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Filme mostra reencontro de pai e filhas indígenas 40 anos depois

A busca de Sueli e Maiza – da etnia Tikmũ’ũn, também conhecida como Maxakali – por mais de 40 anos, pelo pai Luís, Guarani-Kaiowá, é o ponto central do documentário Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá. Os três foram separados durante a ditadura militar no Brasil, quando era comum o regime deslocar indígenas das suas regiões a outras do país para serem usados em trabalhos forçados e a realizar a ocupação das terras onde moravam.
O filme representa a luta de povos indígenas que, além dos deslocamentos de aldeias, passaram pela precariedade de territórios originários e redução da quantidade de indivíduos das populações. O documentário, que entra no circuito dos cinemas nesta quinta-feira (10), mostra as histórias que conectaram os povos indígenas Tikmũ’ũn, também chamados de Maxakali, do nordeste de Minas Gerais, e Guarani-Kaiowá, do sul de Mato Grosso do Sul.
Luís Kaiowá chegou às terras dos Maxakali levado pelos administradores da Fundação Nacional do Índio (Funai) no início do período da ditadura. Antes de ser deslocado para lá, com mais quatro parentes, saiu da região de ocupação tradicional dos Guarani-Kaiowá perto da atual cidade de Dourados (MS). A caminhada foi interrompida por agentes do Estado brasileiro, que os levaram depois de São Paulo ao Rio de Janeiro, seguindo para Belo Horizonte e Resplendor, em Minas Gerais. Por fim, ele e o primo José Lino foram os únicos do grupo original conduzidos ao Posto Indígena Mariano de Oliveira, na aldeia Maxakali de Água Boa, onde viveram mais de 15 anos.
Do casamento com Noêmia Maxakali nasceram Maiza e Sueli. A separação do pai ocorreu pouco mais de dois meses após o nascimento da mais nova. Ele e o primo foram deslocados para Mato Grosso do Sul e nunca mais voltaram. Depois disso, as filhas que cresceram entre os Maxakali não tiveram notícias do pai. Atualmente, a professora, cineasta e artesã Sueli é uma das principais lideranças dos Maxakali, que vivem nas aldeias Água Boa, Pradinho, Aldeia Verde, Cachoeirinha e Aldeia-Escola-Floresta, nos municípios de Santa Helena de Minas, Bertópolis, Ladainha e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais.
A situação de afastamento de pai e filhas começou a mudar com a entrada da internet nas aldeias e com a participação de Sueli em encontros indígenas. A partir daí, ela começou a ter as primeiras notícias sobre a localização de Luís. Por meio do Facebook, as irmãs fizeram contato com as primas Marlene e Clara Kaiowá. Com elas souberam que o pai ainda estava vivo e morava perto de Dourados.
Durante algum tempo, Sueli e Maiza receberam notícias do pai por meio das primas. Em contato em 2019, da antropóloga Tatiane Klein, que já trabalhava com os Kaiowá, com o antropólogo Roberto Romero, que fazia pesquisas com os Maxakali, começou a troca de fotos e de vídeos dos três, ainda em terras diferentes, até que mais de 40 anos depois, Sueli, enfim, conseguiu falar com o pai por telefone. Ainda sob impacto da comunicação, ela pediu ajuda para escrever um projeto de filme, fazer a viagem e encontrá-lo.
“No filme tem o encontro dela com o pai. Foi um sonho que ela realizou e ele se tornou um grande rezador Kaiowá e grande conhecedor dos cantos do povo, talvez até pela experiência que teve no contato com os Maxakali”, contou em entrevista à Agência Brasil, o antropólogo Roberto Romero, codiretor do documentário, que há 15 anos convive com os Tikmũ’ũn e os escolheu para tema do mestrado e do doutorado.
Covid-19
Em um caminho de tanta dificuldade, surgiu mais um obstáculo quando se preparavam para a viagem. O surgimento da pandemia da covid-19 adiou os planos. Com a chegada da vacina e a queda dos casos da doença o projeto foi retomado para a aguardada viagem.
