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Há 30 anos, marcha no Rio inaugurava paradas do orgulho LGBT no Brasil

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Os 30 anos da primeira parada do orgulho LGBTI+ do Brasil, a do Rio de Janeiro, serão celebrados no próximo domingo (23). A manifestação volta à Praia de Copacabana, seu cenário desde 1995, para exaltar sua jornada e apostar no futuro, com o tema “30 anos fazendo história: das primeiras lutas pelo direito de existir à construção de futuros sustentáveis”.

As três décadas são contadas a partir da Marcha da Cidadania de 25 de junho de 1995, ao fim da 17ª Conferência Mundial da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (Ilga, em inglês). 

A passagem do evento internacional pelo Rio de Janeiro, pleiteada e concretizada pelo movimento LGBTI+ brasileiro, trouxe grande visibilidade à comunidade, ajudou a articular os grupos nacionalmente e a impulsionar as paradas do orgulho no país. Em vários locais, ativistas já se organizavam desde as décadas anteriores, mas com foco na urgência de conter a epidemia de HIV/Aids, explica o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente do Grupo de Trabalho Memória e Verdade LGBT, Renan Quinalha.

“Não era a primeira vez que o movimento LGBTI+ saía às ruas, mas com esse formato de manifestação, em diálogo com a sociedade, com uma agenda de reivindicações mais abrangente, acontece neste momento”, diferencia ele.

Quinalha explica que a marcha de 1995, no Rio de Janeiro, é icônica por iniciar um processo de acúmulo e aprendizado que se espalha pelo país nos anos seguintes e atinge a escala de milhões de participantes nos anos 2000, com destaque para a Parada LGBT+ de São Paulo, que se torna a maior do mundo. 

“Dá para dizer que as paradas são as maiores manifestações democráticas do Brasil. Nenhum outro movimento coloca tanta gente nas ruas anualmente em várias cidades”.  

Primeira tentativa

Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – O presidente do Grupo Arco-Íris, Cláudio Nascimento, fala sobre os 30 anos da Parada  LGBTI+. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – O presidente do Grupo Arco-Íris, Cláudio Nascimento, fala sobre os 30 anos da Parada  LGBTI+. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O presidente do Grupo Arco-Íris, Cláudio Nascimento. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil –

A história da vinda da conferência da Ilga para o Brasil começa quatro anos antes, em 1991, quando o ativista Adauto Belarmino consegue oficializar a candidatura do Rio de Janeiro como sede do evento, escolha que é confirmada em 1993. 

Naquele ano, o Movimento de Emancipação Homossexual Grupo Atobá, o recém criado Grupo Arco-Íris e outros movimentos haviam tentado convocar uma parada já na Praia de Copacabana. Mas o balanço foi de que a tentativa tinha fracassado: foram menos de 30 participantes, sendo a maior parte deles, os próprios organizadores.

Hoje presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+, entidade que organiza a parada desde a sua primeira edição, Cláudio Nascimento tinha 23 anos e foi um dos que se sentaram, ao fim da caminhada, em um bar na Galeria Alaska, antigo ponto de encontro da comunidade em Copacabana, para discutir o que tinha dado errado.

“Os mais velhos estavam muito “P” da vida, dizendo que as pessoas eram traidoras, não tinham senso de coletividade, de comunidade. E nós, do Arco-Íris, um grupo novinho que estava nascendo, tivemos a ousadia de dizer para eles que, em vez de culpar a comunidade, a gente tinha que analisar os fatores que prejudicaram a participação. Primeiro, tinha que trabalhar a autoestima”, lembra.

A conclusão veio após uma virada de chave que foi vivida pelo movimento LGBTI+ no país nos anos 1990. A experiência de mais de uma década de luta contra a epidemia de AIDS e a reabertura democrática tiraram o movimento “da defensiva”, resgata Cláudio, permitindo a construção de uma pauta sobre cidadania, orgulho e reivindicação de políticas públicas.

