Política
Lula anuncia investimentos em educação para comunidades tradicionais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta quinta-feira (24), as políticas públicas educacionais para as populações tradicionais, como quilombolas e indígenas, para a inclusão socioeconômica desses povos. Lula participou de cerimônia de anúncios do governo federal na área de educação e igualdade racial em Minas Novas (MG), no Vale do Jequitinhonha.
“Hoje eu venho aqui reconhecer os saberes do povo dessa região, reconhecer o valor dos indígenas, reconhecer o valor dos quilombolas, reconhecer os valores das mulheres, reconhecer os valores daquelas pessoas que trabalham de sol a sol para construir a sua própria vida, a cidade e a região”, disse.
O presidente citou uma jovem quilombola presente no evento, estudante de doutorado em Brasília. “Muitos de vocês ficam se perguntando por que que ela conseguiu vencer na vida. Ela ainda vai vencer mais, ela é muito nova. E ela só venceu na vida porque tinha política pública que permitia que uma pessoa pobre possa estudar nesse país, que uma quilombola possa ser doutora, possa fazer mestrado, possa fazer pós-graduação e possa ser o que quiser”, afirmou.
Um dos destaques apresentados hoje é o investimento de R$ 1,17 bilhão na construção de 249 escolas voltadas a comunidades indígenas e quilombolas, no âmbito do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As obras estão sendo entregues desde 2024 e continuam até o ano que vem. O governo também trabalha em 22 obras emergenciais nos territórios Yanomami e Ye’Kwana, incluindo escolas e um centro de formação de professores.
O presidente ainda assinou portaria de implementação da Política Nacional de Educação Escolar Indígena e visa concretizar a organização da educação escolar indígena em Territórios Etnoeducacionais que respeitem as necessidades e especificidades sociais, históricas, culturais, ambientais e linguísticas de cada povo.
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A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, lembrou que a taxa de analfabetismo entre a população indígena é o dobro da taxa nacional. Enquanto o analfabetismo alcança 7% da população brasileira, entre os indígenas o percentual é de 15%.
Guajajara falou ainda sobre os problemas estruturais das escolas indígenas: 26% não têm esgotamento sanitário, 27% não têm água potável, 55 não têm internet, 90% não têm biblioteca, 94% não têm quadra de esportes. Além disso, 78% dos professores são temporários.
“O caminho ainda é um tanto longo para nós chegarmos ao modelo equitativo, que oferece igualdade de oportunidade para as pessoas indígenas e, mais ainda, para chegarmos ao modelo culturalmente adequado. A pessoa indígena tem o direito de ser alfabetizada e ser competitiva no mercado de trabalho. Mas acima de tudo, tem o direito de se tornar um cidadão dentro de sua terra indígena, com os aprendizados próprios que fazem sentido para o seu povo e na sua cosmovisão em harmonia com a terra”, defendeu a ministra.
A cerimônia desta quinta-feira integra o 1º Encontro Regional de Educação Escolar Quilombola do Sudeste, que reúne iniciativas interministeriais em diálogo direto com as comunidades locais, em especial do Vale do Jequitinhonha.
Novas políticas
O governo também institui o Programa Escola Nacional Nego Bispo que vai integrar os saberes tradicionais sobre história e cultura afrobrasileiras e indígenas na formação de professores das instituições públicas de ensino superior. A valorização e integração desses saberes também está prevista na formação continuada de profissionais da educação básica, conforme a Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola.
“Com isso, pretende-se garantir o pluralismo de ideias, de concepções pedagógicas e epistemológicas e o protagonismo dos sujeitos, de trajetórias e concepções epistemológicas dos territórios, visando alterar os processos históricos de invisibilização e enfrentar o racismo no âmbito das instituições de ensino”, explicou o governo, em comunicado.
Ainda, foi oficializada a Política Nacional de Educação do Campo, das Águas e das Florestas (Novo Pronacampo) que tem o objetivo de ampliar, qualificar e garantir a oferta, o acesso e a permanência à modalidade da educação do campo, em todas as etapas e níveis de ensino. Entre as metas estão a estruturação de um sistema de avaliação e monitoramento da educação dos povos do campo, das águas e das florestas e consolidação da modalidade com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar do Campo.
Também entre os anúncios está a criação da moradia estudantil do Campus Quilombo Minas Novas, do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). O novo campus integra o plano de expansão dos 102 novos institutos federais pelo país e irá atender, prioritariamente, as comunidades quilombolas e demais povos tradicionais da região, a partir de uma perspectiva de educação articulada entre o contexto local, os conhecimentos tradicionais e seus arranjos produtivos, sociais e culturais.
O Ministério da Igualdade Racial e a prefeitura de Minas Novas assinaram termo de adesão do município à Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola, que busca fortalecer a autonomia, a autogestão e o etnodesenvolvimento dessas comunidades, conciliando o desenvolvimento socioeconômico com a proteção ambiental.