Ritos
O documentário Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá também mostra a vida dos Tikmũ’ũn e dos Kaiowá. Em uma sequência pode-se acompanhar os preparativos de rituais para a partida de Sueli e Maiza da Aldeia-Escola-Floresta, onde vivem, para o encontro com o pai. A saída é anunciada em grande ritual do gavião-espírito Mõgmõka. Ao mesmo tempo, em Mato Grosso do Sul, havia expectativa pela chegada dos parentes Maxakali.
“Vários outros povos foram vítimas dos crimes do Pinheiro [Manuel dos Santos Pinheiro capitão da Polícia Militar que chefiou a Funai na ditadura militar]. Ele fundou o reformatório Krenak, que era um centro de detenção de indígenas, e o componente Maxakali dessa história da ditadura militar nunca foi reconhecido. Não se fala nisso e foram eles os responsáveis pelo desmatamento total. Esse capitão manteve fazendas no território Maxakali e articulou os fazendeiros contra eles. Os fazendeiros só foram desintrusados do território Maxakali nos anos 2000, porém outro invasor, costumo dizer, permaneceu no território, que foram o capim colonião e a brachiaria.”, disse Roberto Romero.
Terra Viva
Doutor em antropologia pelo Museu Nacional (UFRJ), desde 2023 Romero integra a equipe de coordenadores do projeto Hãmhi | Terra Viva, que forma agentes agroflorestais e viveiristas indígenas Tikmũ’ũn para fazer a recuperação dos territórios da etnia, incluindo a ocupação das terras, o replantio de vegetação nativa e a produção de alimentos.
“Atualmente esse projeto, que surgiu em 2023, é a primeira chance real de nós, que trabalhamos com os Tikmũ’ũn há mais de 15 anos, vermos a possibilidade concreta de restaurar o território, já que todo conhecimento das plantas, da fauna, das técnicas como a tecelagem da embaúba, que está baseada na floresta e no conhecimento da Mata Atlântica, eles perderam. Retomar a Mata Atlântica nos territórios é uma justiça de reparação contra os crimes da ditadura”, afirmou Romero.
O antropólogo alertou que embora os Maxakali vivam um processo de recuperação demográfica, eles enfrentam uma situação sanitária que deveria chamar a atenção de todo o país. “As crianças Tikmũ’ũn de 1 a 4 anos morrem 30 vezes mais do que as crianças das cidades onde estão situados os territórios, que já são os IDHs [índices de desenvolvimento humano] mais baixos de Minas Gerais. Os adultos Maxakali não passam geralmente dos 60 anos, às vezes nem dos 50”, revelou.
“Em termos de cultura oral, perder os idosos, os mais velhos é perder uma biblioteca. Temos bibliotecas morrendo. Eles morrem como se estivessem em fila, uma morte atrás da outra no cotidiano. As atividades do projeto são frequentemente interrompidas devido a óbitos de crianças e adultos. A ideia é chamar a atenção nacional para o quadro e a situação gravíssima dos Maxakali, pela falta de conhecimento dessa cultura fantástica que habita a região do Vale do Mucuri, em Minas Gerais, e, ao mesmo tempo, que tem incorporado nova tecnologia que é o filme”, completou.
Sueli Maxakali, lembrou que o conhecimento e a sabedoria do seu povo estão na memória que a etnia quer preservar. “Hoje, temos o projeto Hãmhi de reflorestamento que estamos fazendo, evoluindo, para a gente poder reflorestar as cinco aldeias. É muito importante para nós. O povo maxakali é povo do canto e a memória viva que a gente leva também para fora [das aldeias], para vocês terem o conhecimento”, disse à Agência Brasil.
Sueli lembrou que os casos de violações dos direitos dos Maxakali causaram medo no seu povo, obrigado a apagar as memórias.
“Estamos aqui, para colocar [mostrar o que fazem], porque agora nós temos confiança, temos uns parceiros que estão junto, mas antes tínhamos muito medo, porque éramos forçados a apagar a nossa memória, nossos costumes e nossa tradição. Hoje não, estamos levando para estudantes de fora das nossas aldeias, para terem conhecimento e reconhecerem que ainda existimos, ainda estamos aqui”, afirmou a líder.
