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Preservar a Amazônia é questão de segurança nacional, diz especialista

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© Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Amazônia é, historicamente, alvo de cobiça e interesse de estrangeiros. Europeus invadiram a região durante os séculos de colonização. Autoridades dos Estados Unidos cogitaram o mesmo em meados do século 19. No fim dos anos 1990, empresas japonesas chegaram a registrar patente do cupuaçu, fruto típico amazônico. Um caso de biopirataria.

Especialista em defesa e segurança nacional, Mariana Plum não nega esse histórico de ameaças externas. Mas entende que o foco quase exclusivo do Estado nelas ofuscou as crescentes ameaças internas à biodiversidade, aos povos e aos conhecimentos da região.

“Há inseguranças na Amazônia que afetam profundamente a nossa soberania e a de quem vive nela. Narcotráfico, tráfico ilegal, desmatamento, pesca ilegal e crime organizado transnacional. Esses são apenas alguns exemplos”, analisa a especialista.

“Facções criminosas vêm se alastrando de maneira assustadora. Crimes contra a floresta e infrações ambientais cresceram mais de 50% no último ano. A devastação da Amazônia está andando de mãos dadas com a criminalidade. Crimes que não geram nenhuma riqueza, não trazem desenvolvimento e não geram emprego”, complementa.

Mariana conversou com a reportagem da Agência Brasil no Theatro da Paz, em Belém, onde se apresentou no TEDxAmazônia 2025. As falas acima fizeram parte da palestra. O evento reuniu lideranças indígenas, pesquisadores, ativistas ambientais e artistas, que apresentaram reflexões sobre emergência climática e defesa da floresta.

Ela é diretora-executiva do Centro de Soberania e Clima, uma instituição de pesquisa que defende a Amazônia como tema central da política de segurança nacional. Tem no currículo trabalhos no Ministério da Defesa, no exército e na Escola Superior de Guerra.

Na entrevista, ela reforçou a necessidade de atuação integrada entre governos, instituições militares e sociedade civil na Amazônia. O argumento central é de que a floresta deve ser tratada como uma infraestrutura essencial à segurança nacional, que presta serviços indispensáveis à vida, como regulação climática, segurança hídrica, produção de alimentos e equilíbrio ecossistêmico.

“O que está em risco não é somente a floresta, é a capacidade do Estado de repetir os fundamentos constitucionais mais básicos de cidadania e dignidade humana. Todos esses dependentes do primeiro fundamento constitucional: a soberania. Onde o Estado não chega, o crime ocupa. E onde o crime se instala, a floresta, as pessoas e o futuro ficam sob ameaça”, disse Mariana.

Agência Brasil: Durante a palestra, você citou que um dos problemas na preservação e defesa da Amazônia é a atuação fragmentada de órgãos e profissionais responsáveis. O que seria exatamente essa fragmentação?

Mariana Plum: Usei o termo no sentido de que a gente precisa colocar todas as organizações que têm um papel na região para trabalhar de maneira conjunta. E isso significa estabelecer um plano nacional para a Amazônia, para que todos consigam estar na mesma página e trabalhar em prol dos mesmos objetivos. Quando a gente não tem um plano nacional para a região, acaba que cada ator vai fazendo aquilo que considera mais importante. Nesse processo de falta de escuta e de conversa, em vez de você caminhar para o mesmo objetivo, os caminhos seguem separados e essa não é a opção mais eficiente para resolver as questões na região.

Agência Brasil: E quem são esses atores principais na Amazônia?

Mariana Plum: A gente tem que falar primeiro do governo federal, dos diferentes governos estaduais e municipais que precisam estar todos articulados. Mas também da sociedade civil, porque ela é muito importante, porque ela também é capaz de ver e propor soluções que os tomadores de decisão muitas vezes não conseguem. Falamos também da academia, das universidades, que fazem pesquisas profundas embasadas em ciência, em metodologias que podem contribuir para formulação de políticas públicas. E a gente precisa dos indivíduos, de quem está na floresta, porque são eles que sentem e vivem diretamente o que acontece ali.

Então, não é possível a gente fazer uma política sem incluir as vozes locais, entender diferenças e complexidades da região pelos olhos deles. Só assim para implementar políticas públicas que façam sentido, não sejam desconectadas da realidade, não sejam perda de vida, de dinheiro e de tempo.

Agência Brasil: Você também citou as Forças Armadas como protagonistas importantes nesse processo, principalmente em questões de defesa do território.

