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Saúde

Pesquisa com bactérias na Amazônia pode desenvolver novos medicamentos

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© Ricardo Stuckert/PR

Parte da pesquisa de ponta em fármacos no Brasil se faz levando amostras de solo de Belém (PA) para um complexo de laboratórios maior que um estádio de futebol em Campinas, no interior paulista. Toda essa viagem é para colocar seres microscópicos no que é, grosso modo, o maior microscópio da América do Sul, o acelerador Sirius, parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Com essa ferramenta, é possível entender como funcionam os genes das bactérias e quais substâncias elas conseguem criar. As equipes envolvidas buscam substâncias com potencial antibiótico e antitumoral, e os primeiros resultados foram publicados em dezembro em uma revista especializada internacional.

O motivo dessa viagem do solo amazônico é a parceria entre o CNPEM e a Universidade Federal do Pará (UFPA). O trabalho de campo começou recolhendo amostras de solo dos interiores do Parque Estadual do Utinga, reserva de conservação constituída em 1993 e que conta com áreas restauradas e áreas sem intervenção humana recente. O grupo investigou três espécies bacterianas das classes Actinomycetes e Bacilli isoladas, de solo da Amazônia, compreendendo bactérias do gênero Streptomyces, Rhodococcus e Brevibacillus.

O passo seguinte se deu quando os pesquisadores do laboratório EngBio, da UFPA, liderados por Diego Assis das Graças, usou o sequenciador PromethION, da Oxford Nanopore (Reino Unido), “que se destaca por gerar leituras de alta qualidade, permitindo o sequenciamento de genomas complexos com alta produção de dados e baixo custo. A tecnologia de sequenciamento baseada em nanoporos permite a análise em tempo real e a leitura direta de DNA. Além disso, sua portabilidade e flexibilidade o tornam adequado para aplicações em laboratório e campo”, explicou Diego, que é um dos autores do primeiro artigo escrito a partir dessa fase da pesquisa.

Com esse sequenciamento, foi possível olhar para os genes e entender como eles atuam na construção de enzimas, e os caminhos que as tornam moléculas mais complexas. Metade delas era desconhecida.

“Estas moléculas são o foco dos nossos estudos, pois têm grande importância para desenvolvimento de fármacos e medicamentos. Por exemplo, mais de 2/3 (dois terços) de todos os fármacos já desenvolvidos no mundo têm origem em moléculas pequenas naturais, os metabólitos secundários ou metabólitos especializados”, explicou a pesquisadora Daniela Trivella, coordenadora de Descoberta de Fármacos do LNBio (Laboratório Nacional de Biociências).

A análise dos dados foi feita também no LNBio e utilizou o Sirius. Esse sequenciamento é muito mais acessível, em termos de custos e tempo, do que era há uma ou duas décadas. Com isso, é possível analisar o que Trivella explicou serem bactérias “selvagens”, ou seja, aquelas encontradas na natureza. A estimativa atual é que menos de 1 em cada 10 espécies de bactérias selvagens sejam cultiváveis em laboratório, e quando o são menos de 10% dos genes que carregam são expressos em laboratório. Todo o resto é “perdido” para a ciência, sem estes métodos de ponta. “Então, existem muitas bactérias que ainda não conhecemos e muitos produtos naturais que não conseguíamos produzir em laboratório, ou os produzíamos em baixíssimo rendimento”, completou Daniela.

Em resumo, o lugar importa, e muito. “Os agrupamentos de genes biossintéticos são responsáveis pela produção de substâncias com potencial biológico, como medicamentos. Mesmo em organismos já estudados, como as bactérias do gênero Streptomyces, vimos que ainda há muitas substâncias desconhecidas nos exemplares isolados do solo da Amazônia. Isso mostra como o ecossistema é essencial para novas descobertas. A Amazônia, nesse sentido, continua sendo uma área rica e pouco explorada para desenvolver novos produtos”, disse em nota outro dos participantes, o pesquisador Rafael Baraúna (EngBio-UFPA), que coordenou o trabalho pela UFPA.