Quando o Rio de Janeiro se confirma como sede da Conferência da Ilga o Grupo Arco-Íris percebe que se tratava de uma oportunidade para fortalecer essa mobilização.

Autoestima

Mesmo com os avanços, ainda havia um contexto que afastava os LGBTI+ da parada: medo de ser reconhecido em público e sofrer agressões verbais e físicas, de ficar sem emprego, de ser expulso de casa e até de perder companheiros que não estivessem dispostos a se assumir publicamente. 

“Em 1994, a gente decide não fazer mais a parada, mas promove eventos sociais e culturais, encontros semanais que chegam a reunir 60, 70 pessoas”, explica Cláudio, contando que o grupo queria estimular os participantes a ganharem confiança. 

Um desses eventos é a própria cerimônia pública de casamento de Claudio e Adauto Belarmino, em 1994, celebrada por ex-seminaristas católicos na sede do Sindicato dos Funcionários de Saúde e Previdência do Estado do Rio (Sindsprev). Também naquele ano, um encontro ao ar livre no jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, chamado de tarde de convivência, chegou a reunir 600 pessoas. 

Conforme a mobilização crescia, paralelamente, a preparação para a conferência e a sonhada parada na cidade permaneciam no horizonte, lembra Cláudio.

“A gente recebeu de Nova York um fac-símile, com mais de 50 páginas e uma série de exigências. A gente, então, decide mentir e dizer que tinha tudo garantido. Se a gente falasse a verdade, que ainda ia buscar o apoio e as parcerias, [a conferência] poderia ter sido cancelada”, admite Cláudio.

Ele lembra que só ficou mais tranquilo com a realização da tarde com 600 participantes. “Ali, a gente teve certeza de que era possível, porque a gente saiu de menos de 30 para 600”.

1995, o marco inicial

Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – Ex-presidente do Grupo Arco Íris Augusto Andrade (esquerda), Luiz Carlos Ramos (centro), Claudio Nascimento (direito) na Marcha da Cidadania de 1995, a primeira Parada LGBT do Brasil 
Foto: Augusto Andrade/Arquivo pessoal
Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – Ex-presidente do Grupo Arco Íris Augusto Andrade (esquerda), Luiz Carlos Ramos (centro), Claudio Nascimento (direito) na Marcha da Cidadania de 1995, a primeira Parada LGBT do Brasil 
Foto: Augusto Andrade/Arquivo pessoal

Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – Ex-presidente do Grupo Arco Íris Augusto Andrade (esquerda), Luiz Carlos Ramos (centro), Claudio Nascimento (direito) na Marcha da Cidadania de 1995, a primeira Parada LGBT do Brasil Foto: Augusto Andrade/Arquivo pessoal – Augusto Andrade/Arquivo pessoal

O Grupo Arco-Íris era presidido na época por Augusto Andrade, que o havia fundado com amigos na sala da casa em que morava com Luiz Carlos Barros, em maio de 1993. 

Após a confirmação da conferência, Augusto conta que o grupo enfrentou todo tipo de obstáculo para sua realização, inclusive do ponto de vista financeiro, contraindo dívidas no próprio nome dos integrantes para garantir o evento. 

Inscrições de participantes estrangeiros e doações de entidades internacionais, ativistas e artistas, como o cantor Renato Russo, nomeado padrinho da conferência, foram fundamentais. Carros de som e outros recursos do Sindsprevi, do sindicato dos bancários e do sindicatos dos trabalhadores das empresas telefônicas também foram indispensáveis para a marcha.

“A Ilga, naquela ocasião, tinha o status de órgão consultivo da ONU. Então, nós usamos isso como um carimbo para abrir portas. Porque, para muitas pessoas, era um choque, uma coisa inadmissível, inaceitável”, conta ele.

“Mas conseguimos uma visibilidade imensa. Tiramos a homossexualidade das páginas policiais para as páginas de economia, de política, de cultura, de moda”.

