Internacional
Trump aprova no Congresso corte de impostos e de US$ 1 tri da saúde

O Congresso dos Estados Unidos (EUA) concluiu, nesta quinta-feira (3), a votação do megaprojeto de lei do governo de Donald Trump que prorroga e expande o corte de impostos instituído em 2017 com capacidade de aumentar a dívida dos EUA em US$ 4,1 trilhões e o déficit primário em US$ 3,4 trilhões em 10 anos. A medida deve beneficiar diversos setores e conglomerados econômicos do país.
O aumento do déficit previsto supera o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024, estimado em US$ 2,17 trilhões. Por outro lado, o texto promove cortes no sistema de saúde que somam US$ 1,07 trilhão, além de reduzir despesas com pensões e benefícios nas áreas de educação e trabalho. Além disso, a medida desmantela políticas ambientais e para transição energética aprovadas sob o governo Joe Biden (2020-2024).
Apelidado por Trump de “Um Grande e Belo Projeto”, o texto aumenta gastos com as Forças Armadas em US$ 150 bilhões em 10 anos; e reforça políticas anti-imigração com deportações massivas por meio de aumento de gastos em “Segurança Interna” na ordem de US$ 129 bilhões até 2034.
Os dados são da organização não governamental (ONG) “apartidária” Comitê para um Orçamento Federal Responsável (CRFB, na sigla em inglês), que reúne especialistas que monitoram o orçamento estadunidense. Essa entidade usa como base os dados do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), órgão oficial do congresso norte-americano.
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O projeto foi aprovado na noite desta quinta na Câmara dos EUA (horário de Washington) por uma diferença de apenas quatro votos. Na terça-feira (1°), a votação no Senado terminou empatada em 50 contra 50, com três republicanos (do mesmo partido do presidente) votando contra. O voto de desempate foi do vice-presidente J.D. Vance. Trump pressionou para o projeto ser aprovado antes de 4 de julho, dia da independência dos EUA.
O projeto é, até o momento, a mais importante ação do segundo mandato de Donald Trump para a economia e o orçamento do país. Segundo o republicano, o projeto vai impulsionar a economia e a criação de empregos por meio do corte de impostos.
“A América terá um renascimento econômico como nunca antes. Já está acontecendo, mesmo antes do Belo projeto de lei. Dinheiro, fábricas e empregos chegando aos EUA”, disse Trump, em uma rede social.
Por outro lado, democratas sustentam que o projeto prejudica os mais pobres que precisam do Medicaid – seguro de saúde dos EUA. O texto sofreu resistência também de alguns republicanos que temem o impacto eleitoral do corte na saúde e ficaram incomodados com o possível aumento da dívida.
O líder democrata na Câmara Hakeem Jeffries, do Brooklyn, em Nova York, discursou por 8 horas e 45 minutos para atrasar a votação, batendo um recorde de fala mais longa na Casa Baixa dos EUA. Ele sustentou que o Medicaid é pago pelos trabalhadores. “Eles conquistaram esses benefícios, trabalharam duro por eles e os merecem. Temos que impedir que esses extremistas destruam seu sistema de saúde”, afirmou.
Membro do partido Democrata, Hakeem Jeffries discursou por 8 horas e 45 minutos para atrasar a votação, batendo um recorde de fala mais longa na Casa Baixa dos EUA. REUTERS/Jonathan Ernst – REUTERS/Jonathan Ernst/Proibida reprodução
Gastos Sociais
Além dos cortes no Medicaid, o projeto de Trump corta recursos para vale-alimentação, educação, trabalho e outros benefícios sociais, como forma de compensar a redução de impostos para diversos setores.
O presidente do Conselho Diretivo do Washington Brazil Office (WBO), o professor de história James Green, explicou à Agência Brasil que o projeto de Trump deve fechar vários hospitais das áreas rurais, onde a dependência do Medicaid é maior.
“É um programa que atende as pessoas pobres e pessoas com deficiências para cobrir as despesas médicas. Como esse programa de subvenção do governo federal ajuda muito na sustentação de hospitais rurais, estima-se que centenas desses hospitais vão ser afetados, em geral nos estados onde os republicanos têm mais força. As pessoas vão ter que viajar mais horas para ir para um hospital”, comentou.
Para Green, são os estadunidenses mais pobres que vão pagar a conta. “Vai ser um desastre para 40% da população mais pobre. Essas pessoas vão perder não somente assistência médica, mas também vão reduzir recursos para isenções na compra de comida”, acrescentou.
