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Imperatriz Leopoldinense mostrará viagem de Oxalá ao reino de Xangô

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© Divulgação Imperatriz/ Redes Sociais Leandro Vieira

Se depender do envolvimento que os componentes da Imperatriz Leopoldinense vêm demonstrando com o enredo deste ano, a escola vai para a Marquês de Sapucaí com muita empolgação. Havia quase 50 anos que a escola não se apresentava com um tema afro e este era uma anseio da comunidade, plenamente atendido pelo carnavalesco Leandro Vieira, que criou o enredo Ómi Tútu ao Olúfon – Água Fresca para o Senhor de Ifón.

“Na verdade, tem quase 50 anos que a Imperatriz não faz isso, mas talvez há 50 anos a Imperatriz fosse desejosa disso. Os componentes estão felicíssimos, cantando, porque a escola de samba tem uma ligação muito forte com as matrizes afro. Está todo mundo mergulhado em um ambiente comum para uma escola suburbana, da periferia, formada, quase na exclusividade, por homens e mulheres pretos”, disse Leandro Vieira à Agência Brasil.

No desfile, a Verde, Branco e Ouro, de Ramos, zona norte do Rio, vai mostrar a viagem de Oxalá ao Reino de Xangô. “É a primeira vez que eu realizo um desfile mergulhado na estética afro. Isso já imprime um certo aspecto, uma certa visualidade que contribui. Como o carnaval, o desfile de uma escola de samba é uma atividade audiovisual. É muito importante que a visualidade esteja condicionada ao som e que o som esteja condicionado à visualidade. Quem olhar a Imperatriz e quem ouvir a Imperatriz vai encontrar áudio e visual de mãos dadas”, disse Leandro.

Na parte da sonoridade, também havia uma vontade grande de ter um enredo como este, que tem uma questão musical muito importante.” Um enredo deste tipo guarda também muita musicalidade. Era um pedido do mestre de bateria, um pedido do cantor, que a Imperatriz estivesse mergulhada em um enredo de sonoridade afro. Isso foi uma vontade de atender também os desejos das pessoas que trabalham comigo. Acho que escola de samba é time, e é bom quando o time todo é contemplado com a possibilidade de acerto”, afirmou o carnavalesco.

A aposta para conquistar o título do carnaval de 2025 é o envolvimento da comunidade. “Minha ideia é seguir o trabalho que tem sido feito, o investimento do poder da comunidade da Imperatriz, no canto, na dança e na evolução. A minha parte de visualidade é uma parte que quer ser bonita, grandiosa, mas o meu principal trabalho é primeiro a trabalhar esteticamente para estar à altura do canto, da dança e da evolução da Imperatriz. Segundo, construir uma estética que não prejudique nem o canto nem a dança da Imperatriz”, explicou.

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Detalhe de uma das alegorias que a Imperatriz Leopoldinense apresentará no desfile deste ano – Divulgação Imperatriz/ Redes Sociais Leandro Vieira

O desfile da Imperatriz vai começar justamente com a partida de Oxalá para a visita a Xangô.

“Como o enredo da Imperatriz é debruçado sobre um Itã [relatos míticos da cultura Iorubá], que fala da vontade de Oxalá de visitar Xangô, eu começo com um branco que é a saída de Oxalá do seu reino de Ifón. Tem os antecedentes da viagem e, no meio disso, tem os percalços da viagem [quando  se encontra com Exu sem entregar os agrados recomendados]. Na sequência, o banho de Oxalá encerra o Itã. Encerrando o desfile como um todo, tem a cerimônia das águas de Oxalá. que é o resultado do Itã”, detalhou Leandro.

Quesito importante

A comissão de frente é um quesito importante e muito disputado entre as escolas para chegar ao campeonato, e a Imperatriz conta com um premiado. Desde 2020, o coreógrafo Patrick Carvalho, tem conquistado dos jurados notas 10, tanto no Grupo Especial como na Série Ouro, o que se costuma chamar popularmente de ‘gabaritar o quesito’. 

