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Moradores do Jardim Pantanal, em SP, se mobilizam após alagamentos

As enchentes que atingem o Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, há quatro dias, têm afetado a vida dos moradores que afirmam contar apenas com a ajuda da própria comunidade. A região, que segue alagada após (1º), foi um dos pontos da capital paulista mais atingido pelas inundações ocasionadas pelas tempestades.
Situado no Distrito Jardim Helena, extremo leste, o Jardim Pantanal está inserido em uma área ambientalmente frágil na várzea do rio Tietê. Há décadas, os moradores sofrem com recorrentes inundações, em que perdem tudo.
As chuvas se intensificaram neste fim de semana, quando a água acumulada tornou intransitável diversas ruas da região, e mais uma vez a comunidade se articula para garantir o básico, como alimentação.
O líder comunitário Alex Novais afirma que “aqui é a comunidade ajudando a comunidade”, para responder se o poder público enviou equipes para atender aos moradores. Perguntado sobre o comunicado sobre desaparecimentos de pessoas, diz que só se terá noção quando o nível da água for reduzido “Eu só sei se você está [ou não] dentro de casa quando a água baixar. Só aí a gente só vai saber se tem mortos ou desaparecidos. Tem lugar onde só se chega de bote. E eu chego à rua, mas não entro na casa”, diz.
Novais entende que um dos fatores que contribuíram para a gravidade do cenário foi o aumento de aterros feitos para casas que ficam à beira do rio Tietê. “O rio tem uma dimensão por onde vai passar e, quanto mais aterro, menor vai ficando essa dimensão. E aí ela vai escoar para algum lugar”, diz.
Segundo ele, as chuvas mais recentes geraram correnteza na região. “Era correnteza, não chuva parada. Parecia um rio passando. Virou um rio a céu aberto, peixes foram tirados das ruas. Caiu peixe do céu?”, questiona.
Influenciador digital do bairro, Danilo Soares é outro morador que vive uma reprise desse mesmo episódio. O primeiro de que se recorda foi quando tinha nove anos de idade. Agora, teve que retirar sua mãe de casa e levá-la para a casa dele até que a água baixe.
Soares foi uma das pessoas que se dispuseram a ficar a bordo de um bote para resgatar quem ficou preso ou ilhado. O contato com a água contaminada, que pode transmitir doenças como a leptospirose, fez com que ele apresentasse alguns sintomas, ficando levemente adoecido, mas não sentiu que devesse parar, diante de tanta gente necessitando de ajuda.
“Teve certo ponto em que era só senhora de 60, 70 anos e não tinha ali um neto, um filho. A pessoa era sozinha. Então, se a gente não se locomover e não se colocar no lugar de outros, até agora não tinha chegado socorro à casa dessa senhora”, justifica ele, que explica que o bote teve dupla função, já que, com ele, a equipe de voluntários pôde arrecadar e distribuir doações. Soares tem usado também seu perfil no Instagram, com quase 18 mil seguidores, para buscar ainda mais suporte durante essa crise que vitima o bairro.
“A gente conhece bem a região. Então, sabe o local onde mais necessitam. Ia empurrando os botes, parando e gritando: ‘olha a comida, a água, o lanche’. Tinha muita gente ainda dentro de casa, ilhada. Teve uma casa com mais de 20 pessoas em dois cômodos, lá no Pesqueiro. Ia para um lado, para o outro, se encontrava nos mesmos pontos, recolhia marmita, água e levava às pessoas”, relata.
Segundo ele, muitas pessoas que estavam na mesma situação, com a casa debaixo d’água, também ajudaram. “Pessoas com a casa cheia de água fazendo doação, dando força braçal e ajudando o próximo”, acrescenta, salientando que soube de casos em que moradores foram demitidos por terem faltado ao trabalho.
Após adquirir experiência de 31 anos de residência no Jardim Pantanal, o funcionário da Assembleia de Deus José Adilson da Silva resolveu usar uma quantia de dinheiro para elevar o nível de sua casa, para evitar que ficasse debaixo d’água. “Custou mais, mas valeu a pena”, avalia.
