Internacional
Milei tenta minimizar crise gerada por apoio à criação de criptomoeda

Alvo de uma série de denúncias por ter promovido o lançamento de criptomoeda por uma empresa privada, o presidente da Argentina, Javier Milei, rompeu o silêncio nesta segunda-feira (17). Em meio à mais ruidosa crise de seus 14 meses à frente do Poder Executivo, o mandatário argentino concedeu, ontem à noite, uma entrevista ao canal TN (Todo Notícias).
Sabatinado pelo jornalista Jonatan Viale, Milei tentou minimizar o impacto do episódio que parte da imprensa argentina batizou como o “criptogate” – a suspeita de envolvimento de funcionários do governo federal, incluindo o próprio presidente, em supostas irregularidades na criação da $Libra, uma criptomoeda que, conforme Milei anunciou em seu perfil no X (antigo Twitter), ajudaria a financiar pequenas empresas e empreendimentos argentinos.
“Não tenho nada que ocultar, portanto posso falar tranquilamente”, disse Milei no início da entrevista de pouco mais de uma hora de duração, na qual tentou explicar que não agiu de forma a promover a $Libra e o projeto Viva La Libertad, do qual o lançamento da criptomoeda faz parte. “Eu não a promovi. Eu a difundi”, afirmou Milei ao explicar o que o motivou a publicar, na noite da última sexta-feira (14), um texto no qual divulgava o projeto privado, associando-o ao crescente liberalismo da economia argentina.
“Não tenho nada que ocultar. Não fiz nada de mal. Sou um superentusiasta da tecnologia. E diante da possibilidade de uma ferramenta para [supostamente] financiar projetos de empreendedores [argentinos], eu decidi difundi-la”, argumentou Milei, reconhecendo que a repercussão que se seguiu a seu tuíte o levou a “correr”, apagando a postagem.
Tão logo o presidente argentino tornou público seu apoio à iniciativa, o valor do ativo digital disparou, valorizando-se exponencialmente. Os poucos detentores da criptomoeda começaram a vendê-la, com lucros altíssimos. Especialistas e oposicionistas a Milei começaram então a apontar o risco de fraude no empreendimento e, consequentemente, o valor da $Libra voltou a cair, com prejuízos para um número ainda incerto de investidores.
“São pessoas hiperespecializadas nesse tipo de instrumento. E que entraram nisso voluntariamente, sabendo muito bem o que estavam fazendo. São operadores de volatilidade que operam com o risco”, afirmou Milei, minimizando o alcance do episódio. “É falsa a [informação de] que 44 mil pessoas tenham sido prejudicadas. Havia, entre elas, muitos robôs [bots] e, no melhor dos casos, se trata de nada mais que 5 mil pessoas. E, com isso, eu, seguramente, diria que a chance de haver argentinos entre eles é muito remota. A maioria [dos que perderam dinheiro com o investimento] é estadunidense e chinesa”, comentou o presidente argentino, classificando o ocorrido como “um problema entre privados [particulares]”.
“O Estado argentino não perdeu nada com isso […] E se alguém que conhece o risco vai a um cassino e perde dinheiro, não pode reclamar, pois sabia das características do jogo”, comentou Milei, lembrando que, no último sábado (15), o governo anunciou duas medidas: que o Gabinete Anticorrupção da Presidência da República apure se algum membro do governo, incluindo o próprio Milei, agiu de forma imprópria, e a criação, no âmbito da própria presidência, de uma força-tarefa composta por representantes de vários órgãos e organizações para avaliar o projeto Viva La Libertad, a $Libra e todas as empresas ou pessoas envolvidas com a iniciativa.
“Agi de boa fé. Olhando agora para as repercussões políticas, admito que tenho algo a aprender [com o ocorrido]. […] Tenho que ter filtros […] Conversei com minha irmã [a secretária-geral da Presidência, Karina Milei] e concluímos que não podemos viver como antes, permitindo que todo mundo possa chegar até nós. Lamentavelmente, precisaremos levantar muros, buscar uma forma para que, quando as coisas [projetos] chegarem em mim [já tenham sido devidamente analisadas] […] Porque, por querer dar uma mão a alguns [empreendedores] argentinos, tomei como que um tapa na cara”, finalizou o presidente, dizendo aguardar pelas conclusões da Justiça para saber se algum funcionário do governo obteve benefícios pessoais para promover a $Libra.
Internacional
Lula: governo vai recorrer à OMC contra tarifas dos Estados Unidos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (10), em entrevista à Record TV, que o governo federal vai abrir uma reclamação oficial à Organização Mundial do Comércio (OMC), para tentar reverter as tarifas de 50% sobre exportações de produtos comerciais aos Estados Unidos, anunciada ontem por Donald Trump. Caso não haja sucesso, no entanto, o país adotará retaliações proporcionais, garantiu o presidente brasileiro.
