Internacional
Alemanha vai às urnas em meio à recessão e avanço da extrema-direita

Os alemães vão às urnas neste domingo (23) para eleger o novo Parlamento, de onde sairá o novo chanceler que vai governar a maior economia da Europa. A votação ocorre em meio ao avanço da extrema-direita e recessão de dois anos consecutivos. Após cair 0,3% em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) alemão retraiu 0,2% no ano passado.
Entre os temas que dominaram o debate eleitoral, estão a guerra da Ucrânia, o aumento do preço da energia, com o corte do fornecimento do gás barato russo, a imigração e o futuro da segurança da Alemanha após os Estados Unidos (EUA) anunciarem que a Europa deve se proteger com seus próprios recursos.
De acordo com as pesquisas, o favorito é o partido conservador da União Democrata Cristã (CDU), da ex-chanceler Angela Merkel. A atual liderança da CDU é Friedrich Merz, que pode ser o novo chanceler caso costure uma coalizão com maioria no Bundestag, o Parlamento alemão.
O atual chanceler, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), é apontado como possível maior derrotado. A previsão é que sua legenda perca vários acentos no Legislativo.
Por outro lado, espera-se algum crescimento dos partidos de esquerda, tanto o mais tradicional, o A Esquerda (Die Linke), quanto o mais recente, a Aliança Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça (BSW), que mistura propostas contra a imigração com a defesa de políticas econômicas e de saúde de esquerda.
Enquanto isso, existe a expectativa da extrema-direita, representada pela Alternativa para a Alemanha (AfD), virar a segunda maior força política da Alemanha sob a liderança da candidata à chanceler Alice Weidel.
Com um perfil incomum para uma liderança da ultradireita, Weidel é casada com outra mulher, uma imigrante de Sri Lanka, com quem tem dois filhos. Além disso, é especialista em economia chinesa, tendo trabalhado seis anos na China. Ela promete ser dura contra a imigração, quer o fim da guerra na Ucrânia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A doutora em Relações Internacionais e professora da FIA Business School, Carolina Pavese, destacou que o AfD, criado em 2013, tem capilaridade em todo o país e é forte nos distritos locais.
“Eles vêm com uma agenda extremamente nacionalista, abertamente anti-migração e contrário ao atual formato da EU. Tem muitos membros do partido que são neonazistas e que flertam com o nazismo”, informou a especialista em Europa.
Crise econômica
O político e ativista ítalo-brasileiro José Luís Del Roio, ex-senador da Itália em 2006 e especialista em Europa, explicou que o crescimento da AfD tem relação com a crise econômica alemã e com o medo do trabalhador de perder empregos para imigrantes.
“Quem vota na extrema-direita são os trabalhadores alemães menos qualificados, aterrorizados com a imigração. A relação com os imigrantes funcionava bem enquanto a economia estava indo bem. Mas a economia alemã desmoronou. Nos últimos quatro anos, a produção industrial alemã caiu de 9%. Isso é um desastre”, destacou Del Roio.
Atualmente, cerca de 18% da população que vive na Alemanha nasceu fora do país. Se considerar os filhos dos imigrantes, essa porcentagem chega a 24% dos cerca de 84 milhões de habitantes, segundo dados oficiais.
O teto de gasto alemão, que impede o governo de investir para recuperação econômica, é outro fator destacado per José Luís Del Roio para explicar a crise atual.
“Eles não gastam porque tem contenção de despesas no orçamento. É uma loucura porque eles têm dinheiro. E aí uma vamos para essa eleição nessa situação. Evidentemente, a Alternativa para Alemanha (AfD) é contra esse arcabouço fiscal”, comentou.
Guerra Ucrânia
O apoio dado à Guerra na Ucrânia tem reduzido a influência dos partidos tradicionais, alimentando o crescimento de legendas que defendem o fim da ajuda à Kiev, como fazem tanto a extrema direita, quando a BSW, de esquerda.
“Antes, você tinha o gás que chegava da Rússia, muito barato, fundamental para competitividade da economia alemã. Agora o gás tem que vir dos EUA. O gás chegou a custar 12 vezes mais do que custava o gás russo. Hoje se estabilizou, mas custa quatro vezes mais que o russo”, destacou José Luís Del Roio.
A professora Carolina Pavese, que atua também no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), destacou a queda dos investimentos, o fechamento de fábricas e as demissões em massa.
“Isso pode puxar toda a UE para baixo. Boa parte da crise econômica tem sido impulsionada pelos altos gastos com energia que se acentuaram a partir da guerra da Ucrânia. Há uma relação clara entre a guerra e a crise econômica, com perda de competitividade industrial da Alemanha”, analisou a doutora pela London School of Economics.
Del Roio diz que, nesse cenário, a extrema-direita saiu na frente ao defender o fim da ajuda da Alemanha para a guerra e o retorno das relações com a Rússia, culpando a política de guerras pela onda de imigração.