O passo final foi levar a produção para uma escala de laboratório. Entendendo quais os genes que produzem cada substância, com uma técnica avançada chamada metabologenômica, os pesquisadores “convenceram” espécies de bactérias de manejo comum no laboratório a aceitarem esses genes e produzirem as substâncias, produzindo quantidades que possam ser testadas e trabalhadas. “Com o DNA codificante alvo, a bactéria domesticada, que não produzia o metabólito de interesse, passa a produzi-lo, pois recebeu artificialmente a sequência de DNA que vimos na floresta. Assim temos acesso a esta molécula para desenvolver novos fármacos a partir dela. Ou seja, um acesso a novas moléculas a partir de uma rota biotecnológica”, disse Trivella.

Esse conjunto de testes não isola uma ou duas moléculas. Com toda a estrutura do CNPEN um laboratório dedicado, como o LNBio, pode realizar até 10 mil testes em um único dia. Essa velocidade compete com outra, voraz, a da devastação. O ano de 2024 teve o maior número de queimadas e incêndios na Amazônia nos últimos 17 anos. Para tentar ajudar na corrida, pelo lado da ciência, os investimentos para pesquisas no bioma, anunciados na última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) estão no patamar de R$ 500 milhões nesta década, com potencial de ajudar a valorizar economicamente o território e sua cobertura original. 

Como parte dos alvos são moléculas para tratar infecções e tumores, o retorno tem potencial superior ao dos investimentos. “Todos estes métodos estão condensados na Plataforma de Descoberta de Fármacos LNBio-CNPEM. Esta plataforma realiza a pesquisa em novos fármacos, indo desde a preparação de bibliotecas químicas da biodiversidade e seleção de alvos terapêuticos para o desenvolvimento de fármacos, até a obtenção da molécula protótipo (a invenção), que então passa por etapas regulatória para chegar na produção industrial e aos pacientes na clínica”, ilustra Trivella. Segundo ela as próximas fases da pesquisa levarão as equipes de campo longe até de Belém, para a Amazônia oriental. Lá esperam confirmar o potencial imenso de novas moléculas do bioma e comeár a entendê-lo ainda melhor.

Esse trabalho faz parte de um esforço maior para criar um centro de pesquisa multiusuário na UFPA, apoiado pelo CNPEM e por projetos nacionais como o Iwasa’i, recentemente implementado no contexto da chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 19/2024 – Centros Avançados em Áreas Estratégicas para o Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica – Pró-Amazônia.

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Saúde

Campanha Março Roxo alerta para a conscientização da epilepsia

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O mês de março é marcado pela campanha Março Roxo, uma iniciativa global de conscientização sobre a epilepsia. A ação tem o objetivo de combater o preconceito, disseminar informações corretas sobre a condição e garantir mais inclusão e qualidade de vida para as pessoas que convivem com a doença.

A epilepsia afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Caracterizada por descargas elétricas anormais no cérebro, a condição pode causar crises epilépticas de diferentes intensidades. No entanto, com o tratamento adequado, que pode incluir medicação e acompanhamento médico, a maioria dos pacientes consegue levar uma vida normal.

Apesar de ser uma condição neurológica comum, a epilepsia ainda é cercada por estigmas e desinformação. Muitas pessoas acreditam, por exemplo, que a doença está associada a distúrbios psicológicos ou que a crise convulsiva precisa ser contida segurando o paciente, o que é um mito perigoso. O correto, segundo especialistas, é deitar a pessoa de lado, afastar objetos próximos e proteger a cabeça, sem tentar conter os movimentos ou colocar algo na boca.

Durante o mês de março, diversas organizações promovem palestras, campanhas educativas e iluminação de monumentos na cor roxa para reforçar a importância do tema. O Dia Mundial da Conscientização da Epilepsia, também chamado de Purple Day, é celebrado em 26 de março e simboliza o compromisso global na luta contra o preconceito e pela inclusão das pessoas com epilepsia.

Especialistas reforçam que informação é a melhor ferramenta para combater o preconceito e incentivar o diagnóstico e tratamento precoces. A campanha Março Roxo é, portanto, um passo fundamental para construir uma sociedade mais empática e acolhedora para todos.