Ele comenta que, em outras épocas, mesmo com o volume de chuvas bastante alto, ficavam a salvo, intactos. Hoje, contudo, testemunhou áreas como o Jardim Noemia e o Jardim Maia, mais próximos à Avenida Marechal Tito, alagados. “Eram [alagados], mas eram pouco. Era pingado [um ponto cá e outro acolá]. Dessa vez, a chuva foi longe”, afirma, acrescentando que não viu atuação do poder público, que, para ele, “faz mais só quando a imprensa fica em cima”.
São Paulo (SP) 05/02/2025 – Moradores do Jardim Pantanal enfrentam crise após alagamentos . Foto: Letycia Bond/Agência Brasil – Letycia Bond/Agência Brasil
Plano de bairro
O Instituto Alana, cuja sede fica no bairro, desenvolveu, em um esforço conjunto com moradores e o Instituto de Arquitetos do Brasil, um plano de bairro, detalhado em duas etapas. Esse tipo de plano tem por objetivo realizar uma escuta ampla dos habitantes sobre o que acham que precisa ser melhorado, e, a partir disso, a elaboração de propostas para serem apresentadas ao poder público.
Entre as melhorias consideradas mais urgentes, foram mencionados o abastecimento de água e saneamento; a regularização fundiária; o nivelamento das ruas, pavimentação e a microdrenagem. Este último conjunto tem relação direta com o que foi relatado por moradores à Agência Brasil, como o fato de que, dessa vez, a impressão é de que o escoamento da água está mais lento.
Em passagem pelo bairro, é possível notar que nem todas as ruas são asfaltadas, mas que, mesmo naquelas que são, não há um padrão também quanto à quantidade de bueiros. Com as chuvas mais recentes, tanto bicicletas como carros estão tendo dificuldade de circular em meio à água turva e que impede de verificar se há buracos onde podem cair.
Os documentos que compartilham pormenores do plano destacam ainda, entre as medidas que devem ser executadas mais rapidamente, um mapeamento e um diagnóstico sobre os motivos dos alagamentos, “somando os saberes técnicos e comunitários” e a identificação de alguns espaços públicos próximos ao rio e córregos.
Outro ponto reivindicado é o desassoreamento do rio Tietê. Nesse trecho do relatório, os dois institutos e a comunidade pontuam que as ações seriam feitas conforme “o que foi planejado no Plano Diretor de Macrodrenagem para a região compreendida entre o Córrego Três Pontes e a Barragem da Penha – esse trecho, chamado de Lote 3, contempla o Jardim Pantanal”.
Ações da prefeitura
A prefeitura afirmou, em nota, que “segue concentrando esforços em medidas emergenciais na região”. A gestão municipal disponibiliza atendimento à população em diversos pontos da comunidade, incluindo três alojamentos e locais para entrega de refeições e insumos. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social está oferecendo acolhimento a 117 pessoas. Nesta quarta-feira (5), há um novo ponto de apoio aberto na Estrada Biacica, 287, Vila Seabra.”
Ainda no comunicado, a gestão municipal diz que ofereceu refeições, cestas básicas e água aos moradores, além de atendimentos de saúde, que também se estenderam aos animais de estimação dos moradores. “Equipes da Subprefeitura de São Miguel Paulista estão executando o bombeamento da água em vias da região da Vila Seabra, no Jardim Pantanal. Para o bombeamento nas vias que margeiam o rio Tietê, é necessário aguardar a redução do nível da água do rio. Caso contrário, a água bombeada retorna às ruas.”
“Desde o fim de semana, a Prefeitura entregou refeições, cestas básicas e copos de água aos moradores, além de atendimentos em saúde e também para animais de estimação (pets). Também estão sendo distribuídos cartões emergenciais no valor de R$ 1 mil. Desde o último sábado, 1,1 mil famílias receberam o benefício.”