Dívida Pública
Existe a previsão de que o corte de impostos aumente a dívida pública dos EUA em cerca de US$ 4,1 trilhões em 10 anos, ampliando o patamar que hoje está em 100% do PIB hoje para 127% em 2034. Já o impacto sobre o déficit primário nas contas públicas seria da ordem de US$ 3,3 bilhões nesse período.
“Se vários cortes temporários de impostos e aumentos de gastos se tornassem permanentes, o projeto adicionaria mais de US$ 5,3 trilhões à dívida e ela atingiria 130% do PIB [em 2034]”, diz o informe de especialistas do CRFB.
Conglomerados econômicos
O governo dos EUA aposta que o mega projeto permitirá alavancar a economia por meio da redução de impostos para diversos setores econômicos. “Um pacote legislativo transformador que garante alívio fiscal histórico, proporciona segurança nas fronteiras, reforma o bem-estar social, financia infraestrutura crítica e muito mais”, afirma a Casa Branca, em nota.
A medida é apoiada por grandes conglomerados econômicos dos EUA como os dos setores da comunicação, indústria de máquinas e equipamentos, do transporte rodoviário e aeroviário, hoteleiro, mercado financeiro, do petróleo, do aço, da agricultura, entre outros, que serão beneficiados com a redução de impostos.
O presidente do Conselho da Indústria de tecnologia da Informação dos EUA, Jason Oxman, sustentou que o projeto de lei garante que o país supere os concorrentes globais e permaneçam como líderes em tecnologia. “[O projeto] capacitará as empresas a investir nos Estados Unidos, restaurando despesas críticas com pesquisa e desenvolvimento e estimulando o crescimento econômico e a criação de empregos altamente qualificados”, disse.
Para o especialista do WBO James Green, os empresários serão beneficiados com a redução de impostos, que deve atingir ainda os 10% da população com renda mais alta. “Pessoas de classes médias, como eu, vai ter uma redução mínima nos impostos. Mas não será grande coisa. Em compensação, os estados terão que pagar por esses programas sociais que o governo está cortando”, avalia.
Meio Ambiente
Brasília (DF), 03/07/2025 – Presidente do Conselho Diretivo do Washington Brazil Office (WBO), o professor de história James Green. Foto: James Green/ Wikipédia – James Green/ Wikipédia
O mega projeto de lei de Trump também revoga uma série de subvenções econômicos aprovadas durante o governo Biden, reduzindo recursos e isenções ficais para veículos elétricos e projetos de energia renovável que somam US$ 543 bilhões, segundo cálculos do CRFB.
“Ele está querendo desmantelar todos os programas para o meio ambiente, como os subsídios aos veículos eletrônicos, a energia eólica, entre outros. Ele quer usar os recursos para expandir a exploração de petróleo. Ele não tem nenhum interesse no meio ambiente. Ele está só interessado em lucros”, avalia o professor da Universidade de Brown, nos EUA, James Green.
Já o Presidente e CEO do Instituto Americano de Petróleo, Mike Sommers, comemorou o mega-projeto aprovado.
“Esta legislação histórica ajudará a inaugurar uma nova era de domínio no setor energético, abrindo oportunidades de investimento, abrindo as vendas de arrendamento e expandindo o acesso à exploração de petróleo e gás natural”, disse
Internacional
Lula: governo tem apoio do povo para enfrentar sanção de Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou, nesta sexta-feira (11), que o governo tem apoio do povo brasileiro para enfrentar as sanções econômicas do governo dos Estados Unidos (EUA) e que o Brasil não pode “baixar a cabeça” para as chantagens e ameaças de Donald Trump.
“Esse país não baixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata. Ninguém. E eu acho que, nesse aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação”, disse o presidente, durante cerimônia, em Linhares, no Espírito Santo (ES), de lançamento de indenização a atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais (MG).
Diversos setores da sociedade brasileira têm criticado a medida do governo Trump de taxar todos os produtos brasileiros em 50%, incluindo organizações empresariais, de trabalhadores, meios de comunicação, do Parlamento e dos movimentos sociais.
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Lula voltou a defender o uso da Lei de Reciprocidade para responder as taxações de Trump caso as negociações com Washington não surtam efeito. Trump alega falsamente que os EUA têm déficit comercial com o Brasil, o que é desmentido pelas próprias estatísticas dos EUA.
“Entre comércio e serviço, nós temos um déficit de US$ 410 bilhões com os EUA [em 10 anos]. Eu que deveria taxar ele”, disse Lula, acrescentando que Trump está “mal informado”.
>> Entenda a guerra de tarifas de Trump e consequências para Brasil
Bolsonaro
O presidente Lula ainda fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que vem sendo investigado pelo Ministério Público (MP) por supostamente articular sanções contra o Brasil para escapar do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado. Já Trump alega que ele é vítima de perseguição política e associa as tarifas contra o Brasil ao julgamento do político do PL.