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Saúde

Entenda como o uso prolongado de medicamentos pode afetar os rins

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Médico alerta para perigos do uso de remédios sem orientação profissional e explica como cuidar da saúde dos rins no dia a dia

 

A automedicação é um hábito muito comum entre os brasileiros. Isso porque, apesar de oferecer perigosos para a saúde e ser amplamente contraindicada por profissionais médicos, 89% das pessoas se medicam por conta própria no Brasil. O dado é da Pesquisa de Automedicação (2022), do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ ). Essa prática levanta o alerta para a saúde dos rins, uma vez que quando um indivíduo usa medicamentos sem orientação médica, especialmente de forma prolongada, os rins podem ser sobrecarregados.

Marcus Zionede, médico da área de urologia do AmorSaúde, explica que muitos medicamentos, após cumprirem sua função no organismo, precisam ser processados e eliminados pelos rins. “Os rins são responsáveis por filtrar o sangue e eliminar substâncias tóxicas do organismo. Por isso, o uso indiscriminado de certos medicamentos sobrecarrega esses órgãos, podendo causar lesões, reduzir sua capacidade de filtragem e, em casos mais graves, levar à insuficiência renal”, explica.

 

Medicamentos que podem oferecer mais riscos aos rins

Entre as classes de medicamentos que representam maior risco para os rins, os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ibuprofeno e diclofenaco, e analgésicos, como paracetamol, merecem atenção especial. “Esses medicamentos são amplamente consumidos sem orientação médica e, quando usados de forma prolongada, podem prejudicar o fluxo sanguíneo nos rins, afetando sua função”, alerta Zionede. Antibióticos, diuréticos e fármacos utilizados para tratar hipertensão e diabetes também podem impactar negativamente os rins, especialmente em pacientes que já possuem algum comprometimento renal.

 

Sinais de alerta para problemas renais

O médico ressalta que alguns sintomas podem indicar que os rins estão sendo prejudicados pelo uso excessivo de medicamentos. Entre os principais sintomas estão:

 

  • Inchaço no corpo;
  • Alterações na quantidade ou cor da urina;
  • Cansaço excessivo;
  • Náuseas;
  • Pressão arterial elevada.

 

“Caso a pessoa apresente esses sintomas, é essencial buscar orientação médica imediatamente para avaliar a função renal e evitar complicações mais graves”, destaca o profissional.

 

Como cuidar dos rins com hábitos práticos

Para proteger os rins e minimizar os danos causados pelo uso prolongado de medicamentos, adotar hábitos saudáveis no dia a dia é fundamental. “Beber bastante água ao longo do dia, evitar o consumo excessivo de sal, manter uma alimentação equilibrada e praticar atividades físicas regularmente são medidas que contribuem para o bom funcionamento desses órgãos”, orienta Zionede.

Segundo o médico, frutas, vegetais, grãos integrais e alimentos ricos em antioxidantes ajudam a reduzir o impacto dos medicamentos nos rins. Por outro lado, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ricos em sódio e gorduras saturadas, deve ser evitado.

 

Exames para monitorar a função renal

Para aqueles que fazem uso contínuo de medicamentos, o acompanhamento médico regular é indispensável. O profissional recomenda a realização periódica de exames como:

 

  • Creatinina sérica: avalia a capacidade dos rins de filtrar o sangue;
  • Taxa de filtração glomerular: indica o nível de funcionamento dos rins;
  • Exame de urina: identifica possíveis alterações precocemente.

 

“Monitorar a saúde dos rins permite detectar problemas em estágios iniciais, e isso facilita o tratamento e evita complicações mais graves”, conclui Zionede.

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Saúde

Com benefícios para a saúde, uva pode ser utilizada em receitas saudáveis

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Nutricionista ensina preparos práticos para incluir a fruta na alimentação e explica seus benefícios

 

A uva, além de saborosa, é uma fruta rica em nutrientes e benefícios para a saúde. Isso porque uma dieta rica em alimentos com polifenóis, como o caso da uva, pode reduzir em até 23% o risco de síndrome metabólica, um conjunto de alterações metabólicas e hormonais que aumentam o risco de doenças cardiovasculares. O dado é de um trabalho que integra o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), publicado em fevereiro no Journal of Nutrition.

