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Educação

Com 64 parques tecnológicos, desafio do Brasil agora é interiorização

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Com 64 parques tecnológicos, desafio do Brasil agora é interiorização
© Fernando Frazão/Agência Brasil

Peças-chave no processo de inovação na economia brasileira, os parques tecnológicos reúnem universidades e empresas com apoio de governos para transformar ideias em produtos e serviços inovadores para o mercado. Neste mês, completam-se quatro décadas de criação dos dois parques mais antigos ainda em operação: de São Carlos, em São Paulo, e de Campina Grande, na Paraíba.

Passados 40 anos, esse ambiente de conexão entre pesquisa, inovação e mundo empresarial se expandiu no país. Dados da plataforma InovaData, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) mostram que existem no país 64 parques tecnológicos em operação.

Além deles, há 29 em processo de implantação e oito sendo planejados. Para a diretora de Apoio aos Ecossistemas de Inovação do MCTI, Sheila Pires, esses parques são importantes para estratégias de desenvolvimento do país nas áreas de ciência e tecnologia, transição energética e bioeconomia, por exemplo.

“Há um espaço muito propício para que esses ambientes de inovação sejam mais do que parceiros. Mas que eles sejam protagonistas para que a gente possa alcançar o que essas políticas estão buscando, que é maior sustentabilidade, desenvolvimento e inclusão. Enfim, tornar o Brasil reconhecido pelo seu talento, pela sua inovação, pela sua tecnologia e um país que tenha uma indústria competitiva, de ponta”, afirmou Sheila.

 O Parque de Inovação Tecnológica (PIT), complexo de inovação e empreendedorismo que abriga diversas empresas de alta tecnologia, é a sede da Conferência Anprotec 2024.  Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo ela, o Brasil tem uma história muito bem-sucedida em termos de parques tecnológicos, mas ainda há muito espaço para crescer, principalmente em termos de ampliar a interiorização e criar mais polos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

“A gente tem quase uma centena de parques [contando com aqueles em projeto], mas a maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. E ainda assim, nas regiões Sul e Sudeste, muitos deles estão nas regiões metropolitanas. A gente precisa interiorizar mais isso. E tem muito espaço para crescer nas outras regiões. Na região Norte, por exemplo, só tem um parque tecnológico, no Pará, que é o PCT-Guamá. A gente tem notícias de outras duas iniciativas que estão sendo desenhadas. Mas são nove estados na região Norte, então tem muito espaço para crescer”. 

A presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Adriana Ferreira de Faria, destaca que as cerca de 3 mil empresas abrigadas pelos parques tecnológicos têm um impacto importante localmente e também no cenário nacional.

“Essas empresas fecharam o ano passado, por exemplo, com faturamento da ordem de R$ 15 bilhões e geraram mais de 75 mil empregos. Se a gente pegar toda a política pública no Brasil de apoio a esses ambientes nos últimos 30 anos, talvez estejamos falando de investimentos públicos da ordem de R$ 7 bilhões. Então o resultado dessas empresas demonstra a importância desses ambientes para o desenvolvimento”.

Segundo Adriana, que também é diretora-executiva do TecnoParq, o parque tecnológico de Viçosa (MG), a perspectiva para o setor no país é boa, uma vez que grande parte dos parques ainda é jovem. “Quando esses parques atingirem a maturidade, que normalmente ocorre com 20, 25 anos, esses números serão infinitamente melhores”.

História

O ano era 1984 e o país se preparava para encerrar uma ditadura que já se arrastava por 20 anos. O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na época, Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, percebeu a importância de conectar centros de pesquisa com o meio empresarial, de modo a estimular a inovação na economia.

O movimento de criação desses locais de conexão entre os dois mundos, acadêmico e corporativo, os parques tecnológicos, começou na década de 50 nos Estados Unidos, ganhando força nos anos 70, com sua expansão na Europa e na Ásia. O Brasil estava ficando para trás.