Brasília (DF), 14/11/2025 - Augusto Andrade, organizador da primeira Parada LGBTI+ do Rio de Janeiro, que chega, em 23 de novembro de 2025, a sua 30ª edição. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 14/11/2025 - Augusto Andrade, organizador da primeira Parada LGBTI+ do Rio de Janeiro, que chega, em 23 de novembro de 2025, a sua 30ª edição. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Augusto Andrade, organizador da primeira Parada LGBTI+ do Rio de Janeiro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 

A conferência foi realizada entre 18 e 25 de junho de 1995, em um hotel no Posto 6, na Praia de Copacabana. No centro das discussões, que reuniam entre 2 mil e 3 mil pessoas por dia, estavam pontos que só seriam conquistados cerca de 20 anos depois, pela via judicial: o casamento homoafetivo (2011), legalizado pelo Supremo Tribunal Federal em 2011, e o reconhecimento da discriminação contra a população LGBTI+, tipificada pela Corte em 2019. 

Com a parada ao fim desse evento, a ambição do Arco-Íris era criar um símbolo de mobilização que pudesse ser repetido nos anos seguintes.

“A parada foi a solução que a gente achou para que, nos anos subsequentes, a discussão continuasse, e a nossa pauta se mantivesse viva”, relata Augusto.

Claudio Nascimento exalta o símbolo principal da parada do Rio, a bandeira arco-íris de 124 metros de comprimento por 10 de largura, que já estava presente em 1995. Esse gigantismo era estratégico:

“Queríamos que todo mundo pudesse ter o luxo de segurar, de tocar, e que, quando a imprensa tivesse que escolher apenas uma foto, escolheria ela. E até hoje, 30 anos depois, é o que acontece” 

Pertencimento

Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – A ativista LGBTQIA+, Rosângela Castro posa para fotografia no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – A ativista LGBTQIA+, Rosângela Castro posa para fotografia no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A ativista LGBTQIA+, Rosângela Castro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil 

A ativista lésbica Rosangela Castro participava do Grupo Arco-Íris na época e lembra que, além do público da conferência internacional e dos ativistas de outros estados, a adesão da parada também foi resultado de um trabalho de divulgação em bares, boates e outros pontos de encontro das comunidades de gays, lésbicas, bissexuais e travestis.

“A gente teve muitas mãos colaborando com essa parada, então, foi uma sensação muito boa, de pertencimento, de que, a partir dali, as coisas começariam a mudar. Havia muitos olhares que não eram favoráveis, mas também muitos que encaravam como novidade, se perguntando: ‘Nossa, é tanta gente assim?’”, conta ela.

Depois da marcha no Rio, Rosângela e o Grupo Arco-Íris viajaram para outros estados, ajudando na organização de uma série de primeiras paradas, como a de São Paulo, em 1997. A ativista ficou no Arco-Íris até o início dos anos 2000, quando fundou o Grupo de Mulheres Felipa de Sousa, em 2001, dedicado a mulheres lésbicas e bissexuais e, posteriormente, focado nas mulheres negras dessa população.

“Há pouco tempo que comecei a ver a minha importância em tudo isso, de tanto as pessoas me falarem. Para mim, era uma coisa que eu tinha que fazer, era como estar viva. O ativismo é o que me move até hoje. Ano que vem, eu vou fazer 70 anos, e essa é minha forma de viver. Se eu tivesse que fazer tudo de novo, eu faria”.

Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – Ativista Jorge Caê Rodrigues na Marcha da Cidadania de 1995, a primeira Parada do Orgulho LGBTI+ do Brasil
Foto:  Jorge Caê Rodrigues/Arquivo Pessoal
Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – Ativista Jorge Caê Rodrigues na Marcha da Cidadania de 1995, a primeira Parada do Orgulho LGBTI+ do Brasil
Foto:  Jorge Caê Rodrigues/Arquivo Pessoal

 Ativista Jorge Caê Rodrigues na Marcha da Cidadania de 1995. Foto: Jorge Caê Rodrigues/Arquivo Pessoal 

Para Jorge Caê Rodrigues, que também participou da organização da parada, a história de sua vida e a do movimento LGBTI+ no Brasil se misturam. Jorge conheceu o marido, John MacCarthy, na militância, nos anos 1980, e os dois ficaram 39 anos juntos. Nessa estrada, a marcha pioneira no Rio de Janeiro foi um marco em que os dois trabalharam juntos.