A pesquisa envolveu mais de seis mil brasileiros e acompanhou, durante oito anos, sua ingestão de polifenóis — compostos bioativos conhecidos por sua ação antioxidante e anti-inflamatória — para, enfim, associá-los à proteção de problemas cardiometabólicos. Além da uva, alimentos como morango, açaí, laranja e chocolate também possuem efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, ajudando a proteger contra esses problemas.

Segundo Celso Felipe Roos, profissional de nutrição do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, a uva também é uma excelente fonte de minerais como potássio, cálcio, ferro, fósforo, magnésio e zinco, além de ser rica em vitaminas A, B, C e K. “Ela ajuda na saúde do coração, melhora a circulação sanguínea, auxilia no fortalecimento do sistema imunológico e promove uma pele saudável”, afirma Roos. “As fibras presentes na uva também contribuem para uma boa digestão e melhoram o funcionamento da flora intestinal”, explica.

 

Variedade de uvas e suas diferenças nutricionais
Embora todas as uvas sejam saudáveis, as diferentes variedades apresentam características nutricionais distintas. As uvas roxas e rosadas, por exemplo, são mais ricas em resveratrol, um antioxidante benéfico para a saúde do coração. Já a uva verde se destaca pela quantidade de vitamina C, essencial para o fortalecimento do sistema imunológico. “A escolha da variedade pode depender de objetivos específicos de saúde, mas, no geral, todas são boas opções”, orienta Roos.

 

Como usar uvas em receitas práticas

Além de ser consumida in natura, a uva também pode ser incorporada em diversas receitas, como saladas, iogurtes, smoothies e até sobremesas, tornando-se uma boa opção para quem busca melhorar a alimentação de maneira prática e saborosa. A seguir, o nutricionista sugere receitas fáceis e refrescantes:

 

Sorvete de uva: ótima opção de lanche para os dias quentes de verão

 

  • Ingredientes: 500g de uva congelada (qualquer variedade), 03 colheres de sopa de leite em pó (pode ser integral, desnatado ou zero lactose).
  • Modo de preparo: em um processador, coloque as uvas congeladas e o leite em pó. Processe até formar uma mistura homogênea (aproximadamente 5 minutos). Transfira para um recipiente e sirva.

 

Bombom de uva saudável: boa alternativa para matar a vontade de doce

 

  • Ingredientes: 12 uvas verdes sem sementes, 01 potinho de iogurte natural, ½ scoop de Whey (ou 2 colheres de sopa de leite em pó), 6 quadradinhos de chocolate 50% cacau.

 

  • Modo de preparo: misture as uvas cortadas ao meio com o iogurte e o whey ou leite em pó. Derreta o chocolate e despeje sobre a mistura. Leve ao congelador por 4 horas.

 

Suco de uva integral como pré-treino
O suco de uva integral também traz muitos benefícios, como os antioxidantes, mas pode ter uma maior concentração de açúcares naturais do que a fruta fresca. “Ele pode ser uma boa fonte de energia antes do treino, mas a recomendação é consumir com moderação, ajustando a quantidade às necessidades calóricas individuais”, alerta Roos.

 

Aproveitando a doçura natural da uva
Para quem busca reduzir o consumo de açúcar, a uva pode ser uma excelente alternativa para adoçar receitas de forma natural. “Você pode usá-la para adoçar smoothies, bolos e geleias caseiras, sem a necessidade de adicionar açúcar refinado. As uvas passas também são ótimas para substituir o açúcar em pães e biscoitos, oferecendo um toque doce e nutritivo”, sugere o nutricionista.

 

Moderação no consumo
Embora a uva seja uma fruta saudável, pessoas com diabetes devem monitorar o consumo devido ao seu teor de açúcares naturais. Além disso, quem tem alergia ou intolerância deve evitar a fruta. “Moderação também é recomendada para evitar desconforto digestivo, especialmente se consumida em grande quantidade”, finaliza Roos.

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