã, que contou com apoio da França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China.
A avaliação de Laterza faz parte de uma corrente de opinião que sustenta que a emergência econômica, militar e tecnológica da China ameaça a hegemonia que os Estados Unidos exercem sobre a economia global, o que teria levado o país a impor tarifas comerciais unilaterais e atacar iniciativas globais de integração como o Brics, ao qual o Irã se integrou no ano passado.
Longo prazo
Para o analista, a guerra contra o Irã deve ser avaliada ainda tendo em mente a estratégia de longo prazo dos EUA de se retirar completamente do Oriente Médio, onde mantém diversas bases militares.
“Para isso, seria preciso não deixar nenhuma infraestrutura intacta para trás. Isso garantiria que nenhum rival, seja China ou Rússia, pudesse explorar o que resta e minaria o eixo geoeconômico construído pela China e Rússia”, diz Laterza.
EUA junto com Israel
Por outro lado, o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes defende que ainda é cedo para avaliar o grau de compromisso dos Estados Unidos na guerra e as mudanças geopolíticas que sua entrada no conflito vai desencadear.
Ainda assim, Menezes sustenta que os ataques de Washington contra o Irã evidenciam que Israel não age sozinho, como muitos pensavam.
“Israel sempre atuou com a anuência dos Estados Unidos, diferente da ideia de que Israel estava liderando os ataques para depois os Estados Unidos decidissem apoiar ou não esse tipo de ataque, nós vimos, então, que o apoio incondicional dos Estados Unidos foi renovado a Israel”, comentou.
Menezes avalia que, por enquanto, o ataque dos Estados Unidos contra o Irã foi limitado ao seu programa nuclear e é preciso esperar para ver se haverá mais ações de Washington para viabilizar uma mudança de regime político no país persa.
“Ainda teria que ter um pouco mais de elementos para saber se vai haver uma derrubada do regime no Irã, se os Estados Unidos vão se envolver com algum tipo de atos que possam levar a uma sublevação no Irã ou em uma derrubada do regime”, acrescentou.
Como o ataque ordenado por Trump não foi aprovado pelo Congresso americano e gerou questionamentos internos sobre sua legalidade, Menezes avalia que Trump deve ser mais cauteloso. “Isso pode tornar mais comedida a sua reação”, completou.
Eficácia do ataque
O analista geopolítico Rodolfo Queiroz Laterza também questiona a eficácia do ataque dos Estados Unidos contra o Irã que, apesar do esforço, não teria atingido nenhum objetivo militar decisivo.
“A usina nuclear de Fordow não foi totalmente destruída conforme análises de bastidores dos próprios norte-americanos. No entanto, espera-se que a mídia ocidental o retrate como um sucesso, ecoando o ataque à base aérea de Shayrat em 2017, sob o governo Trump, que serviu mais como teatro político do que como uma jogada estratégica”, disse.
Já o governo Trump sustenta que o ataque foi um sucesso e conseguiu inviabilizar as usinas nucleares atingidas.
Mudança de regime
Iniciada sob o argumento de impedir o Irã de construir bombas atômicas, as autoridades israelenses nunca esconderam a intenção de derrubar o regime político iraniano. Já os Estados Unidos vinham se limitando a cobrar a restrição do programa nuclear de Teerã. Porém, após o ataque contra o país, Trump sugeriu buscar uma mudança no regime político.
“Não é politicamente correto usar o termo ‘mudança de regime’, mas se o atual regime iraniano não é capaz de tornar o Irã grande novamente, porque não haveria uma mudança de regime?’’, questionou neste domingo (22) Trump em uma rede social.
Para Laterza, derrubar o regime político iraniano é uma “fantasia ocidental”.
“Após 45 anos de sanções e isolamento internacional, Teerã não apenas sobreviveu, como também fortaleceu sua posição. Suas ações contra Israel, tanto simbólicas quanto materiais, apenas fortaleceram a solidariedade xiita em toda a região. Longe de enfraquecer, sua liderança se tornou mais profundamente enraizada – forjada pela resistência e imune à manipulação externa”, avaliou Laterza.
