Saúde
Uso excessivo de telas pode impactar desenvolvimento da fala infantil

Fonoaudióloga explica os sinais de alerta para atrasos na comunicação e as estratégias para estimular a linguagem das crianças
A interação precoce e excessiva com celulares, tablets e TVs pode comprometer o desenvolvimento da linguagem infantil. Muitos pais recorrem a esses aparelhos para entreter os pequenos e, assim, conseguirem realizar suas atividades diárias. No entanto, essa prática costuma acarretar atrasos na fala, alerta a professora do curso de Fonoaudiologia da Universidade Guarulhos (UNG), Marcella Fuzatti.
Antes mesmo da criança se comunicar, ela já interage com as pessoas e o mundo por meio de gestos e expressões. E a aprendizagem da fala acontece a partir de fonemas, ou seja, os sons de uma língua. “Conforme o pequeno se desenvolve, aprende a discriminar e interpretar o que escuta, passando a reproduzir. Para essa fala acontecer, é necessário um repertório, ou seja, a junção desses sons com significado, conhecido como palavras, a qual a criança aprende a utilizar para se referir a pessoas, objetos, mostrar desejos, explicar coisas e sentimentos, entre tantas funções”, comenta a especialista.
Um estudo australiano, publicado na revista médica Jama Pediatrics, analisou 220 famílias com filhos de até 1 ano que usavam, frequentemente, dispositivos com telas. O desenvolvimento deles foi acompanhado até os 3 anos e, durante o período, passaram, ao menos, um dia com um aparelho. O item registrou o som do ambiente, as interações, a quantidade de palavras ditas por adultos e o que foi emitido pelas crianças. Ao longo da pesquisa, os pequenos passaram a não se comunicar verbalmente. Quando a tela era tirada, tornavam-se violentos a ponto de fazer birra.
O conteúdo do estudo mostra como a exposição excessiva a conteúdos digitais limita a interação social, algo essencial para a aquisição da linguagem. A troca comunicativa envolve não apenas a repetição de palavras, mas também o aprendizado sobre tempo de espera, escuta ativa e interações dinâmicas com diferentes interlocutores. E os aparelhos com telas não oferecem este tipo de incentivo. “O cérebro infantil precisa ser constantemente estimulado por interações reais para desenvolver plenamente a fala. Até mesmo os desenhos que possuem palavras e programas educativos não substituem essa vivência, pois não há comunicação e troca efetiva”, esclarece a profissional.
Segundo Marcella, profissionais de Fonoaudiologia conseguem detectar sinais de atraso antes mesmo dos seis anos, uma vez que o desenvolvimento da linguagem segue padrões esperados para cada fase. “Entre sete e onze meses, por exemplo, a criança deve ser capaz de repetir sons. Por exemplo, ´mama´ e ´papa´. Além disso, precisa demonstrar compreensão de gestos, como dar tchau. A ausência desses comportamentos costuma ser um indicativo da necessidade de uma avaliação com um fonoaudiólogo”, ressalta.
“O atraso na fala tem múltiplas causas, como infecções de ouvido recorrentes ou falta de estímulo verbal adequado. No entanto, o uso de dispositivos eletrônicos tem se destacado cada vez mais como um fator significativo por reduzir o convívio social e privar a criança de experiências linguísticas enriquecedoras”, explica a professora.
Entre os sinais que podem ser indícios de problemas com a verbalização e linguagem estão: diferentes tipos de choros nos primeiros meses, falta de interesse em se comunicar e dificuldade na formação de frases. Se alguma dessas situações for familiar, é indicado procurar um profissional da fonoaudiologia para orientar sobre o caso.
“A boa notícia é que o diagnóstico precoce e a intervenção com estratégias simples podem reverter esse quadro, garantindo um desenvolvimento satisfatório da fala. Entre as medidas a serem adotadas estão a redução do tempo de exposição a telas, o estímulo a conversas e brincadeiras interativas, a leitura em voz alta e a participação ativa em atividades diárias. Assim, o pequeno aperfeiçoará suas habilidades comunicativas”, conclui Marcella Fuzzatti.
