Educação
Inep divulga edital da Prova Nacional Docente 2025; confira regras

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou nesta terça-feira (17) o edital da Prova Nacional Docente (PND) de 2025 com o detalhamento das regras, procedimentos e prazos.
Conforme já tinha sido anunciado, as provas serão no dia 26 de outubro. Os interessados em participar do exame nacional poderão fazer a inscrição no período de 14 a 25 de julho, exclusivamente, pelo Sistema PND, com a informação do número do Cadastro de Pessoa Física (CPF), a data de nascimento, endereço de e-mail e número de telefone fixo e/ou celular válidos.
O valor da taxa de inscrição será de R$ 85. A GRU Cobrança gerada a partir da confirmação da inscrição deverá ser paga até 31 de julho, por Pix, cartão de crédito, débito em conta corrente ou poupança.
No ato da inscrição, o participante da PND deverá indicar a área específica na qual deseja ser avaliado, por exemplo, ciências sociais, matemática, computação, educação física, filosofia, física, português, geografia ou história, entre outras.
Quem pode participar
A Prova Nacional Docente (PND) será aplicada anualmente, voltada aos estudantes concluintes de cursos de formação de professores, inscritos no Enade das Licenciaturas, bem como os demais cidadãos que tenham interesse em participar de concurso ou processos seletivos de contratação de professores nos estados e municípios.
A inscrição no chamado “CNU dos Professores” ou “Enem dos Professores” não dispensa a necessidade de inscrição posterior nos concursos ou seleções de interesse dos participantes, as quais serão conduzidas pelos entes federativos.
Confira o edital completo aqui.
Isenção
De acordo com o cronograma, a solicitação de isenção da taxa de inscrição poderá ser feita entre os dias 30 de junho e 4 de julho.
Para ser isento do pagamento da taxa de inscrição, o participante deve preencher um dos seguintes requisitos:
· ser concluinte em curso de licenciatura no Enade 2025 pelo coordenador do curso da instituição de ensino superior (IES);
· SER membro de família de baixa renda inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico), com renda familiar por pessoa de até meio salário-mínimo (R$ 759, em 2025);
· ser doador de medula óssea em entidades reconhecidas pelo Ministério da Saúde, conforme lei federal .
O resultado definitivo de quem conseguiu a isenção do pagamento da taxa de inscrição na Prova Nacional Docente será divulgado em 14 de julho.
Atendimento especializado
Quem deseja fazer uso do nome social ou solicitar atendimento especializado, por exemplo, por pessoas com deficiência (PCD), gestantes e lactantes, também tem entre 14 e 25 de julho para entrar com o pedido.
Mesma prova do Enade das Licenciaturas
O Inep, autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), é o responsável pela aplicação anual da PND que, em 2025, está agendada para o turno vespertino do dia 26 de outubro.
Nesta data, a abertura e o fechamento dos portões serão, respectivamente às 12h e 13h, no horário oficial de Brasília. A prova terá a duração total de 5 horas e 30 minutos, com início marcado para 13h30 e término às 19h.
A Prova Nacional Docente terá a mesma estrutura e o conteúdo da avaliação teórica do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) das Licenciaturas, que avalia os conhecimentos dos concluintes dos cursos de licenciatura e teve a primeira edição em 2024.
A prova é composta de duas partes, a de formação geral docente – comum aos cursos de todas as áreas avaliadas – e a outra de componente específico, próprio de cada área de avaliação das licenciaturas, conforme indicação do participante no momento da inscrição.
A parte de formação geral docente, que compreende os conteúdos transversais pedagógicos comuns, terá 30 questões de múltipla escolha, envolvendo situações-problema e uma questão discursiva que avaliará aspectos como clareza, coerência, coesão, estratégias argumentativas, vocabulário e gramática da língua portuguesa.
Já a parte de componente específico de cada área de avaliação da PND terá 50 questões de múltipla escolha envolvendo situações-problema e estudos de caso.
Para consultar as respectivas matrizes de referência das áreas das licenciaturas, os candidatos deverão acessar o Portal do Inep.
