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Projeto usa robótica para reintegrar jovens privados de liberdade

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© CESAR/Divulgação

“Sawabona”. Estudante de análise e desenvolvimento de sistemas, Daniel Messias explica o que quer dizer a saudação para o povo zulu: “Eu te vejo, você é importante e obrigado por você existir”. A palavra traduz a filosofia da etnia do Sul do continente africano que escolhe lembrar as qualidades e os valores em vez de punir as pessoas pelos seus erros.

“Ao se reconectar com sua essência, a pessoa pode responder ‘shikoba’. Eu existo e eu sou bom para você”, completa Messias.

A cultura sawabona-shikoba também ajuda a explicar o que norteia a pesquisa de Messias no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar). Ele ensina robótica para jovens privados de liberdade na capital pernambucana.

“A educação precisa ser restaurativa. Resgatar as pessoas não pelo erro, mas pelas qualidades”, defende o pesquisador, enquanto mostra o robô seguidor de linha (que navega ao longo de uma marcação) desenvolvido pela turma de jovens egressos das unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo de Pernambuco (Funase).

Para Messias, esses são princípios que podem ajudar o país a encontrar soluções para a reintegração de pessoas privadas de liberdade, hoje centradas no que ele chama de “necropolítica”. O termo cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe se refere a uma espécie de “licença para matar” pessoas que fazem parte de alguns grupos sociais, como jovens negros. “Não necessariamente uma política de matar fisicamente. É também uma política de matar narrativas, sonhos, perspectivas e possibilidades”, explica.

Brasília - 19/11/2025 -  Daniel Messias, Henrique Foresti e Rafael Cavalcante acompanham jovem egresso de sistema de privação de liberdade (de costas) em um projeto de robótica. Crédito:  CESAR/Divulgação
Brasília - 19/11/2025 -  Daniel Messias, Henrique Foresti e Rafael Cavalcante acompanham jovem egresso de sistema de privação de liberdade (de costas) em um projeto de robótica. Crédito:  CESAR/Divulgação

O projeto apresenta noções de robótica e do pensamento computacional para jovens que acabaram de sair ou ainda estão em sistemas socioeducativos. A primeira turma formou 18 jovens egressos das unidades da Funase. A segunda turma, ainda em andamento, é formada por adolescentes que cumprem medida socioeducativa.

“São jovens que achavam que não tinham condição nenhuma de se inserir na sociedade”, diz o professor Henrique Foresti, engenheiro de sistemas e idealizador da plataforma Roboliv.re, metodologia criada para democratizar a robótica e que é usada na formação dos jovens. “Esse sentimento de pertencer é o grande desafio. Os meninos chegam aqui [no Cesar] e descobrem que por meio da tecnologia podem ter uma vida diferente”, completa.

Segundo os dados mais recentes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2024, havia 11 mil adolescentes cumprindo medidas socioeducativas em todo o país. Mais de 95% deles são meninos. Quase 74%, pretos ou pardos.

O objetivo inicial da pesquisa era ajudar no processo de reinserção, mas, depois das primeiras formações, o que eles começam a perceber é que esses jovens têm habilidades que podem ser aproveitadas em muitos outros campos.

“Eles vieram de um contexto de vulnerabilidade, de tantos problemas, de tantas barreiras que conseguem ter um olhar crítico e um olhar de inovação que é diferente de um jovem que veio de um cenário de privilégio, que sabe inglês, que já viajou para fora do país, que já sabe programar. As pessoas que vieram de um recorte de muito menos privilégio têm um olhar de criatividade, de trazer soluções para contextos diversos, plurais”, destaca Messias.

A próxima etapa da pesquisa é investigar a lacuna entre formação e geração de renda. Os pesquisadores avaliam a criação de uma startup para trabalhar em parceria com as unidades socioeducativas.

“Quando ele sai do sistema, não encontra suporte nenhum. Esse processo se chama desfiliação. E aí o que acontece? A pessoa acaba reincidindo”, argumenta o pesquisador, que lembra o efeito rebote que essa falta de apoio significa para toda a sociedade.

“O tráfico é um local onde ele vai ter uma rede de apoio, ele vai ter um suporte das facções, vai ter esse auxílio para coisas básicas, como conseguir sustentar a família. Esse apoio que ele não tem do Estado. É assim que o crime se mostra muito mais – como posso dizer? – muito mais interessante. Ele traz renda imediata”, aponta o pesquisador.