“Não digo que foi o início. Em 1980, foi plantada a semente de uma árvore que cresceu e, ali, começou a dar frutos. Foi um processo longo, mas, em 1995, já era uma árvore forte, com raízes fincadas”, lembra ele “Foi um momento de uma glória inacreditável, de muita emoção. A parada foi a catarse”.

Mesmo depois de sair da organização da parada, no ano 2000, o casal não deixou de participar da manifestação. Em 2019, quando John morreu, um dos trios elétricos desfilou com uma foto em sua homenagem, mas Jorge não se sentiu em condições de voltar à rua durante o luto. 

Anos depois, em um novo relacionamento, Jorge Caê descobriu que o namorado, um homem mais jovem que tinha nascido no interior do Rio de Janeiro, nunca tinha ido a uma parada LGBTI+. Depois de contar a ele sua história, os dois decidiram ir juntos em 2023.

“Foi tocante estar com uma pessoa que nunca tinha ido, um homossexual do interior, e ver a alegria dele em ver que realmente não está sozinho, que não é o único, que é um pensamento que passa pela cabeça de muitos homossexuais. Foi muito comovente. Espero que a parada continue forever and ever”.

 

Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – John MacCarthy (esquerda), Jorge Caê Rodrigues e Gilza, na Parada LGBTI+ do Rio em 2009
Foto: Jorge Caê Rodrigues/Arquivo Pessoal
Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2025 – John MacCarthy (esquerda), Jorge Caê Rodrigues e Gilza, na Parada LGBTI+ do Rio em 2009
Foto: Jorge Caê Rodrigues/Arquivo Pessoal

John MacCarthy (esquerda), Jorge Caê Rodrigues e Gilza, na Parada LGBTI+ do Rio em 2009 Foto: Jorge Caê Rodrigues/Arquivo Pessoal 

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Lula assina 28 decretos para regularizar territórios de quilombolas

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© Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou 28 decretos para regularização de territórios quilombolas localizados em 14 estados. O ato de assinatura foi realizado no Palácio da Alvorada, em Brasília, e marca o Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20).

Os decretos declaram que são de interesse social os imóveis rurais localizados em territórios quilombolas. 

A medida vai permitir desapropriação das propriedades pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o pagamento de indenizações aos proprietários. Após essas etapas, os quilombolas vão receber a titulação de posse definitiva das áreas.

Em uma publicação nas redes sociais, o presidente disse que o país está ampliando as políticas públicas que chegam aos territórios e às comunidades quilombolas. 

“Hoje, dia 20 de novembro, o Brasil reafirma que a igualdade racial é memória, reparação e um projeto de futuro. Essa data, marcada pela luta de Zumbi dos Palmares e pela resistência do povo negro, lembra que democracia forte se constrói com direitos garantidos e oportunidades reais para todas e todos”, escreveu. 

A ministra Igualdade Racial, Anielle Franco, disse que os decretos vão beneficiar 5,2 mil famílias e 31 comunidades. Segundo a ministra, Lula já assinou 60 decretos no atual mandato.

“Esses decretos são o passo anterior à titulação. Hoje, a gente tem um recorde de decretos assinados. O último número que nós tínhamos, de 50, foi no mandato da presidenta Dilma. E hoje, o presidente Lula se torna o presidente que mais assinou decretos na história do país”, afirmou a ministra.

Decretos

Os decretos serão aplicados em propriedades rurais de 14 estados: Bahia (6); Ceará (3); Sergipe (3); Goiás (2); Rio Grande do Sul (2); Maranhão (1); Paraíba (1); Rio de Janeiro (1); Santa Catarina (1); São Paulo (1); Mato Grosso do Sul (1) e Alagoas (1).