“O partido AfD destaca que a culpa é das guerras de destruição da Síria, do Iraque, da Líbia, da Iugoslávia, que fizeram chegar todos esses imigrantes na Alemanha”, destacou, acrescentando que, nesse ponto, a legenda teria razão.
Esquerda
As pesquisas tem apontado para um crescimento da legenda A Esquerda (Die Linke), com ampliação do alcance nas redes sociais a partir do carisma da liderança da Heidi Reichinnek. A agremiação tem dificuldade de ultrapassar os 5% dos votos nas eleições posteriores, mínimo necessário para garantir espaço no Parlamento. Dessa vez, há a expectativa que conquistem essa marca.
Outra novidade é o Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), fundado em 2023 e com expectativa de que alcance os 5% da cláusula de barreira. A legenda mescla um discurso contra a imigração com bandeiras históricas da esquerda.
O partido é liderado pela Sahra, que deu nome à legenda, tendo começado sua carreira política no Die Linke. Natural da Alemanha Oriental, o programa do partido contrário a guerra na Ucrânia e crítico à aliança com Washington. “A Sarah tem um público mais reduzido, porque ela é muito alemã oriental. Tem essas divisões na Alemanha que pesam”, disse José Luiz.
Partido Verde
O tradicional Partido Verde alemão – que compõe o governo com o atual chanceler Olaf Scholz – deve perder força nessas eleições, segundo as pesquisas. O apoio à guerra da Ucrânia e a substituição do gás russo por carvão minaram a credibilidade da legenda, avaliaram os especialistas.
“Houve rupturas dentro dessa agenda, principalmente por causa da política energética que o Scholz adotou, retomando produção de carvão e outros combustíveis fósseis. A questão ambiental e climática tem tido menos repercussões nessa campanha”, ponderou Carolina Pevese.
Internacional
Na Rússia, Lula celebra 80 anos da vitória contra o nazismo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa, nesta sexta-feira (9), em Moscou, na Rússia, da parada cívico-militar que celebra os 80 anos de vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
Nesta data, em 1945, o Exército Vermelho anunciou a rendição incondicional dos alemães, pondo fim ao conflito que devastou a Europa ocidental e matou dezenas de milhões de pessoas por mais de meia década (1939-1945).
Na Rússia, a data é conhecida como Dia da Vitória e é marcada por uma grande celebração nacional. Lula está no país desde quarta-feira (7), a convite de Vladimir Putin, com quem manterá reunião bilateral ao longo do dia.
De acordo com a agenda oficial divulgada pelo Palácio do Planalto, Lula inicia a programação às 10h, horário local (4h pelo horário de Brasília) com a participação na cerimônia principal, na Praça Vermelha, centro da capital russa. Em seguida, o presidente participa da cerimônia de oferenda floral no túmulo do soldado desconhecido.
A agenda prossegue com um almoço oferecido por Putin no Palácio do Kremlin, sede do governo russo. Na parte da tarde, ainda manhã no Brasil, Lula e Putin se reúnem em agenda bilateral. Estão previstos anúncios de parcerias comerciais e a assinatura de acordos na área de ciência e tecnologia.
Ainda nesta sexta, Lula manterá uma reunião bilateral com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, e termina o dia de compromissos com um jantar oferecido pela Embaixada do Brasil em Moscou. Lula está acompanhado da primeira-dama Janja da Silva e por uma comitiva de ministros e autoridades da República, incluindo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
De Moscou, Lula e comitiva embarcam no dia seguinte para Pequim, na China, onde participam da cúpula entre o gigante asiático e países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nos dias 12 e 13 de maio, além de fazer uma visita de Estado, com a assinatura de, pelo menos, 16 atos bilaterais.
Internacional
Dino manda soltar empresário procurado pelo governo da Turquia

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quinta-feira (8) a soltura do empresário Mustafa Göktepe, cidadão nascido na Turquia e naturalizado brasileiro.
O ministro decidiu revogar sua decisão anterior que determinou a prisão do acusado, que é alvo de um pedido de extradição feito pelo governo turco por fazer parte do Movimento Hizmet, grupo que faz oposição ao presidente Recep Tayyip Erdogan e é apontado como “organização terrorista” naquele país.
A soltura foi solicitada após a defesa esclarecer que Mustafá é cidadão brasileiro. A informação não constava no primeiro ofício enviado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública ao STF para comunicar o pedido de extradição feito pelo governo turco.
Diante da informação, Dino reviu sua decisão e determinou a soltura do acusado, que tem o status de naturalizado desde 2012.
“Em face disto, a revogação da prisão deve ser deferida, razão pela qual determino a imediata expedição de alvará de soltura de Mustafa Göktepe, sem prejuízo da continuidade do procedimento até avaliação do órgão colegiado competente”, decidiu Dino.