“Não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, reforçou o presidente.
A ideia de Lula é que o recurso à OMC seja articulado com outros países que também estão sendo taxados pelos EUA.
“Dentro da OMC, você pode encontrar um grupo de países que foram taxados pelos EUA. Tem toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, vamos ter que fazer [de acordo com] a Lei da Reciprocidade”, acrescentou.
A lei brasileira citada pelo presidente foi sancionada em abril e estabelece critérios para a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em resposta a medidas unilaterais adotadas por país ou bloco econômico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira.
Apoio a empresas
Lula falou que abrirá um comitê, com participação dos empresários que exportam aos EUA, para analisar o novo cenário comercial com os americanos.
“Não vou dizer um gabinete de crise, vou dizer um gabinete de repensar a política comercial brasileira com os EUA”, pontuou.
O presidente prometeu apoiar o setor empresarial e se empenhar para fazer com que os produtos do Brasil que deixarão de ser vendidos aos EUA sejam comprados por outros países.
“Vamos ter que proteger [o setor produtivo], vamos ter que procurar outros parceiros para comprar nossos produtos. O comércio do Brasil com os EUA representa 1,7% do PIB [Produto Interno Bruto]. Não é essa coisa de que a gente não pode sobreviver sem os EUA. Obviamente que nós queremos vender”.
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Respeito e soberania
Em um trecho da entrevista, publicado em suas redes sociais, Lula voltou a cobrar respeito de Trump e criticou a forma como a carta foi divulgada, antes mesmo de chegar ao destinatário de forma oficial.
“O Brasil é um país que não tem contencioso de ninguém. Aqui, tudo se resolve numa conversa. Achei que a carta do presidente Trump era um material apócrifo. Não é costume você ficar mandando correspondência para outro presidente através do site do presidente da República”, criticou.
Lula lembrou da bicentenária relação diplomática de Brasil e EUA e destacou ter se dado bem com todos os demais líderes norte-americanos com que se relacionou nas últimas duas décadas.
“O Brasil tem 201 anos de relação com os Estados Unidos. Uma relação diplomática virtuosa, uma relação de benefício para ambos os lados. Eu me dei bem com todos os presidentes. Me dei bem com o Clinton, com o Bush, com o Obama, com o Biden. O Brasil é um país de conversa”.
Sobre os termos da carta de Trump, o presidente brasileiro voltou a rebater que haja algum tipo de disparidade comercial entre os países, já que os EUA obtêm superávits comerciais com Brasil há pelo menos 15 anos.
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Quanto à exigência de Trump de impedir que o ex-presidente Jair Bolsonaro não seja julgado pelo crime de tentativa de golpe de Estado, Lula disse que o Poder Judiciário é independente.
“Eu não me meto no Poder Judiciário porque aqui o Judiciário é autônomo”, disse.
“O que não pode é ele pensar que ele foi eleito para ser xerife no mundo. Ele pode fazer o que ele quiser dentro dos EUA. Aqui, no Brasil, quem manda somos nós brasileiros”, continuou o presidente.
Lula ainda responsabilizou Bolsonaro pela penalização ao comércio brasileiro. “O ex-presidente da República deveria assumir a responsabilidade, porque ele está concordando com a taxação do Trump ao Brasil. Aliás, foi o filho dele que foi lá fazer a cabeça do Trump”.
O presidente se referiu ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que está morando nos Estados Unidos.
Internacional
Imprensa internacional repercute tarifaço de Trump contra o Brasil

Jornais de todo o mundo repercutiram a imposição de tarifa de 50% anunciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
Em carta postada nas redes sociais e direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump diz que as tarifas passam a valer em 1º de agosto.
No documento, Trump justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. O mandatário norte-americano destacou ainda ordens emitidas pela Corte contra apoiadores de Bolsonaro que mantêm residência nos Estados Unidos.
Em resposta, Lula afirmou que o tarifaço será respondido com a Lei de Reciprocidade Econômica. Também via redes sociais, o presidente defendeu a soberania brasileira e disse que é falsa a alegação de Trump de que a taxação seria aplicada em razão de déficit na balança comercial com o Brasil.
“Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de reciprocidade econômica. A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”, afirmou Lula.
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Veja a repercussão do caso nos principais jornais internacionais:
The New York Times
O jornal norte-americano The New York Times citou uma “guerra comercial repentina” entre os Estados Unidos e o Brasil e destacou o que Trump chama de “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
O veículo também repercutiu a reação de Lula à carta, dizendo que o Brasil responderá ao tarifaço com a Lei de Reciprocidade Econômica.