Para Messias, “o sistema socioeducativo acaba sendo uma ‘escola’ para formar as pessoas que vão para o cárcere”. “Escola” que ajuda a alimentar um dos maiores sistemas penitenciários do mundo. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, no primeiro semestre de 2025, o Brasil tinha quase 942 mil pessoas no sistema carcerário. Só China e Estados Unidos superam esse número, e apenas 15 cidades brasileiras têm populações maiores que essa.

Brasília - 19/11/2025 - Daniel messias, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e pesquisador no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife. Crédito: CESAR/Divulgação
Brasília - 19/11/2025 - Daniel messias, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e pesquisador no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife. Crédito: CESAR/Divulgação

Além da robótica, a pesquisa também vai testar a aplicação de testes vocacionais para ajudar a mapear habilidades e desenhar planos de carreira alinhados às demandas do mercado. Nesse ponto, a pesquisa tem uma vantagem territorial. Ela está inserida na região do Porto Digital, um dos principais polos de inovação tecnológica do país que fica no centro do Recife e reúne 475 empresas de tecnologia.

Para colocar o projeto em prática, foi preciso enfrentar preconceitos. “Quando esses jovens vinham para cá [para o Cesar], era nítido aquele momento de tensão. A cara das pessoas dizendo: ‘o que essas pessoas estão fazendo aqui?’. Eu respondia, bem tranquilo: ‘elas estão fazendo inovação’”, lembra Messias.

O pesquisador tem, como se diz, lugar de fala. Ele próprio já viveu esse sentimento de não pertencer ao lugar onde hoje realiza seus projetos. Nascido e crescido no Coque, oficialmente Ilha Joana Bezerra, bairro que em 2006 registrava o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Recife, Messias também cumpriu medidas socioeducativas quando adolescente. Entre a internação e o semiaberto, foram três anos e seis meses privado de liberdade.

Hoje, aos 26 anos, quando perguntado sobre o que fez para ter sido apreendido, ele mostra na prática o que significa a filosofia sawabona-shikoba:

“Eu não quero falar do ato que eu cometi, porque aí eu vou estar olhando para o Messias que errou”, diz, ao completar. “Não me procure no passado, não, porque eu não estou lá mais.”

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Brasília se prepara para receber Marcha Nacional das Mulheres Negras

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© Casa Akotirene

Brasília já está em marcha. Na próxima terça-feira (25), mulheres negras de todo o país marcharão na capital do país por Reparação e Bem Viver. Um dia gestado há, pelo menos dez anos, quando aconteceu a Primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras.

“Foi um marco histórico, considerando que foi a primeira marcha”, afirma a jornalista e militante do movimento negro, Jacira Silva.

Naquele ano, cerca de 50 mil mulheres marcharam na Esplanada dos Ministérios sob o tema Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Mulheres que vieram de várias partes do Brasil e que são esperadas, novamente, para ocupar as ruas da capital federal.

E por que as mulheres negras ainda marcham? Segundo as organizadoras do evento, ainda é preciso se mobilizar contra o racismo e o sexismo que marginalizam as mulheres negras.

Dados do Ministério da Igualdade Racial revelam que elas são o maior grupo populacional do Brasil. São cerca de 11,3 milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de pardas, totalizando 28% da população total.

Ser o grupo mais populoso de uma nação não significa proteção em relação a violências estruturais do nosso país. Historicamente, as mulheres negras acumulam os piores índices sociais.

Em 2022, por exemplo, sete anos após a primeira marcha nacional, a taxa de analfabetismo entre as mulheres negras era de 6,9%, o dobro da taxa de mulheres brancas (3,4%).

Elas marcham também pelos direitos dos povos tradicionais, pela preservação dos recursos naturais e de toda biodiversidade brasileira; por reparação histórica pelas dores geradas pela escravização; por um Estado que garanta os direitos de todas as pessoas; e por um modelo econômico sustentável e pelo Bem Viver.

Anfitriãs

Em Brasília, os espaços de mulheres negras estão se preparando há meses tanto para receber as participantes de outros Estados, quanto para mobilizar as mulheres que, cotidianamente, estão em contato com o trabalho realizado.