“Que tipo de homem que é esse que não tem vergonha para enfrentar o processo de cabeça erguida e provar que foi inocente? Quem está denunciando ele não é ninguém do PT, quem está denunciando ele são os generais e o ajudante de ordens dele, que era coronel do Exército”, disse Lula.
O presidente ainda questionou a ação da família Bolsonaro contra o julgamento da trama golpista. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se licenciou do cargo de parlamentar e foi para os EUA, onde pede ações do governo Trump contra o Brasil.
“O ‘coisa’ [Bolsonaro] mandou o filho, que era deputado, se afastar da Câmara para ir lá, ficar pedindo, ‘Ô Trump, pelo amor de Deus, Trump, salva meu pai, não deixa meu pai ser preso’. É preciso que essa gente crie vergonha na cara”, disse Lula, ainda na cerimônia, em Linhares (ES).
Bolsonaro é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar uma tentativa de golpe de Estado para anular as eleições presidenciais de 2022 com objetivo de se manter no poder. Ele teria pressionado os comandantes militares para aderir ao golpe, com planos de assassinatos do presidente Lula, do vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moras.
Nas redes sociais, Bolsonaro elogiou Trump, disse que a tarifa é resultado do afastamento do Brasil “dos seus compromissos históricos com a liberdade” e pediu “aos Poderes que ajam com urgência apresentando medidas” para resgatar a “normalidade institucional”. Bolsonaro e seus aliados negam os crimes imputados de tentativa de golpe de Estado.
Para analistas consultados pela Agência Brasil, a sanção de Trump contra o país é chantagem política mirando o Brics, a regulação das big techs e uma tentativa de interferir no processo judicial e político interno.
Internacional
Trump diz que deve falar com Lula, mas “não agora”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (11) que pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre e medida que taxou em 50% as exportações brasileiras. Contudo, Trump afirmou que a conversa não ocorrerá agora.
Durante visita aos afetados pelas enchentes no estado norte-americano do Texas, Trump foi perguntado se pretende conversar com Lula.
“Talvez, em algum momento, eu possa falar com ele [Lula], mas não agora”, respondeu.
Trump também voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Ele é um homem honesto, que ama o seu povo e é um negociador muito forte”, completou.
Na quarta-feira (9), Trump enviou uma carta ao presidente Lula e anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país norte-americano. As tarifas passam a valer a partir do dia 1º de agosto.
No documento, Trump justifica a medida citando o ex-presidente Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Ele também destacou ordens do STF emitidas contra apoiadores do ex-presidente brasileiro que mantêm residência nos Estados Unidos.
Em reação ao tarifaço, Lula declarou que o Brasil é um país soberano com instituições independentes e que não aceitará ser tutelado por ninguém. O governo brasileiro também deve recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Internacional
China critica tarifaço contra o Brasil e acusa EUA de intimidação

O Ministério das Relações Exteriores da China criticou nesta sexta-feira (11) a tarifa de importação de 50% a produtos brasileiros anunciada esta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“A igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta das Nações Unidas e normas básicas nas relações internacionais”, disse a porta-voz do ministério, Mao Ning, ao ser questionada por uma repórter sobre o que achava da tarifa de 50% a produtos brasileiros anunciada por Trump.
“As tarifas não devem ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência”, concluiu Mao Ning.
No início da semana, quando Trump deu início ao envio das cartas aos parceiros comerciais com as ameaças de aumento de tarifas, Mao Ning já havia criticado o protecionismo norte-americano.
“A posição da China sobre as tarifas é consistente e clara. Não há vencedores em uma guerra comercial ou tarifária. O protecionismo prejudica os interesses de todos”, afirmou.
Entenda
Na última quarta-feira (9), o presidente dos EUA, Donald Trump, enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciando a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país norte-americano, a partir do dia 1º de agosto. No documento, Trump justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
No mesmo dia, o presidente Lula defendeu a soberania do Brasil e disse que a elevação de tarifas de forma unilateral será respondida com a Lei de Reciprocidade Econômica. Ontem (10), Lula afirmou que o governo federal vai abrir uma reclamação oficial à Organização Mundial do Comércio (OMC), para tentar reverter as tarifas.
Especialistas ouvidos pela Agencia Brasil classificam a pressão de Trump como chantagem política e dizem que a medida é uma reação ao Brics. Durante a Cúpula do bloco, ocorrida no domingo e na segunda-feira, no Rio de Janeiro, Trump já tinha ameaçado os países que se alinhem ao Brics com uma taxa de 10%.