Mapa Estreito de Ormuz – Arte/EBC
Entenda
Acusando o Irã de estar próximo de desenvolver uma arma nuclear, Israel lançou um ataque surpresa contra o país no último dia 13, expandindo a guerra no Oriente Médio.
Neste sábado (21), os Estados Unidos atacaram três usinas nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Esfahan.
O Irã afirma que seu programa nuclear é apenas para fins pacíficos e que estava no meio de uma negociação com os Estados Unidos para estabelecer acordos que garantissem o cumprimento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, do qual é signatário.
No entanto, a AIEA vinha acusando o Irã de não cumprir todas suas obrigações, apesar de reconhecer que não tem provas de que o país estaria construindo uma bomba atômica. O Irã acusa a agência de agir “politicamente motivada” e dirigida pelas potências ocidentais, como EUA, França e Grã-Bretanha, que têm apoiado Israel na guerra contra Teerã.
Em março, o setor de Inteligência dos Estados Unidos afirmou que o Irã não estava construindo armas nucleares, informação que agora é questionada pelo próprio presidente Donald Trump.
Apesar de Israel não aceitar que Teerã tenha armas nucleares, diversas fontes ao longo da história indicaram que o país mantém um amplo programa nuclear secreto desde a década de 1950. Tal projeto teria resultado no desenvolvimento de pelo menos 90 ogivas atômicas.
Internacional
Governador admite que infraestrutura no Monte Rinjani é insuficiente

O governador de West Nusa Tenggara, local onde fica o Monte Rinjani, na Indonésia, divulgou uma carta aberta aos brasileiros em suas redes sociais reconhecendo as falhas no resgate da brasileira Juliana Marins.
Segundo Lalu Iqbal, desde o primeiro momento em que o governo foi informado do acidente, o time de resgate agiu com urgência e dedicação.
“Reconhecemos que o número de profissionais certificados em resgate vertical ainda é insuficiente e que nossas equipes ainda não dispõem dos equipamentos avançados necessários para missões desse tipo. Também percebemos que a infraestrutura de segurança ao longo das trilhas do Rinjani precisa ser aprimorada”, disse o governador Lalu Iqbal.
Juliana caiu enquanto fazia uma trilha na borda do vulcão. Ela esperou resgate por alguns dias, mas quando a equipe finalmente conseguiu chegar ao local onde ela estava, constatou que a brasileira havia morrido.
Segundo ele, apesar dos “esforços extraordinários” do time de resgate, as operações foram desafiadas significativamente pelas forças na natureza.
“A névoa espessa e a chuva persistente dificultaram os esforços de resgate desde o primeiro dia. O terreno arenoso próximo ao local representava um risco extremo para os dois helicópteros que foram disponibilizados”, disse Iqbal.
O governador também destacou o trabalho das equipes de resgate que, segundo ele, colocaram sua própria segurança em risco. “Na nossa cultura, aqueles que entram na nossa terra são considerados família”.
Internacional
Segurança do Brics terá cerca de 17 mil policiais civis e militares

Cerca de 17 mil policiais civis e militares e agentes do Programa Segurança Presente vão reforçar a segurança da reunião da cúpula do Brics, nos dias 6 e 7 de julho, no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.
Além do reforço das forças estaduais e o uso de tecnologia de ponta, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, solicitou ao governo federal o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no período de 2 a 9 de julho, com atuação no perímetro externo do MAM, da Marina da Glória, do Monumento de Estácio de Sá, dos locais de hospedagem dos chefes de Estado e em outros locais de interesse das delegações, como aconteceu na reunião de cúpula do G20, também realizada no Museu de Arte Moderna, em novembro de 2024.