Um exemplo é a Casa Akotirene Quilombo Urbano, na Ceilândia Norte, que fica a cerca de 30 quilômetros do centro de Brasília e atende cerca de 250 mulheres, além de crianças e adolescentes que participam dos cursos e atividades culturais ofertados pelo espaço, que existe há sete anos.

Joice Marques preside a Casa e lembra que o espaço ainda não existia na época da primeira marcha. Ela destaca a importância e a alegria de poder marchar junto com as mulheres da Casa e as demais que virão à Brasília.

“A gente tem feito algumas atividades na casa, em parceria com as organizadoras da Marcha aqui no DF, em especial o pessoal da área da saúde mental”, conta.

“Pra gente é uma imensa alegria marchar com as mulheres da Casa Akotirene com as mulheres de tantos lugares do Brasil e de fora do Brasil também. Pra gente é um momento histórico, que diz que, de certa forma, estamos falando a mesma língua”.

Para ela, que está inserida no movimento negro fazendo parte do debate, estar com as mulheres da Casa tem um gosto especial. Isso porque, essas mulheres podem não estar dentro da academia, pensando o movimento de mulheres negras nas instâncias formais, mas estão dentro do território delas. “Também estão fazendo políticas de combate à violência, de combate ao racismo, com a sua comunidade, com a sua família”.

A casa e a rua

Na Casa Akotirene, as mulheres fazem cursos de informática, de costura, de música, de exercícios corporais, de tranças e, dessa forma, se descobrem negras.

“Eu sempre falo que, quando a gente está dentro da nossa casa, a gente é só uma pessoa, é só uma mulher. Quando a gente sai para rua, a gente já é uma mulher negra, então já tem uma subjetividade a mais para gente”, aponta Joice.

“E aí a gente vive tudo isso no racismo econômico, no racismo geográfico, no racismo dentro do mercado de trabalho. No racismo que tenta deslegitimizar a gente todos os dias, dizer que a gente não é capaz, que a gente não é intelectual suficiente. E eu acho que isso faz com que a gente entenda o quanto o racismo, a estrutura, ela é perversa”, conta a educadora popular e produtora cultural que nasceu no Piauí e cresceu nas periferias do Distrito Federal.

A gestora da Casa Akotirene se apresenta como uma continuidade, um sonho dos seus ancestrais, tendo esse projeto com as mulheres da comunidade como sua grande paixão. E sabe da importância de ocupar, coletivamente, as ruas.

Nas mãos, elas vão levar um estandarte, feito de forma coletiva, e que carrega os anseios e sonhos dessas e de tantas outras mulheres negras que estarão em marcha por reparação e bem viver.

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Tentativas de fraudes com documentos mais que dobram de 2022 a 2025

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© Marcello Casal jr/Agência Brasil

A consolidação do comércio on-line e das instituições financeiras digitais intensificou um dos crimes mais tradicionais da humanidade: golpes com documentos de terceiros. De 2022 a 2025, as tentativas de fraude documental no Brasil mais do que dobraram, saltando de cerca de 19 mil para mais de 51 mil no acumulado de 2025.

A conclusão consta de levantamento da Caf, empresa especializada em verificação inteligente de documentos. Os dados mostram uma escalada contínua do problema.

•     2022: mais de 19 mil tentativas;

•     2023: mais de 66 mil;

•     2024: mais de 37 mil;

•     2025: mais de 51 mil (no acumulado do ano).

CNH: documento preferido

Segundo a empresa, a carteira de identidade permanece como o documento mais visado. Em 2025, 84% das tentativas de fraude envolveram o Registro Geral (RG), que continua sendo amplamente utilizado e tem grande variedade de versões em circulação. A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) também registrou aumento na participação das fraudes, passando de 8% dos casos em 2022 para 14% em 2025.

Para o diretor de tecnologia da Caf, José Oliveira, a multiplicidade de modelos de RG ainda presentes no país amplia o risco de manipulação, num cenário em que a Carteira de Identidade Nacional (CIN) está sendo adotada de forma escalonada. Ele afirma que soluções tecnológicas vêm se tornando essenciais para detecção de irregularidades.

“O Brasil convive com inúmeras versões de RG em circulação, o que amplia a superfície de fraude. Isso torna inviável depender apenas de inspeção visual ou de processos manuais”, enfatiza.