Saúde
Jovens com síndrome de Down usam internet pra mostrar potência

Em 2020, Laura Simões se tornou a primeira pessoa com síndrome de Down habilitada a dirigir no Brasil. Logo depois, ela resolveu partilhar essa e outras experiências de vida por meio do Instagram. A mensagem transmitida por suas historias não é de superação e, sim, de naturalidade:
“O meu processo de habilitação foi todo muito natural. Nas clínicas do Detran, eu não sofri capacitismo, preconceito e não teve facilitação. Tanto o psicólogo quanto o médico me deixaram muito tranquila, e o processo foi muito natural, como deve ser, porque direção é muito sério”, explicou a jovem de 24 anos, em um vídeo recentemente publicado por ocasião do Dia Mundial da Síndrome de Down, comemorado nesta sexta-feira, 21 de março.
A própria Laura afirma que o que mais limita a autonomia das pessoas com síndrome de Down não é a condição, mas “a falta de inclusão dentro da população padrão”. Felizmente, ela pôde estudar em escolas regulares, sempre teve muitos amigos ─ com e sem a síndrome ─ e contou com todo o apoio da família.
“Minha mãe é uma pessoa obstinada, disposta a qualquer coisa para o meu sucesso pessoal. Assim, nos habituamos aos desafios. Além disso, tem a coragem do meu pai em me incentivar nas novas experiências”.
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Uma publicação compartilhada por Laura Simões | Síndrome de Down | t21 (@lauraanormal)
Laura é apenas uma das muitas pessoas com síndrome de Down que têm usado a internet para mostrar que têm interesses e capacidades diversas. Não à toa, ela se apresenta nas redes sociais como Laura A Normal, ou @lauraanormal, subvertendo o termo preconceituoso usado para classificar pessoas com Down ou outras condições e deficiências.
“Nós temos muito conteúdo, mas nem sempre conseguimos nos expressar bem. Às vezes também não temos espaço. Quando juntamos os dois mundos, é maravilhoso”, destaca.
Hoje, ela estuda Publicidade e Propaganda e pensa em seguir com o trabalho de produção de conteúdo nas redes sociais, “de uma forma assertiva para as pessoas que precisam de informações e esperança de uma vida plena T21”. A sigla se refere à Trissomia do 21, alteração genética que leva à síndrome de Down, quando há três cromossomos 21 no código genético, ao invés de dois, o que é padrão. Isso provoca algumas alterações físicas e intelectuais, mas pessoas como Laura vêm mostrando que é possível construir autonomia e ter uma vida plena e saudável.
Zoë Avancini de Jong é mais um exemplo. A jovem de 18 anos gosta de mostrar sua rotina no Instagram e no YouTube, como a maioria das garotas e garotos dessa idade. Assim como Laura, ela também acha importante que as pessoas com a síndrome falem com naturalidade sobre a condição: “Algumas pessoas não gostam, mas, pra mim, não tem problema, porque eu amo ser assim”.
A mãe de Zoë, Marta Avancini, é jornalista e atualmente faz parte da coordenação da Fundação Síndrome de Down, em Campinas, São Paulo. Ela acredita que a família é essencial para construir a autonomia das pessoas com síndrome de Down, mas diz que esse é um trabalho delicado.
“Ao mesmo tempo que você tem que dar uma atenção para um monte de questões de saúde, do desenvolvimento cognitivo, você tem que ter um olhar positivo, trabalhando a autoestima. O segredo é olhar para a pessoa, não para a deficiência. Cada vez que você olhar para o seu filho, ou a sua filha, você tem que enxergar a pessoa que ela é. As necessidades de uma criança com deficiência intelectual não são diferentes, no fundo. Há especificidades, necessidades particulares, mas isso não é assim com toda criança, com todo ser humano?” complementa Marta.
Mas o preconceito da sociedade joga contra, e mesmo pessoas “bem-intencionadas” podem acabar infantilizando as pessoas com Down, e impedindo que elas vivam experiências positivas. “No fundo é capacitismo, ‘coitadismo’, uma visão quase assistencial de que a pessoa com síndrome de Down, antes de qualquer coisa, precisa de ajuda”, explica a mãe de Zoë
A jovem está terminando o ensino médio e planeja estudar publicidade e marketing, no ensino superior. Muitas vezes, essas atitudes normais acabam surpreendendo as outras pessoas, que não esperam que jovens com síndrome de Down possam viver as mesmas experiências dos jovens padrão. “Eu tenho um namorado que não tem a síndrome e eu amo muito”, conta Zoe.