Conforme o Censo de 2022, existem mais de 300 etnias indígenas no Brasil. Entre elas, 19 vivem no estado de Minas Gerais. A população Maxakali é estimada em 2.629 habitantes.
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) indicam que a região onde moram é uma das que mais aqueceram no país nos últimos anos. Os Maxakali, vivem nas aldeias Água Boa, Pradinho, Aldeia Verde, Cachoeirinha e Aldeia-Escola-Floresta, nos municípios de Santa Helena de Minas, Bertópolis, Ladainha e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais.
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Cartão de gratuidade é dispensado no Rio para quem tem 65 anos ou mais

A juíza Mirela Erbisti, da 4ª Vara da Fazenda Pública da Capital, determinou, nessa quinta-feira, (10), que a população de 65 anos ou mais não terá que apresentar o cartão JAÉ para obter a gratuidade nos transportes municipais atendidos pelo sistema de bilhetagem. Para o acesso, será necessária apenas um documento oficial de identidade ao ingressar no coletivo, como determina o Estatuto do Idoso.
O atraso na entrega do cartão Jaé para idosos determinou a decisão da Justiça. As enormes filas nos postos de atendimento para a retirada do cartão e a demora na entrega do cartão em casa provocou as filas.
A secretária municipal de Transportes do Rio, Maína Celidonio, disse que não há prazo limite para requerer o benefício para pessoas com 65 anos ou mais. O cadastro e a entrega dos cartões de gratuidade continuam sendo realizados de forma contínua, sem interrupções. Os idosos também podem utilizar o benefício da gratuidade no transporte público apresentando um documento original de identificação com foto.
O Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio confirmou que os motoristas foram orientados a liberar o embarque de idosos pela porta traseira dos coletivos mesmo sem o cartão, mediante apresentação de documento com foto.
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Ato na Avenida Paulista pede taxação de super-ricos e condena tarifaço

Milhares de pessoas participaram na noite desta quinta-feira (10) de uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, pedindo pela taxação dos super-ricos, o fim da escala de seis dias de trabalho por um de descanso (6×1) e condenando o tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O ato teve início às 18h em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Com o mote Centrão, Inimigo do Povo, a manifestação foi organizada pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, com apoio das centrais sindicais e de movimentos sociais. O ato ocorre não somente na capital paulista, mas em outros locais como Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Maceió, Florianópolis, Vitória, Cuiabá e São Luís.
Na Paulista, o ato ocupou e fechou os dois sentidos da avenida no quarteirão em frente ao Parque Trianon. Além disso, os manifestantes ocuparam também uma parte do quarteirão seguinte, onde está localizada a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Políticos como Érika Hilton, Eduardo Suplicy, Rui Falcão e Nabil Bonduki estiveram no local.
Em entrevista coletiva a jornalistas durante o ato, o deputado federal Guilherme Boulos disse que a manifestação pode ser considerado o maior ato do ano no local. “É um ato em defesa do Brasil contra as agressões do Donald Trump e um ato em defesa do povo brasileiro”, ressaltou o parlamentar.
“Se o Trump está imaginando que o Brasil é república de bananas, ele tire o cavalinho da chuva. O Brasil é dos brasileiros. Já se foi o tempo em que o Brasil falava grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos. Isso pode ser com Bolsonaro, que bate continência para a bandeira deles ou com o Eduardo Bolsonaro que vai se esconder debaixo da saia do Trump lá em Miami. Mas com o Lula não é assim”, disse a jornalistas.
De acordo com o deputado, o ato também pede a taxação dos mais ricos. “Hoje aqui na Avenida Paulista também é uma resposta àqueles que não querem deixar o presidente Lula governar. Aqueles que dão chilique quando se fala que o super-rico vai pagar a conta no Brasil e aqueles que não aceitam que o trabalhador brasileiro possa ter tempo de descanso com fim da escala 6 por 1”.