The Washington Post
O jornal norte-americano The Washington Post avaliou que o anúncio do tarifaço contra o Brasil marca uma “forte escalada” na disputa diplomática entre os dois países em relação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O periódico também destacou que o governo brasileiro prometeu “retaliação”.
The Guardian
O jornal britânico destacou que as últimas ameaças do presidente norte-americano aumentam receios de que “a estratégia comercial errática” de Trump possa agravar a inflação nos Estados Unidos.
Clarín
O argentino Clarín citou um “aumento drástico” de tarifas, por parte de Trump, sobre produtos brasileiros e o consequente agravamento do conflito entre os dois países.
O veículo destacou o “aumento das tensões” em razão do apoio da Casa Branca ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Deutsche Welle
O periódico alemão Deutsche Welle destacou a imposição do tarifaço de Trump em apoio a Bolsonaro e também a resposta de Lula ao anúncio, citando que o brasileiro classificou como “falsa” a alegação de que a taxação de 50% seria em razão de déficit comercial dos Estados Unidos com o Brasil.
Le Monde
O diário francês Le Monde avaliou que Donald Trump “usa tarifas” para apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O periódico citou que o mandatário norte-americano acusou Lula de conduzir uma “caça às bruxas” contra seu antecessor, atualmente em julgamento por tentativa de golpe de Estado.
El país
Para o espanhol El País, o presidente dos Estados Unidos ultrapassou limites em suas ameaças comerciais, citando a taxação de mais oito países no intuito de pressioná-los a negociar antes do prazo de 1º de agosto.
Internacional
Para Nobel de Economia, Trump usa tarifas para proteger ditadores

As tarifas de 50% aos produtos brasileiros anunciadas nessa quarta-feira (9) por Donald Trump têm reverberado também nos Estados Unidos.
O economista norte-americano Paul Krugman, colunista do jornal The New York Times e vencedor do Nobel de Economia de 2008, classificou o presidente do seu país como “mau e megalomaníaco”.
“Eu não costumo fazer postagens noturnos, mas a última carta de Trump, impondo tarifas de 50% ao Brasil, merecem um boletim especial. Afinal, [a medida] é diabólica e megalomaníaca”, disse ele na abertura de uma postagem cujo título é Programa de Trump de Proteção a Ditadores, seguido de “Usando tarifas para combater a democracia”.
Krugman afirmou que não há razões econômicas que justifiquem tal medida e que se trata, essencialmente, de uma tentativa de livrar Jair Bolsonaro da condenação por tentativa de golpe de Estado.
“Note que Trump mal finge que há uma justificativa econômica para sua ação. É sobre punir o Brasil por julgar Jair Bolsonaro”, afirmou o economista em publicação em seu blog, na noite dessa quarta-feira (9). Em seu post, ele faz um resumo de quem é Bolsonaro, na sua opinião.
“É o presidente anterior do Brasil, que perdeu a última eleição – mas tentou se manter no poder através de um golpe para reverter aquela eleição. Claro que soa familiar”.
Krugman faz menção ao episódio da invasão do Capitólio, em 2021, por apoiadores de Donald Trump após sua derrota nas urnas para Joe Biden. Esses invasores foram condenados em 2023, mas Trump concedeu a eles perdão presidencial no início de seu segundo mandato.
Em sua mensagem ao governo brasileiro, Trump demonstrou preocupação em livrar seu aliado político da condenação no inquérito no qual é réu no Supremo Tribunal Federal (STF).
“A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”.
Na avaliação de Krugman, Trump é um “projeto de ditador” que tenta ajudar outro como ele.
“Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro projeto de ditador. Se você ainda pensa nos Estados Unidos como um dos mocinhos do mundo, isso deve te mostrar de qual lado nós estamos atualmente”.
Comércio Internacional
O economista norte-americano usa dados de 2022 da Organização Mundial do Comércio (OMC) que mostram que o Brasil tem na China seu maior parceiro comercial, com 26,8% dos seus produtos exportados.
Os Estados Unidos aparecem com 11,4%.
“Trump realmente imagina que ele pode usar tarifas para intimidar uma nação gigante, que sequer é muito dependente do mercado dos Estados Unidos, para que eles abandonem a democracia?”.
Na visão do Nobel de Economia, as medidas anunciadas por Trump também são argumentos para a abertura de um processo de impeachment contra ele.
“Como eu disse, diabólico e megalomaníaco. Se ainda temos uma democracia funcional, essa jogada com o Brasil poderia fundamentar o impeachment. Claro, isso deveria esperar na fila, atrás de outros argumentos”.