Seleção para o magistério público
Por meio do edital, o Inep explica que a PND não é um concurso público, mas funciona como um processo independente do governo federal, para contribuir para seleções de ingresso no magistério da educação básica pública, conduzidas pela União e pelas secretarias de educação dos municípios, estados e do Distrito Federal.
As redes estaduais e municipais puderam aderir voluntariamente ao projeto até o último domingo (15). Os gestores públicos locais poderão optar por usar a PND como etapa única ou complementar em seus concursos públicos ou processos seletivos simplificados de seleção de professores que venham a realizar. Eles também podem aplicar etapas adicionais, como prova prática e avaliação de títulos.
Após a adesão voluntária, o prazo para cadastro dos editais de seleção pelos entes federativos terminará em 25 de junho.
A divulgação dos resultados individuais finais da PND está prevista para 10 de dezembro or meio do Sistema PND. O Inep também compartilhará estes resultados finais com os sistemas de ensino que aderirem à prova.
Educação
Enem 2025 tem 5,5 milhões de candidatos inscritos

A edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem cerca de 5,5 milhões de inscritos, em todo o Brasil, informou o ministro da Educação, Camilo Santana. “Mais um recorde! É um aumento de mais de 30%, quando comparado a 2022”, comemorou o ministro, em publicação nas redes sociais.
As inscrições para o Enem terminaram na sexta-feira (13). O balanço foi realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC) responsável por todas as etapas do exame nacional.
O número ainda pode ser alterado, pois depende da confirmação do pagamento da taxa de inscrição pelos não isentos, até 27 de junho.
Enem em números
O número de inscritos em 2025 supera o de 2024, quando 4.325.960 pessoas se inscreveram. Também é o mais elevado desde 2020, quando o total chegou 5.783.357 e houve a aplicação do Enem impresso e do Enem Digital.
Após a pandemia da covid-19, o número de inscritos diminuiu. Na edição de 2021, foram 4,004 milhões e, em 2022, 3,39 milhões.
A busca pelo exame nacional voltou a crescer em 2023, quando alcançou 3.933.970 de registros. De acordo com dados do Inep, o número recorde de inscritos em uma edição do Enem foi em 2014, com 9.490.952 de inscrições realizadas e 8.722.290 inscritos efetivamente confirmados.
Em suas redes sociais, o ministro Camilo Santana também ressaltou a ampliação do prazo de pagamento da taxa de inscrição. “Tudo para que nossos jovens tenham ainda mais oportunidade de garantir a participação no exame, que abre portas e transforma vidas”, escreveu.
Logo após a confirmação da inscrição, os boletos para pagamento foram gerados na Página do Participante, a plataforma oficial do Enem. O pagamento do valor de R$ 85 também pode ser feito por Pix, cartão de crédito, débito em conta-corrente e poupança. Para pagar por Pix, basta acessar o QR Code que consta no boleto.
Para o Enem 2025, os seguintes grupos de candidatos não devem pagar a taxa de inscrição porque são isentos:
- Estudantes concluintes do ensino médio em 2025, matriculados na 3ª série em uma escola pública;
- Participantes do programa federal Pé-de-Meia;
- Pessoas que tiveram a solicitação de isenção da taxa do exame aprovada pelo Inep.
Provas
As provas do Enem 2025 serão aplicadas pelo Inep nos dias 9 e 16 de novembro, nas 27 unidades da federação. Nos municípios de Belém, Ananindeua e Marituba (Pará), excepcionalmente, os candidatos farão as provas em 30 de novembro e 7 de dezembro, devido à realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), no período da aplicação regular do exame.
A divulgação do resultado final está agendada para 16 de janeiro de 2026.
Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. O Enem é considerado a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A nota individual no exame pode, ainda, ser aproveitada nos processos seletivos de instituições de ensino de Portugal que possuem convênio com o Inep.
Além do acesso ao ensino superior, em 2025, o Enem voltou a ser uma opção aos candidatos com mais de 18 anos que querem obter o certificado de conclusão do ensino médio ou a declaração parcial de proficiência.