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Mulheres negras LBTI se mobilizam por direitos no 20 de novembro

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© Valter Campanato/Agência Brasil.

Mulheres Negras Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Intersexo (LBTI) reunidas em Brasília aproveitaram o feriado da Consciência Negra para finalizar um diagnóstico para apontar as necessidades, problemas e falhas das políticas públicas brasileiras voltadas a estes grupos.

Coordenadora do Comitê Nacional LBTI, a psicóloga Amanda Santos é uma das organizadoras do encontro que culminará, dia 25, na Marcha de Mulheres Negras. Segundo ela, a ideia do documento é viabilizar “uma série de ações visando o bem estar das mulheres negras”.

Amanda Santos explica que, a exemplo do grupo do Centro-Oeste, reunido nesta quinta-feira (20) em Brasília, há várias outras rodas de conversas sendo estabelecidas com o mesmo objetivo em outras cidades.

Diagnóstico

“Trata-se de um relatório nacional com eixos básicos de sobrevivência em áreas como saúde, segurança, comunicação, direito familiar, arte, cultura, moradia”, justifica a coordenadora.

Ela explica que conceitos distorcidos que desconsideram a diversidade da sociedade acabaram por estabelecer regras e até mesmo legislações que dificultam a esse grupo o acesso a direitos historicamente reconhecidos e concedidos a outros grupos.

Esse processo excludente que retira acesso a direitos básicos nada mais é, segundo ela, do que LGBTfobia.

Os exemplos são muitos, segundo a ativista. “Há situações de casais homoafetivos em que uma das parceiras não poderá tomar decisões sobre procedimentos, caso a outra fique doente e perca a consciência. Nesses casos, caberá à família tomar a decisão”, disse ela ao lembrar que, em muitos casos, a conexão com a família não é tão próxima quanto a da cônjuge.

Diversidade

Ela cita também alguns programas de habitação do governo que não consideram os mesmos direitos dos casais héteros para os homoafetivos.

“Na área da saúde, muitos órgãos públicos e privados colocam dificuldades para reconhecer nome social adotado pela pessoa. É preciso criminalizar essa recusa”, defendeu a coordenadora.

Segundo ela, o governo precisa reparar essas situações e enxergar a diversidade do próprio país. “E a sociedade precisa enxergar os direitos que nos foram excluídos”, complementou.

Reparação

Brasília - 20/11/2025 - Pesquisadora aposentada do IBGE e referência do movimento lésbico e LGBT, Heliana Hemetério.  Foto Valter Campanato/Agência Brasil.
Brasília - 20/11/2025 - Pesquisadora aposentada do IBGE e referência do movimento lésbico e LGBT, Heliana Hemetério.  Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Pesquisadora aposentada do IBGE e referência do movimento lésbico e LGBT, Heliana Hemetério. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

A reunião de hoje contou com a participação de uma referência do movimento lésbico e LGBT: a fundadora da Rede Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais Negras, Heliana Hemetério.

Pesquisadora aposentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), Heliana diz que tornar o 20 de Novembro um feriado nacional foi importante por reconhecer aqueles que representam a maior parte da população brasileira.

“[O feriado nacional] reconhece a existência de 54% da população brasileira que se declara negra. Estas são pessoas que se declaram como tal, o que nos leva a crer que o percentual real é ainda maior”, argumentou.

Heliana explica que a data ajudará na reparação de injustiças que são históricas. “O que é reparação? É reconhecimento do negro como cidadão, com moradia, educação, estudo, lazer, direitos, saúde”, disse. Para ela, a data ajuda a “recontar a História, mas sob um outro olhar”. 

Para ela, que é também historiadora, o que levou o Brasil a abolir a escravidão não foi o desejo de melhorar a vida de sua população negra.

“A verdadeira motivação foi econômica”, afirmou ao explicar que, na época, havia muita pressão externa e mudanças das estruturas sociais motivadas pela Revolução Industrial.