Este ano, a busca pelas notas máximas para ajudar a Verde, Branco e Ouro a conquistar novamente um título começou há um ano com as pesquisas de Patrick para chegar à conclusão do caminho que deveria seguir. Os bailarinos artistas que vivem da dança, que integram a comissão, estão trabalhando há quatro meses, quando fizeram a audição para escolha do elenco. “Comigo é o ano inteiro: assim que sai o enredo, a gente já começa a trabalhar muito forte”, disse Patrick à Agência Brasil.

O coreógrafo não enfrentou dificuldades para desenvolver o seu trabalho, “Não estou enfrentando desafios porque é um enredo muito direto, é muito ok, muito simples. Na verdade, a maior dificuldade é transformar o simples no genial, porque é muito difícil conseguir fazer o simples ser genial, porque na verdade o mais bonito é o simples. É muita controvérsia, tipo, precisa ser simples, mas precisa ser genial. Para ser genial, você não pode sair do simples, porque você perde a mão, entendeu? Então essa briga é comigo mesmo.”

Patrick Carvalho reconheceu que a cultura preta marca o enredo forte, mas foi possível elaborar a coreografia para surpreender o público. “Este ano vou trabalhar com uma coisa [com] que nunca trabalhei e que é difícil de trabalhar. Estou apostando todas as fichas nesse efeito que vou levar para a avenida, para encantar a avenida. É aquela coisa de se superar, de entregar à Imperatriz o que ela merece e precisa ter de grandiosidade e com simplicidade de entrar e arrebatar a avenida.”

“Até antes desse enredo, fui muito de escutar músicas de Oxalá, porque me traz uma paz e uma emoção muito grandes. É um marco calmo que é muito forte. Oxalá é o tempo inteiro nesse lugar em que a caminhada é devagar, mas é muito forte. As músicas de Oxalá sempre me inspiraram muito, e agora cai no meu colo um enredo sobre Oxalá. Eu vou deitar e rolar”, deu pistas do que pretende mostrar na avenida.

Neste carnaval, Patrick está trabalhando com um elenco todo renovado. “Tirei todo mundo que trabalhou comigo e que vinha do Salgueiro e das outras escolas. Tirei real. Então, este ano é um elenco completamente novo com que nunca trabalhei”, disse, informando que serão sete homens e sete mulheres e um pivô.

Ao ser questionado se o pivô é Oxalá foi sucinto na resposta. “É”.

Samba-enredo

Para Leandro Vieira, nos desfiles, o samba-enredo é 95% do trabalho e os outros 5% são perfumaria. “O samba da gente está completamente envolvido com a contação disso. É um grande samba que a escola abraçou e canta a plenos pulmões.”.

O intérprete Pitty de Menezes concordou e disse que está bem confortável com o samba escolhido, ainda mais com o retorno que a comunidade está dando. “É muito gostoso ver a comunidade feliz. É um reencontro. A comunidade queria muito um enredo afro e um samba que fosse afro também. A comunidade está cantando muito, está pulsando. A comunidade está com muita vontade”, disse, animado, à Agência Brasil.

Pitty adiantou que o samba permite fazer umas bossas interessantes com a bateria e com a parte musical do carro de som. “Quando junta todos esses ingredientes está dando algo maravilhoso. O pessoal está cantando demais. Não só a comunidade da escola, mas o carnaval, pessoas de outras escolas cantando”, comentou o intérprete, acrescentando que a escola fez um ensaio com a Beija-Flor na Estrada da Mirandela, local em que a agremiação de Nilópolis costuma se apresentar e fazer ensaios de rua.

“A gente viu todo mundo da Beija-Flor cantando nosso samba. É maravilhoso. A gente está com uma expectativa muito grande para este carnaval, com o enredo maravilhoso do Leandro Vieira, que dispensa comentários. Para mim, é um dos maiores carnavalescos, e trabalhar com ele é uma honra. O enredo dele nos permitiu ter um samba como esse. Um samba aguerrido, um samba de fácil entendimento com o enredo e que está sendo muito cantado. Estou bem esperançoso de ganhar mais uma estrela e levar para Ramos o grande título com que sonhamos”, disse, confiante.