Patrimônio cultural
Também durante o evento, Lula conferiu o título de patrimônio cultural do Brasil aos Saberes do Rosário: Reinados, Congados e Congadas. Eles são tradições ancestrais afrobrasileiras com mais de 300 anos de história, atualizadas por meio da devoção à Nossa Senhora do Rosário, porém mantendo sua identidade fundamental, que é a ancestralidade de matriz africana, com canto, ritmo e dança.
A titulação é o ato oficial destinado a reconhecer que um bem cultural imaterial integra o conjunto de saberes e expressões que compõe o patrimônio cultural brasileiro. O reconhecimento é feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Política
Lula chama Trump “para conversar” e reafirma que Brasil tenta negociar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (25), que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi induzido a acreditar “em uma mentira”, de que o ex-presidente Jair Bolsonaro está sofrendo perseguição no Brasil. “O Bolsonaro não é um problema meu, é um problema da Justiça brasileira”, disse Lula durante evento em Osasco (SP).
“O Bolsonaro não está sendo perseguido, ele está sendo julgado com todo o direito de defesa. Ele tentou dar um golpe nesse país, ele não queria que eu e o [vice-presidente, Geraldo] Alckmin tomássemos posse e chegou a montar uma equipe para matar o Lula, o Alckmin e para matar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o Alexandre Moraes. Isso já está provado por delação deles mesmos”, disse o presidente.
Lula se colocou à disposição para negociar a taxação de 50% que os EUA querem impor às exportações brasileiras. “Se o presidente Trump tivesse ligado para mim, eu certamente explicaria para ele o que está acontecendo com o ex-presidente”, afirmou.
Para o presidente, o filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se licenciou do mandato na Câmara e foi para os Estados Unidos pedir intervenção no Brasil, “numa total falta de patriotismo”. “Vocês na Câmara tem que tomar uma atitude”, disse Lula aos deputados presentes na cerimônia.
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No último dia 9 de julho, o presidente Trump enviou uma carta a Lula anunciando a imposição da tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir do dia 1º de agosto. No documento, Trump justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no STF por tentativa de golpe de Estado; ele pede a anistia a Bolsonaro.
Diálogo
Lula, então, acionou o vice-presidente Alckmin, que também é ministro da Indústria, Comércio e Serviço, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para negociarem uma solução diplomática com o país norte-americano. O governo também criou um comitê para discutir as taxações com o setor produtivo brasileiro.
“Trump, o dia que você quiser conversar, o Brasil estará pronto e preparado para discutir, para tentar mostrar o quanto você foi enganado com as informações que te deram e você vai saber a verdade sobre o Brasil. E quando você souber da verdade, você vai falar: ‘Lula, eu não vou mais taxar o Brasil, vamos ficar assim do jeito que está’. É isso. Mas é preciso conversar. E está aqui o meu conversador número 1”, disse Lula, citando o vice-presidente.
“Ninguém pode dizer que o Alckmin não quer conversar. Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele. Este país é o país de um povo generoso. Então, eu quero que o Trump nos trate com a delicadeza e o respeito que eu trato os Estados Unidos e o povo americano”, acrescentou Lula.
O presidente dos Estados Unidos também justifica as taxações citando “ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas” e suposta “censura” contra plataformas de redes sociais dos Estados Unidos, “ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro”. A pressão dessas empresas contra a regulação do setor no Brasil teria influenciado a decisão do presidente Trump de aplicar as tarifas.
Hoje, Lula reafirmou que vai promover a regulação das chamadas big techs – as gigantes que controlam as plataformas digitais. “Nós vamos fazer regulação porque eles têm que respeitar a legislação brasileira. Não pode ficar promovendo ódio entre os adolescentes, contando mentira, tentando destruir a democracia e o Estado de direito e democrático. Esse país tem lei e mais do que lei, esse país tem um povo que tem vergonha na cara, caráter e coragem para saber se defender”, afirmou.
Outro argumento de Donald Trump para a taxação seria o prejuízo na relação comercial com o Brasil. “A terceira coisa que também o presidente americano foi mal informado”, disse Lula. “Se você pegar serviços e comércio, os Estados Unidos tem um superávit, em 15 anos, de US$ 410 bilhões. Então, quem deveria estar reclamando éramos nós. E nós não estamos reclamando, estamos querendo negociar”, acrescentou.
Por fim, Lula afirmou que está tranquilo, mas que o Brasil vai tomar as suas posições. O governo estuda responder ao tarifaço com a Lei de Reciprocidade Econômica, mas não sem antes esgotar as vias de diálogo.
“Eu não só estou negociando, como estou colocando o meu companheiro, o vice-presidente da República, que é um homem calejado, para ser um negociador. E ele, obviamente, que não fala rouco como eu, não parece bravo como eu, ele é todo gentil. Mas ele sabe que o Brasil tem razão”, disse o presidente em Osasco.