De acordo com a prefeitura, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, em ação conjunta com a Guarda Civil Metropolitana Ambiental, realizou uma vistoria e identificou um aterro irregular em área de proteção ambiental, onde funcionavam um estacionamento e um depósito clandestino de combustíveis. Duas pessoas foram autuadas e encaminhadas à delegacia para prestar esclarecimentos. “As multas aplicadas somam R$ 760 mil. A Secretaria alerta que medidas mais rigorosas poderão ser adotadas caso os responsáveis não realizem a devida recuperação da área degradada.”
Em relação às escolas da rede municipal, a prefeitura informa que continuam funcionando. Caso o estudante não consiga comparecer às aulas, devido aos alagamentos, terá direito a repô-las, para não ser prejudicado. “Nenhum aluno ficará desassistido”, afirma a administração municipal.
Segundo o site Agenciabrasil.ebc,
Com informações: Agenciabrasil.ebc
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Defesa Civil envia alerta severo de chuva para a capital paulista

Um alerta severo para chuvas fortes foi enviado às 15h30 deste domingo (23) para as regiões sul e oeste da capital paulista. Neste momento, toda a cidade de São Paulo está em estado de atenção para alagamentos, no segundo nível de uma escala que varia entre observação, atenção, iminência de transbordamento e alerta.
O estado de atenção teve início às 14h50 de hoje e ainda permanece em operação.
Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da cidade, as chuvas são resultado da propagação de áreas de instabilidade, que atingem diversos municípios da região metropolitana. Chove forte também em Várzea Paulista, Jarinu, Campo Limpo Paulista, Francisco Morato, Franco da Rocha, Caieiras e Mairiporã.
Em todo o mês de março, informa o CGE, o acumulado de chuva atingiu cerca de 63,8 milímetros, o que equivale a 36% dos 177,1 mm esperados para o mês.
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Indígenas são resgatados de trabalho escravo no interior paulista

Uma força-tarefa federal resgatou de condições análogas à escravidão 35 indígenas originários da aldeia de Amambaí, em Mato Grosso do Sul, e trabalhavam na apanha de frango em Pedreira, no interior de São Paulo. Além de condições degradantes de alojamento, os trabalhadores precisavam beber a mesma água dos animais.
Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), os indígenas chegaram há 15 dias à cidade e passaram a trabalhar de maneira informal, sem registro em carteira de trabalho e sem a realização de exame médico admissional, nem recebimento de equipamento de proteção individual (EPI). Além do MPT, o Ministério do Trabalho e Emprego, a Defensoria Pública da União (DPU) e a Polícia Federal integraram a força-tarefa para o resgate.
Conforme os depoimentos coletados, os indígenas trabalhavam cada dia em uma propriedade rural diferente fazendo a apanha do frango, em locais sem banheiro, nem área de vivência. Os trabalhadores disseram que tinham que comer sentados no chão e beber a água do aviário, que era consumida também pelas galinhas.
“A alimentação também era precária: os trabalhadores estavam se alimentando apenas de arroz”, diz nota do Ministério Público do Trabalho.
Informações do MPT dão conta de que os 35 indígenas foram alojados em uma casa com três dormitórios, um chuveiro e dois vasos sanitários. “Por não haver espaço suficiente nos quartos, parte deles dormia nas varandas, sujeitos ao frio e chuva, na garagem, onde havia baratas e percevejos, no corredor da casa ou na cozinha, junto ao botijão de gás”, informa ainda o texto.
A empresa que contratou os indígenas tem sede em Mato Grosso do Sul e presta serviços para um grande frigorífico do interior paulista. O MPT e a DPU celebraram termo de ajuste de conduta (TAC) com o empregador direto, que se comprometeu a pagar as verbas devidas acrescidas de indenizações individuais para cada trabalhador, além de cumprir uma série de obrigações legais relacionadas à formalização de contratos, salários, jornada de trabalho e alojamentos.
O frigorífico que contrata os serviços da empresa terceirizada também assinou TAC comprometendo-se a se responsabilizar subsidiariamente pelo pagamento do passivo trabalhista e pelo cumprimento das normas legais por empresas terceirizadas, sob pena de multa por descumprimento.