“[Lá fora] estava sendo feito um esforço de governos para criar pontos de ligação entre as universidades, os centros de pesquisa, e o mercado, para fazer um sistema de transferência de tecnologia, de conhecimento, via apoio às startups, as empresas de base tecnológica. O Lynaldo compreendeu a importância disso, que o Brasil não podia ficar de fora desse esforço”, explica o professor da Universidade de São Paulo (USP) Sylvio Goulart Rosa Júnior.

Em 84, portanto, Lynaldo Albuquerque decidiu criar um programa nacional de parques tecnológicos, que daria origem aos primeiros espaços desse tipo no país. Entre os pioneiros, estariam dois parques que até hoje estão em funcionamento: o de Campina Grande, na Paraíba, e o de São Carlos, em São Paulo.

Pioneirismo

O professor Sylvio Goulart participou do processo de criação do Parque de São Carlos, cidade localizada a 230 quilômetros da capital paulista, em 16 de dezembro de 1984. Foi o presidente do centro, por vários anos, e hoje é diretor técnico.

“No comecinho de 85, a gente conseguiu incubar a primeira empresa, a Opto Eletrônica, em 2 de janeiro. Fomos a primeira incubadora da América Latina”, revela Goulart. “Essa empresa nasceu dentro da oficina de ótica de precisão do Instituto de Física [da USP, em São Carlos] e está lá até hoje”.

A primeira empresa incubada por um parque tecnológico do país também foi a primeira do hemisfério sul a produzir laser e a primeira do país a fabricar um leitor de código de barras para uso em supermercados. Posteriormente começou a produzir equipamentos de uso médico. 

Segundo Sylvio Goulart, o parque tecnológico, que surgiu a partir da junção de universidades como a USP e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), além de instituições de pesquisa como a Embrapa, revolucionou a cidade.

“São Carlos é uma cidade pequena, com 250 mil habitantes, e para cada 100 habitantes, a gente tem uma pessoa com doutorado. Na nossa incubadora, tem hoje 30 empresas e praticamente todos os donos têm doutorado. Em alguns grupos de pesquisa [das universidades], a pesquisa dá o título [acadêmico], dá a patente e, algumas vezes, dá a empresa. O cara sai com uma empresa da universidade e a gente incuba”, conta.

O professor conta que as empresas incubadas pelo parque tecnológico geram riqueza, através do pagamento de tributos e do consequente investimento desses tributos na cidade.

“Então a cidade é pequena, no interior do estado, e tem uma qualidade de vida relativamente boa, com problemas de infraestrutura mais ou menos resolvidos, bons hospitais e boas escolas”.

São José dos Campos (SP) 02/12/2024 – Professor Sylvio Goulart Rosa Júnior fala sobre o impacto do parque tecnológico na cidade de São Carlos – Fernando Frazão/Agência Brasil

São José dos Campos

Apesar dos parques tecnológicos só terem surgido como instituições oficialmente estabelecidas na década de 80, o município de São José dos Campos, também em São Paulo, considera-se sede do primeiro polo de tecnologia no país, já que é sede da gigante na fabricação de aviões Embraer, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), criados entre as décadas de 1940 e 60.

O Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (PIT) só seria criado em 2006. Atualmente reúne sede ou escritórios de quase 400 empresas, principalmente voltadas para a área aeroespacial, mas também atrai outros setores tecnológicos e prestadores de serviços para as indústrias e para os funcionários do próprio parque.

Uma dessas empresas é a Tria Software, criada cinco anos atrás com o objetivo de desenvolver soluções tecnológicas para outras empresas. “Para nós, é muito estratégico ter uma sala no PIT porque nos possibilita uma troca com outras grandes empresas de tecnologia, um ambiente de muita inovação e muita colaboração. E a gente sabe que isso é essencial para impulsionar nosso desenvolvimento”, afirma a gerente de marketing da empresa, Angela Moura.

No PIT, também podem ser encontrados polos universitários e escritórios de órgãos governamentais, como a sede do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

“Esses ambientes de inovação são espaços apropriados para que a gente possa gerar inovação, entendendo que essa inovação vem, muitas vezes, de uma pesquisa científica. Ela surge lá numa bancada [de um laboratório universitário] e passa a ter uma aplicação direto no mercado”, afirma Sheila Pires, do MCTI. “Os parques tecnológicos ajudam a gerar novas empresas, fazem a articulação com grandes empresas, atraem investidores e trazem profissionais de ciência e de tecnologia”.