Política
Lula diz que Bolsonaro agiu como o traidor de Tiradentes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a história do herói nacional Tiradentes, durante a Inconfidência Mineira, para comparar a ação da família Bolsonaro em articulação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que resultou no tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros. A declaração foi dada nesta sexta-feira (25), durante agenda sobre o Novo PAC, em Osasco, na Grande São Paulo
“Vocês sabem por que Tiradentes foi traído? Silvério dos Reis sabia que Tiradentes estava querendo fazer um movimento para fazer a independência, naquela época era independência de Minas Gerais, no dia que o governador anunciasse aumento de imposto. Ele ia fazer o movimento de fazer independência. Apareceu um cara que parecia amigo dele, chamado Silvério dos Reis, e esse cara traiu Tiradentes”, apontou Lula, lembrando de dois personagens centrais daquele momento histórico, ocorrido a partir de 1789, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal.
“Por conta dessa traição, Tiradentes foi preso e foi enforcado. Por isso ele é o mais importante herói nacional, porque ele morreu em defesa da independência desse país”, continuou o presidente.
Liderado por intelectuais, religiosos, militares e membros da elite local, a Inconfidência Mineira foi o movimento que pretendia romper com o domínio colonial português, pressionado principalmente pela cobrança da chamada “derrama”, medida fiscal que exigia o pagamento de tributos atrasados sobre o ouro em favor da Coroa europeia. O movimento, no entanto, acabou sendo delatado por Joaquim Silvério dos Reis. Tiradentes foi o único réu condenado à morte e executado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, tornando-se mártir da luta pela independência do Brasil.
“Veja que absurdo. Esses mesmos cidadãos ou cidadãs, que utilizavam a camisa da seleção brasileira e a bandeira nacional, se dizendo patriotas, estão agora agarrados nas botas do presidente dos Estados Unidos, pedindo para ele fazer intervenção no Brasil, numa total falta de patriotismo. Junta a falta de patriotismo com sem-vergonhice, com traição. Estão pedindo para o presidente da República dos Estados Unidos aumentar a taxa das coisas que nós vendemos para eles para poder libertar o pai, ou seja, trocando o Brasil pelo pai”, prosseguiu Lula em seu discurso.
“Que patriota que é esse? Isso é pior do que Silvério dos Reis. Porque Silvério dos Reis traiu o Tiradentes, mas esse cara está traindo a nação, ele está traindo o povo brasileiro”, finalizou.
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A taxação contra os produtos brasileiros foi anunciada por Trump há pouco mais de duas semanas, em uma carta endereçada a Lula, mas publicada diretamente nas redes sociais. Essas tarifas estão previstas para entrar em vigor no próximo dia 1º de agosto, daqui a uma semana. Trump também justificou a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. No documento, ele pede a anistia a Bolsonaro.
As sanções norte-americanas contra o Brasil contaram com articulação direta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que chegou a se licenciar do mandato para morar nos Estados Unidos e tentar justamente obter apoio do governo do país na tentativa de barrar o julgamento do pai.
Em diferentes ocasiões desde o anúncio do tarifaço, o presidente Lula disse que o Brasil vai adotar medidas de reciprocidade contra as ações unilaterais dos Estados Unidos, caso elas se confirmem e se mantenham. Até o momento, no entanto, nenhuma decisão específica foi adotada. A expectativa é que qualquer anúncio só ocorra a partir da entrada em vigor das tarifas.
Política
Lula mantém disposição para o diálogo, mas critica recusa de Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira (24), durante evento no Vale do Jequitinhonha (MG), que o Brasil está pronto para negociar com os Estados Unidos sobre as tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros. Mas, segundo ele, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não tem interesse em conversar.
“Ele não quer conversar. Se ele quisesse conversar, ele pegava o telefone e me ligava. Eu conversei com o Clinton, conversei com o Obama, conversei com o Bush, conversei com o Biden, conversei com o Xi Jinping, conversei com a Índia, conversei com o Canadá, ontem eu conversei 40 minutos com a presidente do México , eu conversei com o Paraguai, com a Bolívia, com a Malásia, com a Indonésia, com todo mundo eu converso, mas ele não quis conversar”, disse Lula.
As falas de Lula foram feitas durante o I Encontro Regional de Educação Escolar Quilombola do Sudeste, que envolve iniciativas interministeriais nas áreas de educação, igualdade racial, direitos humanos e povos indígenas.
Em tom de brincadeira, o presidente brasileiro ironizou a estratégia de Donald Trump de atacar e depois voltar atrás ou interromper as negociações.
“Eu não sou mineiro, mas eu sou bom de truco, e se ele estiver trucando, ele vai tomar um seis. Primeiro, porque o Brasil está acostumado a negociar. Nós íamos negociando, já tínhamos feito dez reuniões com os Estados Unidos. Dia 16 de maio, mandamos uma carta para eles pedindo explicação das propostas que já tínhamos feito. Dia 16 de maio não responderam, o que responderam foi o site”.
Lula já declarou anteriormente que vai adotar a Lei da Reciprocidade, caso o Brasil seja taxado.
O presidente brasileiro também criticou a fala do líder norte-americano de que a Justiça brasileira está fazendo uma “caça às bruxas” no julgamento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu por liderar uma tentativa de golpe de Estado.