“Estamos unindo esforços para garantir a segurança das delegações que virão para a reunião de cúpula do Brics e para quem mora no Rio. Temos uma grande expertise em planejamentos de segurança para grandes eventos, com ótimos resultados. A adoção da Garantia da Lei e da Ordem não é uma excepcionalidade. Isso já aconteceu, por exemplo, no ano passado, quando o Rio também sediou a reunião de cúpula do G20”, explicou o governador Cláudio Castro.
O esquema da Polícia Militar terá 15,5 mil policiais, incluindo equipes do Comando de Operações Especiais (COE), para garantir a segurança nas vias públicas, no entorno de hotéis e do MAM, com suporte do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) Móvel, instalado próximo à entrada principal do museu.
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Imagens geradas por câmeras urbanas com software de reconhecimento facial e de leitura de placas, instaladas em helicópteros e drones e das câmeras corporais dos policiais militares poderão ser acessadas pelo Comitê Executivo de Segurança Integrada Regional (Cesir), que será instalado no CICC, na Praça Onze. O Cesir é formado por representantes de forças estaduais e federais de segurança.
O esquema especial da Polícia Civil inclui 1.400 policiais, com reforço de efetivo nas unidades que abrangem o evento e áreas de interesse operacional. Haverá uma Central de Flagrantes extraordinária funcionando na Cidade da Polícia.
O efetivo dedicado ao Brics também contará com especialistas do Esquadrão Antibomba, policiais com proficiência em idiomas e agentes da inteligência, com monitoramento de redes sociais, além de policiais da perícia técnico-científica.
Todas as delegacias localizadas no percurso das autoridades estrangeiras estão aptas para servir como ponto de refúgio e proteção dessas autoridades.
Brics
O Brics é formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. É um grupo de países de mercado emergente em relação ao seu desenvolvimento econômico. O agrupamento começou em 2009, com quatro países sob o nome Bric, reunindo Brasil, Rússia, Índia e China. Em 14 de abril de 2011 o grupo foi acrescido da África do Sul e ganhou um S na sigla.
Em 1º de janeiro de 2024, o grupo cresceu com a entrada do Egito, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Etiópia e Irã, com membros plenos. Em 6 de janeiro de 2025, a Indonésia também entrou no grupo como membro pleno.
Internacional
Família de Juliana Marins recorre à Justiça e pede nova autópsia

A família da brasileira Juliana Marins, que morreu em um acidente no Monte Rinjani, na Indonésia, solicitou uma nova autópsia do corpo. O pedido foi feito à Justiça Federal para esclarecer a causa da morte. O procedimento deverá ser feito quando o corpo dela chegar ao Brasil, o que deve ocorrer na quarta-feira (2).
“Acreditamos no Judiciário Federal brasileiro e esperamos uma decisão positiva nas próximas horas”, afirmou via redes sociais a irmã de Juliana, Mariana Marins.
O pedido foi feito via Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU-RJ), com o auxílio da Prefeitura de Niterói, cidade do Rio de Janeiro onde Juliana morava.
O corpo da brasileira foi resgatado na quarta-feira (25), quatro dias após Juliana cair e rolar por centenas de metros enquanto fazia uma trilha na borda do vulcão. O acidente ocorreu no sábado (21), mas apenas na terça-feira (24) a equipe de resgate conseguiu encontrar Juliana, já sem vida.
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A autópsia feita por legistas na Indonésia concluiu que a turista morreu em decorrência de hemorragia, provocada por danos a órgãos internos e fraturas ósseas. Segundo os legistas, os ferimentos foram provocados por traumas por contusão.
Traslado
O corpo de Juliana deixará a Indonésia nesta terça-feira (1º). Segundo a companhia aérea Emirates, o voo seguirá inicialmente para Dubai. Ali, o caixão será transferido para uma outra aeronave que, na quarta-feira (2), seguirá para o Rio de Janeiro. O voo deve chegar ao Rio de Janeiro às 15h50 de quarta-feira (2).