 A Sala de Situação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), no Parque de Inovação Tecnológica (PIT).  Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

*A equipe da Agência Brasil viajou a convite da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)  

Com informações: agenciabrasil.ebc.com.br

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Educação

Enem: começa prazo para recorrer de negativa de atendimento especial

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© Jose Cruz/Agência Brasil

Quem teve a solicitação negada para atendimento especializado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025 pode apresentar recurso a partir desta segunda-feira (23) até sexta (27).

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados na Página do Participante.

Para solicitar nova análise quanto aos atendimentos especializados, é necessário enviar documentação que comprove a condição alegada.

O participante deverá prestar informações exatas e verdadeiras no sistema de inscrição quanto à condição que motiva a solicitação de atendimento especializado e/ou de recurso de acessibilidade, sob pena de responder por crime contra a fé pública e de ser eliminado do exame a qualquer tempo.

O Inep tem o direito de exigir, a qualquer momento, documentos que atestem a condição que motiva a solicitação de atendimento especializado.

Se o participante necessitar de recurso de acessibilidade não previsto no edital ou de atendimento especializado devido a acidentes ou casos de força maior, após o período de inscrição, deverá solicitá-lo por meio do Fala.BR, com o envio de documento que comprove a situação, até dez dias antes da aplicação do exame, em 9 e 16 de novembro, nas 27 unidades da Federação.

Somente nas cidades de Belém, Ananindeua e Marituba, no Pará, o Enem será aplicado, excepcionalmente, em 30 de novembro e 7 de dezembro, devido à realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Taxa de inscrição

Quem não é isento da taxa de inscrição deve pagar o valor de R$ 85 até sexta-feira (27).

O candidato pode quitar o boleto gerado na Página do Participante por Pix, cartão de crédito, débito em conta corrente ou poupança (a depender do banco). Para pagar por Pix, basta escanear o QR Code disponível no próprio boleto.

Os estudantes que vão concluir o ensino médio de escolas públicas em 2025 são isentos da taxa e, por isso, não terão os boletos gerados.

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Educação

“Z de zangão”: projeto aproveita vivências para alfabetizar no mangue

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© Fernando Frazão/Agência Brasil

Na Vila dos Pescadores de Ajuruteua, no município de Bragança, no nordeste do Pará, o abecedário ensinado a crianças e adolescentes é diferente. Sentados em círculo em um galpão com estrutura de palafita, erguido por troncos de madeira que impedem que as marés inundem a escola, os estudantes associam o ambiente que os cerca a cada uma das letras. O “R” é de rancho, o “O” é de ostra, o “Z” ali não é de zebra, mas de zangão e o “M”, de mangue – ecossistema no qual estão imersos e do qual a maior parte das famílias ali retira o sustento.

“O que a gente faz aqui é com que eles identifiquem o espaço deles a partir da leitura. Explicamos, não pela escrita em si, mas pela fala, pelos desenhos, por jogos. Assim, eles conseguem identificar as letrinhas com aquilo que eles vivenciam diariamente”, explica a professora alfabetizadora Pâmela Gonsalves. As aulas fazem parte de uma das iniciativas do projeto Mangues da Amazônia, o AlfaMangue.

 

Além de promover o reflorestamento, o mapeamento do manguezal e das espécies que ali habitam, o projeto também é voltado para a educação ambiental e para as necessidades das comunidades que vivem nas áreas de mangue. O AlfaMangue surgiu a partir da identificação de uma dessas necessidades: muitas crianças e adolescentes estavam com a aprendizagem defasada ou não sabiam ler ou escrever. As aulas funcionam como um reforço ao ensino regular, em contraturnos e nos finais de semana.

A Vila dos Pescadores não possui escola, e os estudantes precisam ir à comunidade vizinha, a Vila do Bonifácio, para assistir às aulas. O problema, diz Pâmela, é que para isso precisam atravessar uma ponte, o que frequentemente não é possível.