A Imperatriz Leopoldinense soma 11 títulos de campeã nos três diferentes grupos de escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro. São nove títulos no Grupo Especial (1980, 1981, 1989, 1994, 1995, 1999, 2000, 2001 e 2023); um na Série Ouro, em 2020, quando voltou a desfilar no Grupo Especial; e um na que seria hoje a Série Prata (terceira divisão), em 1961.

Bateria

O intérprete Pitty de Menezes elogiou ainda a bateria da escola. “É maravilhosa. O mestre Lolo [que comanda a bateria] é um irmão que o samba me deu, foi um encontro. Foi especial demais encontrar o Lolo e fazer parte desse time.”

Ele acrescentou que desde que chegou à escola, foram feitos os samba do Lampião, o do Xaxado e outros. “A gente fez com a Cigana, um pagodeado ali e, este ano, está trazendo o toque dos orixás. Cada orixá, o toque de Xangô, o toque de Oxalá, o toque de Exu. Então, o samba nos permite fazer esses toques e levar para a Sapucaí o conhecimento dos toques dos orixás. Vai ser muito especial”, afirmou, ao comentar o bom desempenho da bateria em enredos anteriores.

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Pesquisador indígena cataloga 150 plantas medicinais de seu território

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© Hemerson Dantas dos Santos Pataxó Hãhãhãi/Divulgação

A meta inicial era encontrar tratamentos para as três enfermidades mais recorrentes do povo Pataxó Hã-Hã-Hãi, da Terra Indígena Caramuru/Paraguassu, no sul da Bahia: verminoses, diabetes e hipertensão.

Assim começou a pesquisa do etnobotânico Hemerson Dantas dos Santos Pataxó Hãhãhãi, que – como o próprio nome indica – pertence a etnia e é doutorando do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Depois, já no âmbito formal da pesquisa acadêmica, Hemerson ampliou seu estudo e catalogou 175 plantas medicinais utilizadas pelo seu povo. A intenção foi resgatar os saberes ancestrais no uso de tais plantas, perdidos ao longo dos tempos.

Entre as várias descobertas ao longo da pesquisa, Hemerson constatou que, curiosamente, muitas das plantas medicinais utilizadas são espécies exóticas, introduzidas posteriormente no território.

Para o pesquisador, isso demonstra a fragmentação e o deslocamento forçado da população originária, acompanhados da devastação ambiental, ações de grileiros e instalação de grandes fazendas.

A história da terra indígena, território da pesquisa de Hemerson, é mesmo atribulada. Também conhecida como Terra Indígena Caramuru/Paraguassu, tem uma extensão de 54.105 hectares. Em 1926, foi tornada reserva indígena pelo então Serviço de Proteção ao Índio (SPI).

Na década de 40, com a expansão da cultura cacaueira, as terras foram invadidas por fazendeiros, expulsando boa parte dos indígenas do local. Nos anos de 1970, o governo da Bahia chegou a extinguir a reserva e concedeu títulos de propriedade a invasores.

Confrontos

No início dos anos 80, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), depois de uma longa batalha litigiosa na Justiça, conseguiu o reconhecimento das terras novamente aos indígenas, o que não impediu de existirem confrontos pela terra na região até hoje.

“Grande parte da cobertura de mata hoje se perdeu, virou pastagem. E, com isso, muitas das plantas citadas pelos anciões da aldeia foram muito difíceis de localizar e outras mesmo desapareceram”, disse Hemerson, ao comentar sobre as principais dificuldades que enfrentou no transcorrer da pesquisa.

“Quando eles voltam na década de 1980, muitas coisas tinham mudado, todo o cenário, então não tinha mais floresta, agora só pasto, as plantas foram perdidas. Então, o que foi interessante, que ele (Hemerson) cita bastante, foi ter entrado em contato com esse conhecimento sobre essas plantas do passado, dos anciões, que conheciam as plantas que existiam nas florestas antes da expulsão na década de 1940, e de tomar consciência de que era o conhecimento desses anciões”, completou Eliana Rodrigues, orientadora do doutorando na pesquisa.

 No que diz respeito propriamente aos resultados do estudo, o pesquisador descobriu 43 plantas utilizadas para o tratamento de três enfermidades – diabetes, verminoses e hipertensão. E a mais comum para as verminoses utiliza-se o mastruz. No combate a diabetes, a moringa, e para hipertensão, os indígenas recorrem ao capim-cidreira.