A defesa de Mustafa afirmou que ele alvo de perseguição política. Os advogados também informaram que ele vive no Brasil desde 2004, tem duas filhas brasileiras e não tem antecedentes criminais.
Internacional
Quem é o papa Leão XIV: próximo de Francisco e missionário no Peru

O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi apresentado no início da tarde nesta quinta-feira (8) ao mundo como o 267º papa da Igreja. O nome escolhido pelo novo pontífice é Leão XIV. Ele sucede o papa Francisco, falecido no último dia 21. De acordo com o Vaticano, Prevot é o primeiro papa agostiniano.
O lema episcopal do novo pontífice é In Illo uno unum (Em um só nós somos um), palavras que Santo Agostinho pronunciou em um sermão, a exposição sobre o Salmo 127, para explicar que, “embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo, somos um”.
Durante a última hospitalização de Francisco, o novo papa presidiu o rosário pela saúde de seu antecessor, no dia 3 de março, na Praça São Pedro.
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Trajetória
Robert Francis Prevost nasceu em 14 de setembro de 1955 em Chicago, no estado norte-americano de Illinois. Ele é filho de Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de ascendência espanhola, e tem dois irmãos, Louis Martín e John Joseph.
Em 1977,Prevost ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho, na província de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Saint Louis. Fez sua primeira profissão em 2 de setembro de 1978 e, em 29 de agosto de 1981, emitiu seus votos solenes.
Estudou na Catholic Theological Union, em Chicago, onde se formou em teologia. Aos 27 anos, foi enviado por seus superiores a Roma para estudar direito canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino. Recebeu sua ordenação sacerdotal em 19 de junho de 1982.
Prevost obteve sua licenciatura em 1984 e, no ano seguinte, foi enviado para trabalhar em missão na cidade de Chulucanas, em Piura, Peru, de 1985 a 1986. Em 1987, concluiu seu doutorado com a tese “O papel do prior local na Ordem de Santo Agostinho”. No mesmo ano, foi eleito diretor de vocações e diretor das missões da província agostiniana Mãe do Bom Conselho de Olympia Fields, Illinois.
Em 1988, foi enviado em missão à Trujillo, também no Peru, como diretor do projeto de formação conjunta para aspirantes agostinianos nos vicariatos de Chulucanas, Iquitos e Apurímac. Lá, atuou como prior da comunidade (1988-1992), diretor de formação (1988-1998) e professor dos que professam (1992-1998).
Também na arquidiocese de Trujillo, foi vigário judicial (1989-1998) e professor de direito canônico, patrístico e moral no Seminário Maior San Carlos e San Marcelo.
Em 1999, foi eleito prior provincial da Província Agostiniana “Mãe do Bom Conselho” de Chicago, e dois anos e meio depois, no Capítulo Geral Ordinário da Ordem de Santo Agostinho, seus coirmãos o escolheram como prior geral, confirmando-o em 2007 para um segundo mandato.
Retorno aos EUA
Em outubro de 2013, retornou à sua província agostiniana, em Chicago, e foi diretor de formação no convento de Santo Agostinho, além de primeiro conselheiro e vigário provincial, cargos que ocupou até que o então papa Francisco o nomeasse, em 3 de novembro de 2014, administrador apostólico da diocese peruana de Chiclayo, elevando-o à dignidade episcopal como bispo titular de Sufar.
Prevost entrou na diocese em 7 de novembro, na presença do núncio apostólico James Patrick Green, que o ordenou bispo pouco mais de um mês depois, em 12 de dezembro, durante a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, na Catedral de Santa Maria.
Em 26 de setembro de 2015, foi nomeado bispo de Chiclayo pelo pontífice argentino e, em março de 2018, foi eleito segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana, na qual também foi membro do Conselho Econômico e presidente da Comissão de Cultura e Educação.
Proximidade com Francisco
Em 2019, novamente por decisão de Francisco, foi incluído entre os membros da Congregação para o Clero em 13 de julho de 2019 e, no ano seguinte, entre os membros da Congregação para os Bispos. Em abril de 2020, recebeu a nomeação pontifícia também como administrador apostólico da diocese peruana de Callao.
Em 30 de janeiro de 2023, Francisco chamou Prevost a Roma para atuar como prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, promovendo-o a arcebispo. Em setembro do mesmo ano, o tornou cardeal, atribuindo-lhe o diaconato de Santa Mônica.
Prevost tomou posse em 28 de janeiro de 2024 e, como chefe do dicastério, participou das últimas viagens apostólicas de Francisco e da primeira e segunda sessões da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, realizadas em Roma de 4 a 29 de outubro de 2023 e de 2 a 27 de outubro de 2024, respectivamente.
Finalmente, em 6 de fevereiro deste ano, Prevost foi promovido à ordem dos bispos pelo pontífice argentino, obtendo o título de Igreja Suburbicária de Albano.