Mariana Plum: A gente normalmente não olha para as Forças Armadas como tendo um papel na preservação e proteção ambiental. Claro, o papel principal delas é proteger o nosso território, proteger de ameaças externas. Mas elas estão na Amazônia há tanto tempo, há tantos anos que essa parte de preservação ambiental já faz parte do dia a dia das Forças Armadas. Então, isso é uma coisa que a gente, quando criou o Centro de Soberania Climática, pensou: como é que a gente pode resolver os problemas da Amazônia sem incluir as Forças Armadas nessa tarefa? Infelizmente, o que a gente vê no Brasil hoje são divergências, polarizações. Temos que resgatar o que a gente sempre teve, que é a capacidade de dialogar criticamente mesmo com as divergências, porque a gente só cresce a partir dessas divergências.

A partir dessas diferentes percepções, construir convergências que façam a gente avançar no nosso propósito mais importante, que é preservar a Amazônia, garantir que as populações que vivem ali sejam respeitadas, tenham direitos humanos, cidadania, oportunidades e consigam crescer e acompanhar o desenvolvimento sustentável. 

Mariana diz que a floresta deve ser tratada como infraestrutura essencial à segurança nacional – Foto – Agência Brasil

Agência Brasil: E como integrar e reforçar essa atuação das Forças Armadas na Amazônia em um momento tão crítico para a instituição? Há uma crise de imagem e de confiança depois da tentativa recente de golpe de Estado, que teve participação de lideranças militares da ativa e da reserva.

Mariana Plum: Essa questão está relacionada com o próprio tema do TEDxAmazônia 2025, que fala sobre resgate. É tentar resgatar mesmo as boas ações que são feitas com diferentes atores, o que inclui as Forças Armadas. Tentar focar no que é positivo.

Sem esquecer as coisas ruins, porque a gente aprende a partir do que é ruim, mas também focar naquilo que é positivo. Podemos crescer a partir das boas ações que já existem ali lideradas pelos militares. Mas para isso, a gente precisa voltar a conversar, a ter diálogo.

Agência Brasil: A COP 30 pode ajudar a ampliar essa percepção de que é preciso ter mais investimentos na Amazônia nesse setor de defesa?

Mariana Plum: Sem dúvida. Ano passado, a gente teve exemplos muito contundentes de como não se pode prescindir da participação das Forças Armadas em relação aos efeitos que a mudança do clima traz para o nosso país.

Vimos o que aconteceu no Rio Grande do Sul, as queimadas no Pantanal, a seca na Amazônia. Em todos esses exemplos, as Forças Armadas foram uma presença essencial, porque elas têm meios, porque elas têm capilaridade, porque elas têm um número grande de pessoas. A missão principal das Forças Armadas é proteger o país contra ameaças externas. Mas elas também têm um papel secundário, que tem se mostrado cada vez mais relevante de atuar nas questões climáticas e ambientais.

Então, precisamos incluí-las na conversa, até para que consigam se organizar melhor em conjunto com os outros atores, em conjunto com a defesa civil, que, no caso de desastres, é quem tem a liderança no processo.

*A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite da Motiva, umas das principais apoiadoras do TEDXAmazônia.

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Saiba quais são as unidades de conservação mais populosas do país

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© Fernando Frazão/Agência Brasil

As dez unidades de conservação mais populosas do país concentram 4,2 milhões de habitantes. Isso quer dizer que abrigam mais de um terço (36%) do total de pessoas que vivem nessas regiões instituídas pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos.

A constatação faz parte de um suplemento do Censo 2022, divulgado nesta sexta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os recenseadores identificaram 11,8 milhões de habitantes (5,82% da população) em 1.138 unidades de preservação espalhadas por 1.375 municípios. Essas regiões delimitadas incluem áreas como reservas biológicas, extrativas, florestas, parques e Áreas de Proteção Ambiental (APA).

Confira a lista das dez unidades de conservação mais populosas – São Paulo e Maranhão se destacam:

  • APA do Planalto Central (DF/GO): 601.773 habitantes
  • APA da Baixada Maranhense (MA): 583.882 habitantes
  • APA de Upaon-Açu / Miritiba / Alto Preguiças (MA): 509.977 habitantes
  • APA Sistema Cantareira (SP): 495.859 habitantes
  • APA Jundiaí (SP): 449.143 habitantes
  •  APA Piracicaba Juquerí-Mirim Área II (SP): 430.934 habitantes
  • APA da Bacia do Rio São Bartolomeu (DF): 360.760 habitantes
  • APA Serra da Ibiapaba (CE): 352.779 habitantes
  • APA de Petrópolis (RJ): 242.034 habitantes
  • APA das Reentrâncias Maranhenses (MA): 240.498 habitantes

Unidades da federação

O suplemento do Censo 2022 classificou o número de habitantes por unidades da federal (UF). São Paulo é o estado com maior quantidade de pessoas vivendo em áreas de conservação.