Além disso, a investigação verificou que 79% das 175 plantas pesquisadas têm seus usos em consonância com apontamentos da literatura científica recente.

Eliana destacou que o trabalho não representa apenas o registro do conhecimento do seu povo: “Mas ele também está resgatando”. Segundo Eliana, muitos dos conhecimentos do passado foram perdidos, mas ainda muito o que foi conservado como se pode ver no estudo.

“Hemerson é o primeiro pesquisador etnobotânico do mundo”, disse Eliana sobre as relações entre o pesquisador indígena e seu objeto de pesquisa.

Povos e plantas

O termo “etnobotânico”, inclusive, diz respeito à ciência que descreve a relação entre diferentes povos e suas plantas. “Registra o conhecimento sobre determinadas culturas sobre suas plantas e usos, para qualquer finalidade, como medicinal, alimentar, construção civil e naval, para qualquer coisa”, explica Eliana.

As descobertas da pesquisa de Hemerson deverão resultar em um livro sobre a pesquisa, outro de receitas para uso seguro das plantas e um audiovisual. Além disso, um viveiro de plantas foi implantado em uma aldeia para utilização da população local.

“Já estão desenvolvendo mudas no canteiro para poder distribuir ali entre os indígenas que moram naquelas aldeias próximas, além da aldeia de Hemerson”, completou a orientadora. 

 

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Planejamento da segurança em parques reduz riscos, mas não os elimina

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© Prefeitura de Cambará do Sul/Divulgação

A morte de uma menina de 11 anos dentro do Parque Nacional da Serra Geral chama atenção para a segurança nas unidades de conservação, que também são abertas ao turismo de aventura e contemplação. Logo após o acidente no Cânion Fortaleza, no município de Cambará do Sul (RS), a concessionária responsável pelo equipamento turístico declarou cumprir um conjunto de políticas e protocolos de segurança exigidos.

“Turistas são orientados a adotarem as práticas adequadas para a atividade em meio às trilhas, sobretudo nas bordas dos cânions. Placas sinalizam o caminho e alertam os visitantes ao longo do trajeto, sobre os riscos e as precauções que devem ser tomadas”, destaca a nota divulgada pela empresa Urbia Cânions Verdes, que atua nos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral.

De acordo com a empresa, também é mantida equipe de segurança com bombeiros civis treinados para atendimento a emergências ou acidentes. E, como as trilhas são classificadas de nível médio e intermediário, a contratação de guias de turismo registrados no Cadastur é opcional, mas não é intermediada pelo administrador do parque.

Todas essas regras integram o Sistema de Gestão de Segurança no Parque Nacional da Serra Geral, planejamento apresentado no Protocolo Operacional de Visitação (Prov), um documento aprovado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) dentro das exigências do contrato de concessão.

O documento é um plano detalhado de como funcionará cada área onde os visitantes podem acessar e que tipo de atividades pode ser praticadas por eles. Além de informações sobre horário de funcionamento, serviços disponíveis, monitoramento das visitas e restrições aos visitantes, também são descritos todos os componentes de segurança, seja de uso individual ou os que irão compor o ambiente, como sinalização, guarda-corpo e ancoragens fixadas ou naturais. Tudo deve ser aprovado pelo ICMBio, órgão técnico capaz de avaliar a viabilidade das atividades e equipamentos.

No caso do acidente do Parque Nacional da Serra Geral, o órgão informou, por meio de nota, que não foram detectadas falhas sistêmicas na segurança e na sinalização das áreas de visitação, mas acrescentou que “como órgão gestor e fiscalizador dos contratos de concessão dos serviços de apoio à visitação da unidade de conservação, tomará medidas para revisão e eventual reforço na segurança nos parques nacionais abertos à visitação.”

Turismo

Para o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), Luiz Del Vigna, é importante lembrar que seja uma caminhada em uma trilha no parque, um passeio a cavalo ou a descida em uma tirolesa, todas essas práticas implicam risco.