“A maré enche e, então, essas crianças faltam muita aula, porque não conseguem atravessar a ponte. Elas têm dificuldade na escrita porque elas não vão muito para escola por causa da maré”.

 

Na comunidade, cerca de 25 crianças são atendidas pelo reforço. O AlfaMangue ocorre nos quatro municípios onde o projeto atua: além de Bragança, em Tracuateua, Augusto Corrêa e Viseu, atendendo, em cada localidade, de 20 a 25 crianças. Ao todo, envolvendo esta e outras iniciativas voltadas para educação ambiental, o Mangues da Amazônia chega a mais de 1,6 mil crianças de 7 a 11 anos em toda a área na qual atua. O projeto todo conta com 5,6 mil pessoas participando diretamente das ações e, nas aulas, o mangue é o centro.

“Sempre trabalhamos o manguezal. Ele é o nosso objeto de estudo e é também a nossa sala de aula. A gente realmente o usa como sala de aula ─ as raízes são nossas cadeiras para aprender lá também”, diz Pâmela. Os resultados já podem ser sentidos: “A importância da alfabetização é de ter leitura do mundo. Essas crianças conseguem se inserir na sociedade, conseguem mudar a realidade delas quando conseguem escrever seu próprio nome”.

 

Letras e peixes

Hévelly Fernandes, de 8 anos, é uma das estudantes atendidas pelo projeto. “Eu já sei escrever meu nome melhor. Eu aprendi coisas que nem eu nem eu sabia que existiam. Eu tenho um sonho na minha vida: ser pilota de avião. Só que, para isso, eu tenho que focar nos meus estudos. E eu tô focando”, diz.

No livro de estudos, ela desenhou o animal preferido que vive no mangue: um peixe. “Eu gosto muito de peixe, eu tenho um peixe, o nome dele é Rafael”, diz. “Eu aprendi que cuidar do mangue é bom porque do mangue vem no nosso alimento”.

 

Ao lado de Hévelly, a mãe, Rutelene Sousa, de 48 anos, acompanha orgulhosa os progressos da futura pilota. Rutelene vende os peixes que o marido pesca na região e é daí que vem o sustento da família.

“Saio 5h da manhã de casa, pego meu peixe e vou para Bragança vender, com ela. Aí, quando nós chegamos, ela vai para a aula. Ela estuda às 13h e sai às 17h. Quando ela vai pra lá, eu vou deitar um pouquinho, descansar. À noite, sou eu que estudo. Aí, de manhã, no outro dia, vou de novo para o meu trabalho”, conta Rutelene.

Ela percebeu que a filha tinha dificuldades na escrita e na leitura, e até chegou a buscar aulas particulares, mas isso não chegou a ser viável. “A minha filha tem muito conhecimento hoje em dia. Nós, pais, moramos na beira da praia, mas não temos tempo, às vezes, para levar o nosso filho, mostrar e explicar, porque o nosso dia a dia é muito corrido”, diz. “Hoje em dia, a minha filha pega uma cartilha e ela sabe ler”.

Com a filha estudando, Rutelene também se animou a retomar as aulas na Educação de Jovens e Adultos (EJA), em que passou a cursar o ensino médio, à noite. Ela diz que sempre foi um sonho, que acabou sendo adiado com o casamento, os filhos e a correria do dia a dia.

“A educação ensina muita coisa para a gente, abre muito as portas. Quando a gente é analfabeto, a gente é um cego de olho aberto. A gente não enxerga as coisas. Quando a gente sabe ler, sabe escrever, a gente vê as coisas com outro olhar, tem outro conhecimento”.

Mangue como inspiração

Em outra comunidade atendida pelo projeto Mangues da Amazônia, também em Bragança, na Vila do Tamatateua, é Edite Ribeiro da Silva que, aos 61 anos, está prestes a realizar o sonho de ter uma formação. Em dois meses, ela vai se formar em educação do campo no Instituto Federal do Pará (IFPA).

 

Edite coordena um grupo de mulheres que, na comunidade, cuidam no viveiro das mudas que serão plantadas nas áreas degradadas dos mangues. Elas também atuam na conscientização dos moradores e levam debates para as escolas.