Confira a lista das cinco UFs com maior número de pessoas em regiões de preservação:

  • São Paulo: 2.483.199 habitantes
  • Maranhão: 1.555.668 habitantes
  • Bahia: 1.354.144 habitantes
  • Rio de Janeiro: 1.118.507 habitantes
  • Distrito Federal: 1.103.325 habitantes

Em relação à proporção da população, o Distrito Federal ocupa o topo, seguido pelo Maranhão. Das dez UFs que lideram o ranking, nove se situam acima da proporção do Brasil (5,82%):

  • Distrito Federal: 39,16%
  • Maranhão: 22,96%
  • Bahia: 9,58%
  • Alagoas: 8,90%
  • Piauí: 8,50%
  • Mato Grosso do Sul: 7,96%
  • Pará: 7,11%
  • Rio de Janeiro: 6,97%
  • Amazonas: 6,64%
  • São Paulo: 5,59%

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Criança que caiu em cânion no Rio Grande do Sul é encontrada morta

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© CRBM/Divulgação

O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul confirmou a morte da menina Bianca Zanella, de 11 anos, que caiu de uma altura de 70 metros em uma área do Cânion da Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul (RS). O resgate ocorreu seis horas após a localização da criança por meio de um drone com câmera térmica.

O acidente ocorreu na tarde dessa quinta-feira (10), durante um passeio turístico da família de Curitiba (PR) ao local. A menina, que estava acompanhada dos pais e de dois irmãos, teria transtorno do espectro autista e a queda ocorreu no momento em que todos lanchavam 

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publicou nota lamentando a morte da criança e informando que as equipes locais da gerência regional do Sul e da Concessionária Urbia Cânions Verdes estão mobilizadas desde os primeiros momentos e que o resgate foi iniciado rapidamente.

“Infelizmente, apesar dos esforços de busca, a criança foi encontrada sem vida. O ICMBio está à disposição das autoridades competentes para cooperar com a investigação sobre o caso”, conclui a nota.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, também lamentou o acidente em nota publicada nas redes sociais, na qual coloca o ICMBio à disposição das autoridades competentes para cooperar com a investigação. 

“Ao pai, à mãe e aos dois irmãos, com quem ela visitava o parque, meus sentimentos e o mais profundo pesar pela perda tão precoce”, destacou Marina.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, prestou solidariedade à família e agradeceu as forças de segurança pela agilidade e dedicação ao descer 70 metros durante a noite, em condições difíceis, para resgatar a criança.

“Muito obrigado aos homens e mulheres dedicados e obstinados das nossas forças de segurança, em especial do Corpo de Bombeiros, também da Brigada Militar e Polícia Civil, por cumprirem com essa missão e, mais uma vez, aos familiares e amigos da Bianca o nosso abraço, carinho e a nossa solidariedade”.

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Cartão de gratuidade é dispensado no Rio para quem tem 65 anos ou mais

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© Rovena Rosa/Agência Brasil

A juíza Mirela Erbisti, da 4ª Vara da Fazenda Pública da Capital, determinou, nessa quinta-feira, (10), que a população de 65 anos ou mais não terá que apresentar o cartão JAÉ para obter a gratuidade nos transportes municipais atendidos pelo sistema de bilhetagem. Para o acesso, será necessária apenas um documento oficial de identidade ao ingressar no coletivo, como determina o Estatuto do Idoso.

O atraso na entrega do cartão Jaé para idosos determinou a decisão da Justiça. As enormes filas nos postos de atendimento para a retirada do cartão e a demora na entrega do cartão em casa provocou as filas.

A secretária municipal de Transportes do Rio, Maína Celidonio, disse que não há prazo limite para requerer o benefício para pessoas com 65 anos ou mais. O cadastro e a entrega dos cartões de gratuidade continuam sendo realizados de forma contínua, sem interrupções. Os idosos também podem utilizar o benefício da gratuidade no transporte público apresentando um documento original de identificação com foto.

O Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio confirmou que os motoristas foram orientados a liberar o embarque de idosos pela porta traseira dos coletivos mesmo sem o cartão, mediante apresentação de documento com foto.

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