“O Ministério Público investigará a suspeita de tráfico de pessoas, haja vista ter tomado depoimentos que evidenciaram que lideranças indígenas podem ter recebido vantagens financeiras por cada trabalhador enviado para o interior de São Paulo”, afirmou, em nota, o coordenador regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento do Tráfico de Pessoas, do MPT, Marcus Vinícius Gonçalves.
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Unicef: 2,8 milhões de crianças não têm acesso adequado à água no país

No Dia Mundial da Água, comemorado hoje (22), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta que 2,8 milhões de crianças vivem sem acesso adequado à água no Brasil, em especial nas áreas rurais. Os dados são do estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, publicado em janeiro e dizem respeito ao período de 2019 a 2023.
O levantamento foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) Anual. Apesar de o número de crianças e adolescentes sem acesso à água ter diminuído 31,5% no período, cerca de 1,5 milhão no país ainda vivem em situação mais extrema, morando em residências sem água canalizada.
De acordo com o Unicef, 1,2 milhão conseguem acessar água canalizada apenas no terreno ou na área externa da residência.
Nas áreas urbanas, cerca de 2,4% das crianças e adolescente brasileiros sofrem sem acesso adequado à água. Já nas áreas rurais esse número cresce para 21,2%.
De acordo com o estudo, o Acre é o estado em situação extrema, onde 12,7% das crianças e adolescentes vivem em locais sem acesso à água canalizada. Em seguida, vem a Paraíba, onde 12,2% vivem na mesma situação; o Amazonas, que possui 11,3% das crianças e adolescentes sem acesso à água canalizada. O Pará, com 9,8% e Alagoas com 9,1% completa a lista dos cinco estados em situação mais crítica.
Crianças e adolescentes brasileiros vivem privadas de níveis adequado de acesso ao saneamento básico. Foto: Agência Brasil/EBC
O Unicef aponta ainda que 19,6 milhões de crianças e adolescentes brasileiros vivem privadas de níveis adequado de acesso ao saneamento básico, o que representa 38% do total desse público no país.
Nas áreas urbanas o percentual de crianças e adolescentes sem acesso ao saneamento básico ficou em 28%, enquanto que nas áreas rurais subiu para 92%.
O Acre novamente foi apontado como o estado com situação mais preocupante. Lá 31,5 % vivem em moradias sem acesso ao saneamento básico. Depois vem o Amazonas, onde 23,5% das crianças e adolescentes estão na mesma situação. O Maranhão aparece na terceira posição, com 19,8%; o Para, com 16,9% vem em quarto e o Piauí, com 13,7 % completa o quinto lugar dos estados com situação extrema de falta de acesso ao saneamento básico.
“As análises regionais revelam desigualdades persistentes, com estados das regiões Norte e Nordeste apresentando as maiores taxas de privação. Em alguns desses estados, mais de 80% das crianças ainda vivem em condições de privação de direitos básicos, o que destaca a necessidade de políticas específicas que abordem as peculiaridades e os desafios dessas áreas”, diz o estudo.
O Unicef disse ainda que, diante desse cenário, realizou ações que beneficiaram, em 2024, mais de 250 mil pessoas em oito estados brasileiros, incluindo cerca de 75 mil crianças e adolescentes.
As iniciativas foram voltadas para escolas, unidades de saúde, comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas nos estados do Pará, Amazonas, Amapá, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Roraima e Rio Grande do Sul.
“Nosso trabalho é voltado para fortalecer as políticas públicas de acesso a água e ao saneamento, para que cada criança e adolescente no Brasil tenha esse direito garantido”, disse Rodrigo Resende, Oficial de Água, Saneamento e Higiene do Unicef no Brasil.
Segundo Resende, sem água potável e saneamento seguro, a saúde, a alimentação, a educação e outros direitos das crianças ficam comprometidos.
“Por isso, o Unicef atua com foco nas comunidades mais vulnerabilidades e pôde alcançar tantas pessoas em 2024, em diferentes partes do país, com nossas estratégias..