“Minha mãe pescava, ela tirava caranguejo, minha avó também”, diz. “Às vezes, as pessoas não têm consciência do que estão fazendo dentro do manguezal. Não têm consciência do quanto nós, da comunidade de Tamatateua, precisamos desse ecossistema, de onde nós tiramos a nossa sobrevivência. Nossos pais, nossas mães, eles vivem do mangue. Eles pescam, eles tiram o caranguejo todos os dias”.

Edite se casou aos 15 anos, teve quatro filhos e seis netos. Os estudos, assim como os de Rutelene, acabaram ficando para depois. Mas ela nunca desistiu deles.

“Hoje, eu estou lá, estudando e ajudando também a nossa juventude, mostrando para eles a importância de se educar, de trabalhar, de cuidar, dentro daquilo que é nosso”, defende. “A gente tem que estudar para compreender, entender e buscar o conhecimento. O que é nosso direito, que às vezes nós temos, mas muitas das vezes é negado para nós”.

 

*A equipe da Agência Brasil viajou à Bragança entre os dias 11 e 14 de junho para conhecer o projeto Mangues da Amazônia, a convite da Petrobras, patrocinadora do projeto.

 

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Educação

SP: Justiça dá 5 dias para prefeitura explicar privatização de escolas

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© Rovena Rosa/Agência Brasil

A Justiça de São Paulo deu prazo de cinco dias úteis para que a prefeitura da capital paulista se manifeste sobre o projeto de conceder escolas da rede municipal de educação para organizações sociais.

A determinação da juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 9ª Vara de Fazenda Pública, foi provocada por uma ação popular ajuizada pela Bancada Feminista do PSOL da Câmara Municipal. O partido solicitou à Justiça que fosse suspensa qualquer tentativa de concessão de escolas públicas à iniciativa privada até que o Ministério Público finalize a investigação sobre o caso.

“Diante da relevância do tema e das declarações das autoridades, para formar meu convencimento, determino a intimação do Município de São Paulo para, se querendo, em 5 dias, apresentar informações e esclarecimentos”, escreveu a juíza, na decisão.

Recentemente, a Secretaria Municipal de Educação informou que três escolas municipais de ensino fundamental (Emefs) estão em construção nas regiões do Campo Limpo, Pirituba/Jaraguá e Santo Amaro, e que as unidades serão geridas, de forma compartilhada, por organizações da sociedade civil. Esse modelo já tem sido aplicado na Emef Liceu Coração de Jesus. De acordo com a prefeitura, isso visa “suprir o déficit de vagas nessas regiões”. A prefeitura não informou o valor que está sendo investido para a construção dessas escolas, que depois serão concedidas.

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O edital de chamamento público ainda está sendo elaborado, mas a prefeitura informou à Agência Brasil que espera publicá-lo em meados de agosto. A proposta de privatização, no entanto, vem sendo alvo de muitas críticas e questionamentos judiciais.

Em entrevista neste mês à Agência Brasil, a vice-presidente do Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (Sinesp) e supervisora escolar na rede municipal de educação de São Paulo, Letícia Grisólio Dias, disse que o projeto de privatização é uma “grande ameaça” para os trabalhadores da educação e também para a população em geral.

“Temos grandes preocupações com o uso de plataformas e sistemas de ensino que não dialogam com as realidades, principalmente aqui dos diferentes territórios do município. A gestão privada, trabalhando com uma grande massa, pode não enxergar as nossas inúmeras diferenças e algo que, nós, numa gestão democrática, acabamos por considerar muito mais. Então, temos trabalhado com o fato de que não haverá gestão democrática se não houver gestão pública”, enfatizou.

Procurada pela reportagem, a prefeitura de São Paulo escreveu, em nota, que “reafirma seu compromisso com a qualidade do ensino e a aprendizagem de todos os estudantes” e que “as três novas escolas em construção para gestão compartilhada com organizações da sociedade civil seguirão modelo semelhante ao da EMEF Liceu Coração de Jesus, que registrou desempenho superior ao da Rede Municipal de Ensino (RME) em 2023”.

“Todas as informações serão prestadas à Justiça dentro do prazo solicitado”, escreveu a administração municipal.

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