“O fato é que a atividade de turismo de aventura, em ambientes naturais, ambientes não controlados, é evidente que os riscos de acidentes, de incidentes, são maiores. Então, como há esse risco, a gente tem que se preparar e por isso criamos um conjunto de normas técnicas que versam sobre gestão de segurança”, diz

Del Vigna explica que são 44 as regras que regulam o setor do turismo de aventura, conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor. Entre as medidas previstas nas normas está o direito do consumidor saber que está pagando por uma atividade que implica um risco.

“Essa norma técnica brasileira é tão boa, que foi adotada pela ISO. Então, o que era uma norma técnica brasileira virou uma técnica internacional, que é uma norma expedida pela Suíça, pela ISO na Suíça, que é a ISO21101 o Sistema de Gestão de Segurança para Turismo de Aventura”, explica.

No Brasil, 75 parques nacionais são concedidos a empresas que operam o sistema de visitação e turismo de aventura. São unidades de conservação que variam muito no tamanho e na complexidade dos serviços oferecidos, mas que, de forma geral, são seguros, explica o diretor executivo.

“O ICMBio adotou nos seus regulamentos internos que dentro dos processos de concessões de serviços de natureza de turismo dentro das unidades de conservação federais é obrigado a ter um sistema de gestão de segurança. Então, os parques e os concessionários trabalham para isso”.

Riscos

Dentro dos parques, o risco é minimizado pelo processo de fiscalização e pela presença dessas normas técnicas no processo de concessão, afirma Del Vigna. O mesmo não ocorre no mercado externo de turismo de aventura.

O representante da Abert diz que a informalidade, a falta de fiscalização e a forma de consumo praticada pelo consumidor, que prioriza o custo à segurança, representam os principais desafios para o setor, quando o quesito é minimizar riscos.

“Os parques nacionais brasileiros são seguros, eles não oferecem riscos adicionais aos que são característicos da região, como talvez a segurança, no Rio de Janeiro, por exemplo. Não é um risco diferente de você estar em Copacabana, ou na Avenida Paulista.”

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Especialistas mostram pejotização como fraude que precariza jornalismo

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© Paulo Pinto/Agência Brasil

O suposto glamour que, muitas vezes, parece envolver a profissão de jornalista e outras atividades de comunicação social, na verdade esconde uma realidade de intensa precarização profissional.

O cenário foi avaliado em um debate com especialistas na última semana, e ocorre na esteira do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do processo que pode dar ares de legalidade a uma típica fraude trabalhista, a chamada pejotização, que é quando empresas contratam prestadores de serviços como Pessoa Jurídica (PJ), evitando criar uma relação de vínculo empregatício formal e, com isso, descumprir as obrigações previstas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

“Temos uma pejotização irrestrita na área da comunicação, que é uma fraude trabalhista, utilizada por grandes, pequenos e médios empregadores, que se valem desse modelo para obter mais lucro explorando a única coisa que a gente tem, que é a nossa mão-de-obra”, destacou Samira de Castro, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), no debate transmitido na página da federação.

Segundo a jornalista, este fenômeno de pejotização começou ainda em meados da década de 1980, quando os profissionais passavam a ser contratados na modalidade “frila fixo” ou sócio-cotista, modelos recorrentemente aplicados por agências de comunicação. Desde então, a situação se agravou e, na atualidade, o número de trabalhadores da comunicação que trabalham por conta própria explodiu.

De acordo com os dados disponibilizados pela Receita Federal à Fenaj, apurados em 3 de junho deste ano, há 33.252 empresas com CNPJ registrados como microempreendedor individual (MEI), em atividades econômicas ligadas à edição de jornais e revistas.

“Existem 33 mil pessoas editando jornais e revistas no país? Quase o mesmo número de jornalistas com carteira assinada, basicamente. Claro que não, isso é a constatação de uma fraude trabalhista. E os nossos 31 sindicatos recebem diariamente denúncias de tentativa de escamoteamento desse vínculo formal”, denuncia Samira.

“A gente conseguia muito, na Justiça do Trabalho, comprovar vínculo, fazer com que direitos fossem reconhecidos e pagos. E agora, com esse tema no STF, é um grande golpe para a classe trabalhadora e contra os jornalistas”, lamenta a presidenta da Fenaj.