Educação
Brasil ocupa o segundo lugar na América Latina em capacitação em IA, segundo Coursera

A Coursera, uma das principais plataformas de aprendizado online, divulgou hoje seu Relatório Global de Habilidades anual, revelando um aumento de 282% nas matrículas em cursos de Inteligência Artificial Generativa (IA Gen) no Brasil em relação ao ano anterior. Esse ritmo de capacitação em IA Gen supera o aumento de 135% registrado na América do Norte e os 195% no mundo todo. Esse crescimento acelerado posiciona o Brasil entre os maiores adotantes de IA Gen na América Latina e reflete uma mudança mais ampla em direção ao aprendizado focado em IA e à transformação digital no país.
Baseado em insights da comunidade global da Coursera, composta por mais de 170 milhões de alunos, o relatório acompanha tendências emergentes de habilidades em mais de 100 países. Em sua sétima edição, o Relatório de 2025 classifica o Brasil na 63ª posição mundial em proficiência geral em habilidades e na 9ª posição na América Latina. Os alunos brasileiros demonstram 68% de proficiência em negócios, 57% em tecnologia e 59% em ciência de dados. No novo Índice de Maturidade em IA da Coursera, o país ocupa o 2º lugar na América Latina, sinalizando um forte impulso para se tornar um dos líderes regionais em IA.
A transformação de habilidades no Brasil está sendo impulsionada por esforços coordenados entre governo e setor privado para modernizar a força de trabalho e preencher lacunas críticas de talentos digitais. À medida que a IA e a automação continuam a reformular o mercado de trabalho, os alunos estão reagindo. As matrículas em cursos de inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina (ML) cresceram 199%, as de cibersegurança aumentaram 111%, pensamento crítico 26% e pensamento criativo 35%, refletindo um compromisso crescente com o desenvolvimento de capacidades humanas e técnicas.
Essas prioridades estão alinhadas com as descobertas do Relatório sobre o Futuro do Trabalho de 2025 do Fórum Econômico Mundial, que destaca a escassez de habilidades como uma das principais barreiras à transformação dos negócios no Brasil, com 91% das empresas investindo ativamente na requalificação e atualização de suas equipes para se adaptarem às mudanças impulsionadas pela IA. Quase 90% dos empregadores brasileiros esperam expandir seus esforços de capacitação nos próximos cinco anos, ressaltando a necessidade urgente de criar caminhos inclusivos e acessíveis para o desenvolvimento de habilidades em IA, tecnologia e competências digitais em escala.
“O impulso do Brasil em IA e habilidades digitais é tanto impressionante quanto encorajador. Um aumento de 282% nas matrículas em IA Gen mostra que os alunos não estão esperando pelo futuro do trabalho – eles estão moldando-o ativamente”, disse Christian Hernández, Diretor da América Latina na Coursera. “Estamos vendo uma forte colaboração entre setores, empresas requalificando suas equipes, educadores inovando em suas abordagens e indivíduos investindo em habilidades que realmente importam. Na Coursera, temos orgulho de apoiar o Brasil na formação de uma força de trabalho mais inclusiva, ágil e preparada para liderar na era da IA.”
Principais descobertas sobre o Brasil:
- Brasil avança fortemente em habilidades de IA Gen, mas ainda há disparidades de gênero: Embora as matrículas em IA Gen entre os brasileiros tenham crescido fortemente em relação ao ano anterior, as mulheres representam apenas 25% desses alunos — apesar de constituírem 50% da base de alunos da Coursera no país. Isso indica a necessidade de ampliar o acesso das mulheres às habilidades em tecnologias emergentes.
- Credenciais alinhadas à carreira ganham espaço: As matrículas em Certificados Profissionais no Brasil aumentaram 29%, refletindo o forte interesse dos alunos em percursos de aprendizado flexíveis, práticos e voltados para o mercado de trabalho. No entanto, apenas 18% dessas matrículas são de mulheres, o que destaca uma oportunidade de reduzir a disparidade de gênero em programas de preparação para o trabalho.
- Alunos desenvolvem combinação de habilidades técnicas e de liderança: Os cursos mais populares no Brasil incluem comunicação, desenvolvimento de liderança, aprendizado profundo (deep learning) e visualização de dados, refletindo a demanda por habilidades multidisciplinares que combinam pensamento estratégico com fluência tecnológica.