Oliveira explica que sistemas baseados em inteligência artificial conseguem identificar sinais de adulteração digital com maior precisão, mas destaca que a combinação entre tecnologia e análise humana ainda oferece o índice mais elevado de eficácia, chegando a 98% de acerto na detecção de fraudes.

Análises

O levantamento utilizou uma tecnologia denominada Documentoscopia, que combina verificação automatizada, captura assistida, extração de dados por OCR (reconhecimento óptico de caracteres) e análise especializada. Apenas em 2025, mais de 11 milhões de documentos foram analisados pela plataforma da empresa.

Fundada em 2019, a Caf atua no desenvolvimento de tecnologias antifraude com soluções de verificação biométrica, reconhecimento documental e validação de identidade usadas principalmente em sites e aplicativos.

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Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio celebra 30 anos e reforça visibilidade

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© Lara Souza/Divulgação

Apesar do dia nublado, não faltou vibração na orla de Copacabana na tarde deste domingo (23). A Avenida Atlântica e as areias da praia mais famosa do Brasil foram palco para a 30ª edição da Parada do Orgulho LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, intersexuais e outras identidades de gênero e orientações sexuais).

Além da tradicional mensagem de visibilidade LGBTI+, respeito e contra o preconceito, a marcha celebrou os 30 anos da parada mais antiga do país.

Em meio à agitação proporcionada pelos trios elétricos, uma cena homenageou a primeira parada brasileira: dentro de um carro vermelho, duas drag queens lembraram as personagens que abriram a marcha de 1995, também dentro de um veículo conversível.

Leia aqui: Há 30 anos, marcha no Rio inaugurava paradas do orgulho LGBT no Brasil

Outra referência direta ao marco de 30 anos era o ativista Cláudio Nascimento, um dos presentes em Copacabana naquele ano de 1995, então com 23 anos.

Hoje ele é presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+, entidade da sociedade civil que organiza a parada desde a primeira edição.

“É um momento glorioso para nós. Estamos muito emocionado”, disse à Agência Brasil.

Rio de Janeiro (RJ0, 23/11/2025 - Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio celebra 30 anos e reforça visibilidade. Cláudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+. Foto: Tuany Faria/Divulgação
Rio de Janeiro (RJ0, 23/11/2025 - Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio celebra 30 anos e reforça visibilidade. Cláudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+. Foto: Tuany Faria/Divulgação

Ele aponta que durante os 30 anos de resistência, a parada do Rio de Janeiro se confunde com a história das conquistas por direitos da comunidade LGBTI+.

“Nós lideramos movimentos pela criminalização da LGBTIfobia em várias campanhas que realizamos, tivemos também o casamento civil igualitário com uma pauta extremamente estratégica para nossa luta e conquistamos”, ressaltou.

Segundo ele, a marcha carioca influenciou mais de 400 paradas que são realizadas atualmente no país.

Mensagem “cirúrgica”

Os organizadores da 30º Parada do Orgulho LGBTI+ afirmam que o movimento tem sempre uma mensagem “cirúrgica”, ou seja pontual e específica.

Realizada no dia seguinte ao fim da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém, a parada deste ano teve o tema: 30 anos fazendo história: das primeiras lutas pelo direito de existir à construção de futuros sustentáveis.

“Temos que estar sempre preocupados e preocupadas em produzir mensagens que possam apontar caminhos para o nosso futuro”, justifica Cláudio Nascimento.

“O futuro precisa ser diverso, plural, precisa incorporar as discussões de sustentabilidade ambiental, compreender questões específicas da agenda de lésbicas, agenda de pessoas trans, da agenda de pessoas com deficiência, de famílias, de pessoas idosas”, completa o organizador.

Artistas e serviços

Os trios elétricos ofereceram ao público a performance de DJs e artistas como Daniela Mercury, Grag Queen, Aretuza Lovi, Diego Martins e Diego Martins. Houve ainda espaço para cerca de 100 artistas da comunidade LGBTI+ carioca.

Além da mistura de ritmos e agitação teve espaço para mobilização, orientação e prestação de serviços relacionados à saúde e direitos da população LGBTI+.

Tendas ofereciam informações sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST), distribuição de preservativos e material educativo.

O evento teve apoio da prefeitura do Rio de Janeiro, do governo estadual e do aplicativo de relacionamento LGBTI+ Grindr.

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