 

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Consciência Negra: ato na Avenida Paulista reúne militância e cultura

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© Rovena Rosa/Agência Brasil

Centenas de pessoas participaram, na manhã desta quinta-feira (20), na região central de São Paulo, da 22ª edição da Marcha da Consciência Negra – Zumbi e Dandara 300+ 30. 

O ato organizado pelo Movimento Negro Unificado (MNU) e pela União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) reuniu centenas de pessoas na Avenida Paulista para lembrar a importância de Palmares e seus líderes e a “representação dos negros nas instituições com poder de decisão na sociedade”.

A manifestação teve de dança e música de religiosidade afro-brasileira, com shows curtos de estilos musicais diversos, incluindo ritmos como reggae, MPB e Black Music. Entre as apresentações, ocorreram discursos curtos e objetivos, focados na importância da mobilização em torno de pautas comuns. 

O professor Ailton Santos, um dos organizadores do evento, afirmou à Agência Brasil, que o momento é “justamente de fazer com que a sociedade brasileira, que se diz democrática, de fato faça incluir aqueles que, há muitos anos, historicamente continuam à margem da sociedade.

São Paulo (SP), 20/11/2025 - XXII Marcha da Consciência Negra na avenida Paulista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 20/11/2025 - XXII Marcha da Consciência Negra na avenida Paulista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

 XXII Marcha da Consciência Negra na avenida Paulista. Foto – Rovena Rosa/Agência Brasil

“Diariamente, o povo negro sofre em função de várias violências. Normalmente falamos da morte matada, mas esse é o último estágio, porque até ela chegar, passamos diariamente por outras, que envolvem mobilidade, segurança, saúde e educação.”

 

Para o professor, é necessário que o governo reconheça que uma população, historicamente, está sendo colocada de lado.

“Então, a nossa bandeira é não morremos, e fazer com que o projeto que envolve a reparação, que hoje está na casa dos 20 milhões, seja aprovado para todos os negros e negras do Brasil”, concluiu.

Cuidado, não corre na rua

Ana Paula Félix, 56 anos, é copeira e acompanhou a marcha na tarde desta quinta-feira. Ela considera que é importante apoiar as manifestações, apoiar aqueles que sofrem preconceito e  desvalorização por causa da cor. Com três filhos criados, de idades entre 34 e 30 anos, ela se diz orgulhosa por todos terem cursado universidades públicas, o que foi possível por meio de  políticas de apoio. Mas ela ainda reclama que outras situações, “que ainda não melhoraram”.

“Você sabe que periferia ainda é o pior lugar para os negros morarem, porque é o lugar que a polícia não respeita. E nossos filhos é que pagam esse preço. Então a gente tem que estar sempre falando aos nossos filhos: – Cuidado, não corre na rua, anda sempre com documento, põe sempre a camisa, esteja sempre com o cabelo cortado, barba feita. Porque são os negros que mais morrem.”

Pautas e reivindicações

São Paulo (SP), 20/11/2025 - XXII Marcha da Consciência Negra na avenida Paulista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 20/11/2025 - XXII Marcha da Consciência Negra na avenida Paulista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O grupo seguiu em caminhada até o Masp –  Museu de Arte de São Paulo – onde foram sugeridas pautas, reivindicações e a possibilidade de participação em movimentos. Giovana Santos, 31 anos, que estava passando pela via, parou para escutar e acompanhar os temas. “É importante acompanhar as políticas públicas que estão realmente ativas, sabe? Eu acho interessante, eu gosto de me informar”, disse a jovem, que trabalha como atendente de telemarketing. Para ela, a violência, inclusive policial, é um dos pontos para o qual tem mais atenção.

“Temos visto a polícia, que deveria sempre nos proteger, nos atacar. É muito importante a população saber disso, e é muito bom saber que os movimentos tem se organizado para reivindicar,  embora aninda pareça um sonho, a gente sentar e conversar e tentar se entender”, afirmou.

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