- Habilidades humanas são essenciais para o futuro: Os brasileiros estão cada vez mais focados em capacidades centradas no ser humano, como pensamento crítico (aumento de 26%), automotivação (aumento de 6%) e inteligência emocional — habilidades essenciais para adaptação em ambientes de trabalho transformados pela IA.
Com 6,7 milhões de alunos da Coursera no país e idade média de 36 anos, a população jovem e motivada do Brasil está preparada para prosperar em uma economia global cada vez mais digital e em rápida transformação. À medida que a demanda por habilidades avançadas acelera em diversos setores, o Brasil está bem posicionado para fortalecer seu ecossistema de inovação, preencher lacunas críticas de talentos e avançar rumo a um futuro digital mais inclusivo, competitivo e resiliente.
📄 Baixe o relatório completo em espanhol e explore insights específicos por país ou região [aqui].
Metodologia
O Relatório Global de Habilidades 2025 baseia-se em dados de 170 milhões de alunos da Coursera entre março de 2024 e fevereiro de 2025, identificando habilidades-chave em mais de 100 países e seis regiões. Ele apoia empresas, governos e instituições educacionais no desenvolvimento de programas que ajudem as pessoas a prosperar em meio a mudanças rápidas. O relatório classifica 109 países com base na proficiência dos alunos em 274 habilidades nas áreas de negócios, tecnologia e ciência de dados. As classificações combinam dados da plataforma Coursera com métricas confiáveis de terceiros, como o Banco Mundial e a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), oferecendo uma visão abrangente da proficiência em habilidades. Pela primeira vez, o relatório também introduz um novo Índice de Maturidade em IA, que analisa a preparação geral de um país em inovação, aprendizado e pesquisa em IA. Esse índice utiliza dados da Coursera juntamente com métricas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Sobre a Coursera
A Coursera foi lançada em 2012 por Andrew Ng e Daphne Koller, com a missão de oferecer acesso universal a um aprendizado de classe mundial. Atualmente, é uma das maiores plataformas de ensino online do mundo, com mais de 175 milhões de alunos registrados até 31 de março de 2025. A Coursera faz parcerias com mais de 350 universidades e líderes do setor para oferecer um amplo catálogo de conteúdos e credenciais, incluindo cursos, Especializações, Certificados Profissionais e diplomas. As inovações da plataforma permitem que os instrutores ofereçam experiências de aprendizado escaláveis, personalizadas e verificadas. Instituições em todo o mundo confiam na Coursera para capacitar e requalificar seus funcionários, cidadãos e estudantes em áreas de alta demanda, como IA Gen, ciência de dados, tecnologia e negócios. A Coursera é uma corporação de benefício público registrada em Delaware e certificada como B Corp.
Educação
Ações afirmativas mudaram “cara da universidade no Brasil”, diz estudo

País com 112,7 milhões de pessoas pretas e pardas, os negros, que são 55,2% da população, e de 0,8% de indígenas, mais 1,6 milhão, o Brasil custou a ver reconhecida, entre os rostos dos estudantes universitários, a sua diversidade etnorracial. Mas nos últimos 20 anos, as ações afirmativas mudaram o perfil da universidade brasileira para corrigir uma limitação e transformar positivamente os espaços responsáveis pelo conhecimento e pela formação de novas gerações, na avaliação dos sociólogos Luiz Augusto Campos e Márcia Lima.
Campos e Márcia são os organizadores do livro “Impacto das Cotas: duas décadas de ação afirmativa no ensino superior brasileiro”, que faz um balanço detalhado da política e aponta desafios, como a permanência dos estudantes nas instituições.
Na obra, eles reuniram 35 artigos que revisam a política desde os primórdios, quando o então deputado Abdias Nascimento, em 1987, ao voltar do exílio nos Estados Unidos, apresenta um projeto de lei para aplicar ação afirmativa na educação.
De lá para cá, o país viu um setor dominado por jovens brancos, de classes média e alta, até o final dos anos 1990, incluir uma maioria de estudantes pretos, pardos e indígenas, que chegaram a 52,4% dos matriculados nas universidades públicas, em 2021, frente aos 31,5% em 2001. No mesmo período, a presença de alunos das classes D e E saltou de 20% para 52%, evidenciando a dimensão econômica da mudança.