Até mesmo Marta, que é engajada no movimento pelos direitos da população T21 confessa que “pirou” quando o namoro começou: “Eu fiquei com medo ─ simplesmente porque essa possibilidade nunca tinha passado pela minha cabeça. Isso é uma manifestação de capacitismo.”
Laura também diz que ainda é muito subestimada pelas pessoas, inclusive por quem a conhece, e que suas opiniões muitas vezes são invalidadas por causa do preconceito. Mas não se deixa abalar por isso.
“Penso em terminar a faculdade, fortalecer a minha independência, e principalmente a interação social, porque ninguém é feliz sozinho!”
Saúde
STJ mantém multa contra casal que não vacinou filha contra a covid-19

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu manter a decisão da justiça do Paraná que multou em três salários mínimos um casal que se recusou a levar a filha de 11 anos para vacinar contra a covid-19 durante o período da pandemia. O julgamento foi realizado na terça-feira (18).
A Terceira Turma do STJ negou um recurso protocolado pela defesa dos pais da criança para derrubar a decisão que aplicou a multa com base no artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O dispositivo prevê a penalidade no caso de descumprimento de decisão judicial. Antes da decisão, a família foi orientada pelo conselho tutelar e pelo Ministério Público sobre a importância da vacinação.
Pais devem proteger os filhos
Por unanimidade, os ministros do colegiado seguiram voto proferido pela relatora, Nancy Andrighi. Para a ministra, a Constituição determina que os pais devem cuidar e proteger seus filhos.
“A vacinação não significa a proteção individual das crianças e adolescentes, mas representa um pacto coletivo pela saúde de todos, a fim de erradicar doenças ou minimizar suas sequelas, garantindo-se uma infância saudável e protegida”, afirmou a ministra.
Em outra decisão recente sobre a questão, o STF considerou inconstitucional uma lei municipal de Uberlândia, em Minas Gerais, que impediu a vacinação compulsória da população e proibiu sanções contra quem não se vacinou em 2022.
Saúde
Cristo Redentor será iluminado de roxo para alertas sobre obesidade

O Monumento ao Cristo Redentor será iluminado de roxo nesta quinta-feira (20), a partir das 20h, em uma ação da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). A iniciativa faz parte da campanha global Mudar o Mundo pela Nossa Saúde, que tem a finalidade de conscientizar a sociedade sobre os fatores ocultos que têm impulsionado o avanço da obesidade.
Entre os vilões ocultos, estão as mudanças climáticas, que afetam a qualidade e a disponibilidade dos alimentos in natura, a falta de planejamento urbano, que reduz as oportunidades de prática de atividade física; e os ambientes escolares, que por vezes oferecem opções alimentares ultraprocessadas, além de reduzirem o número de aulas de educação física. Dados do IBGE apontam que apenas 27% das escolas públicas municipais brasileiras têm instalações esportivas adequadas, como campos de futebol, ginásios, piscinas ou pistas de atletismo.
De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, 31% da população adulta brasileira é obesa e 68% vive com excesso de peso. As projeções indicam que, sem medidas eficazes, o número de adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) elevado pode chegar a 119 milhões até 2030. Além disso, a obesidade está associada a mais de 60 mil mortes prematuras por ano no Brasil, relacionadas a enfermidades como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares.
De acordo com o presidente da Abeso, Fabio Trujilho, não se pode tratar a obesidade como uma responsabilidade apenas individual, já que, para ele, fatores sistêmicos e estruturais desempenham um papel crucial nesse cenário. Desta forma, iluminar o Cristo Redentor é uma forma de dar visibilidade a essas questões.
Escolas
A campanha reforça que o ambiente escolar é fundamental na formação de hábitos alimentares e de atividade física. Segundo o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a merenda escolar é projetada para fornecer entre 20% e 70% das necessidades diárias de energia e nutrientes das crianças, dependendo do número de refeições oferecidas na escola. Entretanto, a falta de uma lei federal específica que proíba a oferta de refrigerantes ou alimentos ultraprocessados nas cantinas escolares ainda compromete a qualidade nutricional das refeições dos estudantes.