Criadores que se dizem héteros, mas atuam em cenas gays, agora trocam experiências sem medo de julgamento — “Quando são duas mulheres, ninguém chama de lésbica”, diz Débora Peixoto
A criadora de conteúdo Débora Peixoto, 30, decidiu abrir um grupo de discussão no Telegram voltado a homens que se identificam como héteros, bissexuais ou heteroflexíveis, mas que desejam gravar cenas com outros homens — sem medo de julgamento. A ideia surgiu após uma de suas postagens viralizar ao levantar a diferença de tratamento entre colaborações femininas e masculinas no conteúdo adulto. “Se duas mulheres podem gravar juntas sem serem chamadas de lésbicas, por que dois homens não podem fazer o mesmo sem serem rotulados?”, escreveu Débora, no post que deu origem ao debate.
A pergunta ganhou força entre seus seguidores, especialmente entre homens que atuam como criadores de conteúdo e já tinham vontade — ou até experiência — em fazer esse tipo de parceria, mas sempre evitaram falar sobre isso abertamente. “Hétero pode gravar com homem?” virou o ponto de partida para a criação do grupo, batizado de Troca de experiência sem julgamento, que já conta com mais de mil membros.
Segundo Débora, a proposta é abrir espaço para uma conversa realista e sem hipocrisia entre criadores que sentem vontade de explorar esse tipo de cena, mas ainda esbarram no receio da rejeição ou na pressão para manter uma imagem heteronormativa. “A ideia não é rotular ninguém, mas permitir que cada um possa atuar com liberdade e consciência. Não é pra ninguém fingir nada. É só pra que ninguém precise se esconder. A cena não define quem você é fora dela”, afirma.
No grupo, os participantes discutem temas como expressão corporal, segurança nas gravações, posicionamento de imagem e como lidar com críticas externas. Muitos relataram sentir desejo, curiosidade ou interesse comercial em fazer parcerias com outros homens, mas evitavam esse passo por medo do julgamento — inclusive dentro da própria indústria. “Me chamou atenção como eles falavam disso com vergonha. E o mais curioso é que, com mulheres, isso é normalizado. Duas mulheres gravam juntas e ninguém rotula. Mas com homem, o julgamento é imediato”, explica Débora.
Para ela, essa diferença tem origem clara: “A bissexualidade feminina é muito mais aceita porque foi fetichizada pelo pornô. Já o homem que sai do padrão hétero rígido ainda é visto como uma ameaça”, analisa. A criação do grupo foi, então, uma forma de acolher esse público e propor novas formas de diálogo dentro do próprio meio, com naturalidade e sem drama. “A minha ideia é ajudar a desconstruir isso entre quem vive essa realidade por dentro. Juntos, podemos mudar esse olhar. Tem espaço pra tudo — só não pode ter medo de conversar.”