Esses avanços são esmiuçados no livro. Os pesquisadores mostram que a política de cotas transformou um dos espaços mais elitizados da sociedade brasileira, a universidade, democratizando seu acesso e redefinindo sua função social.
No prefácio da obra, Nilma Lino Gomes, professora e primeira mulher negra a comandar uma universidade brasileira, lembrou que a política confrontou o Congresso Nacional e setores conservadores da sociedade, até a aprovação da Lei 12.711, em 2012, com respaldo do Supremo Tribunal Federal.
A partir de então, observou Lino, “elas não apenas ampliaram o acesso à universidade, como provocaram mudanças nas práticas pedagógicas e curriculares, desestabilizando estruturas excludentes no sistema educacional”, afirmou a educadora.
“Após a adoção das ações afirmativas, em especial na modalidade cotas, as instituições federais de educação superior passaram a se posicionar mais firmemente diante das desigualdades – não apenas em discursos, mas em práticas concretas na gestão acadêmica, nos currículos, nas políticas de permanência, na criação de Pró-reitorias de Ações Afirmativas, nos critérios de distribuição de recursos, nas normas disciplinares, na pesquisa, na extensão, na internacionalização, no combate a violações de direitos, no enfrentamento do racismo, da LGBTfobia e do machismo”, disse.
A Lei 12.711, de 2012, conhecida como Lei de Cotas, estabeleceu a destinação de metade das vagas das instituições de ensino federal a alunos da rede pública, a partir do perfil etnorracial e socioeconômico. A lei foi atualizada em 2023, reforçando a prioridade dos cotistas para receber auxílios fundamentais para a permanência nas universidades, como bolsas e moradia, que podem ajuda-los a se manter.
O livro resgata ainda, de forma transversal, o papel da sociedade civil na adoção da medida. Além de citar Abdias, ativista dos direitos humanos, lembra a Marcha Zumbi dos Palmares, na década de 1990, e a Conferência Mundial das Nações Unidas (ONU) contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerância, na África do Sul, em 2001. Pela ótica das universidades privadas, cita o papel de impacto do Programa Universidade para Todos (Prouni), em 2005, que concedeu bolsas de graduação em troca de benefícios fiscais e contribuiu para a mudança no perfil do estudante.
Mitos que marcaram o início da política, como o alegado baixo desempenho dos cotistas, que rebaixaria o nível das universidades, também são retomados e refutados. Os textos mostram que, embora cotistas possam ingressar com notas ligeiramente menores no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o desempenho deles é igual ao dos demais alunos. A performance foi medida por notas semestrais. “Diferentes medidas mostram que cotistas e não cotistas tendem a ter desempenho universitário muito similar, bem como taxas próximas de evasão.”, afirmam Luiz Augusto e Márcia Lima.
A pesquisa também faz um mapeamento detalhado da adoção das cotas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que foi pioneira, na Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A obra é fruto da colaboração entre oito centros de pesquisa espalhados pelo país, sob a coordenação do Afro Cebrap e do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa), vinculado à Uerj — a primeira a adotar sistema de cotas para ingresso de estudantes.
Lei abaixo os principais trechos da entrevista.
Agência Brasil – Qual o valor da diversidade nas universidades? Por que ela é importante? Em termos éticos e materiais?
Márcia Lima – Formar pessoas e produzir conhecimento são objetivos cruciais da universidade. Nesse sentido, a diversidade contribui de forma inequívoca para agregar qualidade ao conhecimento científico. Diversidade também diz respeito à justiça social e equidade. Instituições de ensino, em especial instituições públicas, têm o dever de garantir acesso a diferentes grupos. O grande impacto das cotas é a transformação dos espaços responsáveis pelo conhecimento e pela formação das novas gerações.
Agência Brasil – Em entrevista à Folha de S. Paulo, Luiz Augusto Campos teria dito que a universidade pública está “à deriva”, sofrendo com o abandono das elites e das classes populares Isso ocorre porque o grosso da elite não está mais nas universidades públicas?