Na contramão desse processo, o número de vagas formais de trabalho na comunicação vem despencando ano após ano, com uma redução de 18% no número de empregos CLT em uma década. Em 2013, o número de vínculos com carteira assinada de jornalistas no Brasil era de 60.899, mas baixou para 40.917 em 2023, segundo dados apurados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), compilados a partir de consultas à Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e ao Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), ambos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). São vagas que, na prática, foram extintas, para dar lugar a contratações informais ou legalmente frágeis. Os números foram divulgados em abril pela federação.

Consciência de classe

“Afinal de contas, por que isso se facilitou nesse meio específico, o da comunicação? Compreender os porquês nos ajuda a superar essa situação. O primeiro dado concreto que a gente tem que pensar é que trata-se de um nicho, os empregadores no setor são muito poucos, e eles conseguem fazer uma espécie de cartel, de aliança, de tal modo que, se uma pessoa não se submete aquelas condições, ele não é empregado nem por um nem por todos”, analisa o jurista Jorge Souto Maior, professor livre-docente de direito do trabalho pela Universidade de São Paulo (USP) e desembargador aposentado do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região.

A única forma de reagir a isso, defende o docente, é de forma coletiva, por meio da conscientização dos trabalhadores e sua organização em sindicatos.

“Muitos jornalistas não se veem com trabalhadores, mas como empreendedores, como trabalhadores intelectuais, o que de fato são, mas trabalhadores intelectuais são explorados tanto quanto trabalhadores manuais, cada um a seu modo. Na questão do mundo do trabalho não existem democráticos e não democráticos. É a classe dominante contra a classe trabalhadora”, reforçou.

Para a presidenta da Fenaj, é preciso se desvencilhar de uma narrativa ainda dominante no mercado da comunicação. “O discurso sedutor do eu empreendedor, o patrão de si mesmo, para o trabalhador jornalista, isso não cola. Estamos subordinados a um veículo com sua linha editorial, que inclusive causa muito sofrimento psíquico. Essa pejotização fraudulenta está ferindo de morte os trabalhadores e a nossa categoria”, apontou Samira de Castro.

“Ser classe trabalhadora não é rebaixamento, é a explicitação do real. Se não somos capitalistas, donos dos meios de produção, então somos classe trabalhadora, e temos que lutar juntos por melhores condições de trabalho. É sindicalização mesmo, greve e organização política como classe. Individualmente, nós não vamos resolver os problemas”, enfatiza Souto Maior.

Tecnologia e apropriação

A esse modelo histórico de precarização, soma-se um processo de reconfiguração do mundo do trabalho capitaneado pelas grandes empresas de tecnologia, as chamadas Big Techs. Referência nos estudos sobre comunicação, trabalho e plataformas digitais, a professora Roseli Figaro, da USP, avaliou que a precarização assumiu patamares ainda desafiadores na atual fase do capitalismo.

“As grandes empresas controlam a produção e o fluxo informacional do mundo. Não apenas o fluxo dos usuários comuns, que querem se falar, mas elas controlam as ferramentas que proporcionam o trabalho em diferentes áreas profissionais, do advogado, do professor, do médico, do psicólogo, do dono da padaria e, sobretudo, o trabalho dos profissionais da comunicação”, apontou a pesquisadora.

Ao mesmo tempo em que reformulou o trabalho, o capitalismo informacional, segundo Roseli Figaro, subordinou as empresas tradicionais do mercado de comunicações às grandes empresas de tecnologia.

“A monetização do jornalismo [na internet] não é mais circulada nos links. Agora, as notícias são apropriadas e sintetizadas como texto da própria inteligência artificial do Google, a Gemini, por exemplo. Mesmo citando a fonte, ninguém sequer precisa abrir o link, como se fazia antes. O que é isso senão a apropriação da propriedade intelectual do outro?”, questionou a professora.

O tema da inteligência artificial generativa, que está impactando a indústria de notícias, tem sido apontado por especialistas e organizações como crucial no mundo contemporâneo e que deve ser objeto de regulação por parte dos governos.

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