Protesto
Um dos principais temas desse protesto é a taxação dos chamados BBBs, sigla usada pelos manifestantes para defender que bancos, bets e bilionários paguem mais impostos no país. Segundo os organizadores do ato, esse tema enfrenta forte resistência no Congresso porque a grande maioria dos parlamentares são empresários ou fazendeiros e seriam afetados diretamente por essas medidas.
Os manifestantes também protestam contra a decisão do Congresso Nacional em revogar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e que poderia gerar uma arrecadação adicional de R$ 20 bilhões em 2025.
A decisão de Donald Trump de estabelecer uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos entrou na pauta de última hora.
Em entrevista a Agência Brasil, a coordenadora da Frente Povo Sem Medo e coordenadora do plebiscito popular por um Brasil mais justo, Juliana Donato, disse que o ato foi convocado por conta da indignação com a maioria do Congresso Nacional que está querendo governar no lugar do governo.
“A pauta da taxação surgiu porque a gente sabe que existe uma resistência da maioria do Congresso em taxar os mais ricos para garantir a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Mas nós temos também a pauta pelo fim da escala 6 por 1, que é uma pauta muito importante para nós e que nós queremos que o Congresso paute e vote. E agora nós temos mais um fato que foi essa carta do Trump dizendo que vai tarifar os produtos brasileiros por conta da pressão da família Bolsonaro. Essa é uma família que lidera a extrema direita no país e que já prejudicou muitos brasileiros”, disse.
“Nós estamos dizendo que nós estamos querendo taxar os bilionários e eles estão querendo taxar o Brasil”, completou.
Para Raimundo Suzart, presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ato de hoje se tornou ainda mais importante após a taxação aplicada por Trump. “Queremos mandar um recado para esse Congresso, para uma parte desse Congresso que está se opondo aos trabalhadores”, disse ele a reportagem. “Queremos que volte a cobrança do IOF, queremos discutir a redução da jornada sem redução de salário e com a garantia do fim da escala 6 por 1. Então esse é o momento da gente dizer que o povo está na rua e que o povo quer que seja cumprida a pauta desse governo que foi eleito para defender a classe trabalhadora e a democracia no nosso país”, acrescentou.
Durante o ato, os manifestantes também coletaram assinaturas para o Plebiscito Popular, uma consulta pública para saber a opinião de trabalhadores sobre a escala 6×1 e sobre a taxação dos super-ricos. “Estamos fazendo esse ato em conjunto com o plebiscito popular”, disse Juliana Donato. “Esse plebiscito é uma consulta popular. A gente quer atingir milhões de brasileiros. Queremos ouvir a população brasileira sobre esses dois temas porque não adianta o Congresso ficar lá legislando sem ouvir o povo”, explicou.
Segundo o Monitor do Debate Político, um projeto desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e a ONG More in Common e com base em imagens capturadas e analisadas por um software de inteligência artificial, o ato contou com 15,1 mil pessoas no horário de pico, com margem de erro de 12%, o que significa que o público presente pode ter variado entre 13,3 mil e 16,9 mil pessoas.
Este foi um público superior ao registrado no ato Justiça Já, promovido no último dia 29 de junho, que contou com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro. Naquele ato, o monitor identificou a presença de 12,4 mil pessoas.
*Matéria atualizada às 21h15 para acrescentar estimativa sobre número de participantes
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Mega-Sena acumula novamente e prêmio vai para R$ 38 milhões

Nenhum apostador acertou as seis dezenas do concurso 2.886 da Mega-Sena, realizado nesta quinta-feira (10). O prêmio acumulou e está estimado em R$ 38 milhões para o próximo sorteio.
Os números sorteados foram: 02 – 13 – 19 – 20 – 55 – 59
- 61 apostas acertaram cinco dezenas e irão receber R$ 43.588,00 cada
- 4.268 apostas acertaram quatro dezenas e irão receber R$ 889,96 cada
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Apostas
Para o próximo concurso, as apostas podem ser feitas até as 19h (horário de Brasília) de sábado (12), em qualquer lotérica do país ou pela internet, no site ou aplicativo da Caixa.
A aposta simples, com seis dezenas, custa R$ 6.