Luiz Augusto Campos – Para a Folha, tentei deixar claro que é mito a ideia de que as elites não dependem mais da universidade pública. O grosso das elites brasileiras não têm recursos para pagar as caras universidades estrangeiras e, por isso, ainda recorrem à universidade pública e gratuita para obter diplomas e reproduzir seu estatuto de classe. O que mudou nesse quesito é que essa elite não vê mais a universidade pública como sua propriedade exclusiva, em grande medida por conta do advento das cotas e, por isso, não está mais disposta a defendê-la como antes. Ao mesmo tempo, ainda que a inclusão tenha aumentado, a maior parte das classes populares permanece fora da universidade pública que, por isso, fica sem defesa no debate político.
Agência Brasil – Neste momento da política de cotas, em que pesquisadores sugerem ações de apoio à permanência, diante do contingenciamento de recursos das federais, a política de cotas ainda é sustentável, capaz de promover mudanças?
Márcia Lima – A política de permanência [nas universidades] foi esvaziada no governo anterior e tem sido retomada – ainda que com limitações orçamentárias – na gestão atual. Mesmo com esse desafio, a política de cotas já tem promovido enorme transformação no perfil discente e docente das universidades. A ausência de investimento afeta toda e qualquer política educacional. Não seria diferente com as ações afirmativas. É importante lembrar o que aconteceu nas gestões de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Assim como em outras políticas, coube ao atual governo recomeçar e revisar a lei. A nova lei de cotas procura avançar nas limitações identificadas no estudo.
Agência Brasil – Por que é necessário defender as cotas, diante de racismo no mercado, no qual pessoas negras ainda ganham menos e estão em menos postos de comando?
Luiz Augusto Campos – É falso dizer que a ascensão social pela educação é um mito. A rigor, a maior parte dos estudos de mobilidade social mostra que a ascensão social vem, em grande medida, da educação em geral e, mais especificamente, da educação superior. É claro que a expansão do número de pessoas com ensino superior reduz, com o tempo, o valor do diploma, mas esse estrato da população ainda é pequeno no Brasil, menos por exemplo do que em países similares como Chile, Estados Unidos e Coreia do Sul. Isso não exclui, contudo, a persistência do racismo no mercado de trabalho, mesmo quando olhamos as oportunidades sociais de negros diplomados. Daí a importância de combinarmos ações afirmativas na educação superior e no mercado de trabalho.
Agência Brasil – A doutora Cida Bento, diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades e uma das pensadoras sobre o racismo no Brasil, também levanta o conceito do Pacto Narcísico da Branquitude. As cotas conseguem romper esse pacto, em algum momento?
Márcia Lima – A diversidade racial das universidades brasileiras, sem dúvida, colocou em xeque e expôs a imensa desigualdade racial no acesso ao ensino superior. A chegada de um público mais diverso social e racialmente impactou o debate público sobre o papel da universidade, ampliou temas de pesquisa. Em algumas áreas de conhecimento vemos um questionamento crescente sobre a ausência de autoras e autores negros. Portanto, a universidade deixou de ser um espaço majoritariamente branco onde esse pacto era constantemente validado.
Agência Brasil – Qual a chance de o desconforto criado pelas cotas nas universidades despertarem um debate racial real sobre o racismo na construção do Estado brasileiro e os benefícios e a herança que proporcionou à população branca no Brasil?
Luiz Augusto Campos – As cotas já remodelaram o debate sobre raça no Brasil. Antes delas, na década de 1990, o tema era um tabu. O Brasil era encarado como uma democracia racial, livre de racismo e com uma população totalmente mestiça. Hoje, o cenário é outro. O racismo é objeto de debates e todos os círculos sociais e as políticas públicas antirracistas são uma realidade. Isso não foi suficiente, porém, para evitar retrocesso. À direita e à esquerda do espectro político, emergiu a crítica ao chamado “identitarismo”, conceito pouco claro, mas que vem sendo usado para limitar as conquistas recentes. A ideia de meritocracia também continua forte, seja pela valorização dos privilégios herdados de uma elite branca, seja pela difusão desse discurso pelos chamados novos empreendedores. De todo modo, cabe ao futuro e à luta política determinarem se esse debate irá ou não se aprofundar.