Saúde
Transtorno de Ansiedade Social no trabalho: um desafio para a rotina de líderes e colaboradores

*Por Priscila Oliveira
É certo afirmar que, infelizmente, profissionais do remoto e do presencial têm sofrido com instabilidades emocionais no trabalho e muitos deles devem esse sofrimento ao ambiente onde atuam. Uma das tantas dessas instabilidades é o Transtorno de Ansiedade Social, mais conhecido como TAS, está diretamente ligado ao local de trabalho, seja ele físico ou presencial, e tem como consequência o prejuízo no desenvolvimento da rotina.
Sentimentos de vergonha, tristeza, medo e pânico são as características comuns do TAS e geralmente atuam com intensidade. Pessoas que têm sintomas de TAS sentem-se enfraquecidas em alguns ambientes que escolheram, ou que foram escolhidos para elas, para que desempenhem seu trabalho.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Manual MSD de Saúde Para a Família, 13% das pessoas no mundo apresentam Transtorno de Ansiedade Social em algum momento da vida; 9% das pessoas que são afetadas anualmente são mulheres e 7%, homens. As dificuldades que essas pessoas têm ao se relacionarem com outras pessoas durante a rotina de trabalho pode afetar aspectos importantes de suas vidas, como a educação de seus filhos, por exemplo, ou o convívio com o marido/esposa, e até mesmo durante a tentativa de fazer novas amizades.
O Transtorno de Ansiedade Social no home office
Os sintomas de Transtorno de Ansiedade Social no trabalho apresentam-se no dia a dia das duas modalidades de trabalho, tanto no home office, quanto no presencial. Segundo uma pesquisa realizada pelo IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 11% dos trabalhadores migraram para o trabalho remoto após o fim da pandemia da Covid-19, o que fez com que algumas dessas pessoas passassem a sofrer com o isolamento do ambiente profissional.
Sintomas de estresse, apatia e desânimo ao iniciar chamadas de vídeo são exemplos de como o TAS pode se desenvolver até mesmo no modelo remoto de trabalho. Reações, como não aceitar falar ao microfone durante uma reunião por chamada de vídeo, é um dos sintomas mais comuns, assim como o sentimento de solidão, graças ao silêncio e à ausência física dos colegas. São características que corroboram para a queda do desempenho e a preocupação com a ergonomia no ambiente de trabalho, mesmo esse ambiente sendo virtual.
Por outro lado, também há o medo de perder a oportunidade de continuar trabalhando no modelo remoto e ser obrigado a voltar a trabalhar no presencial. A porcentagem de pessoas que desejam continuar trabalhando no home office foi contabilizada por uma pesquisa experimental realizada em 2023 sobre mercado de trabalho pelo PNAD-C, do IBGE. A pesquisa demonstrou a porcentagem de pessoas que acreditam no aumento de sua produtividade durante o home office, totalizando 68,6%; 43,6% dessas pessoas querem manter o home office, porque acreditam que seus horários se tornam mais flexíveis, o que os permite realizar outras atividades enquanto estão em casa.
O Transtorno de Ansiedade Social no presencial
Já no presencial, os sintomas de Transtorno de Ansiedade Social no Trabalho dizem respeito às reações físicas que comumente ocorrem, como o toque, a conversa formal olho no olho e as cobranças diretas realizadas pelos superiores. Os desafios competem inquietações, perfeccionismo, medo de errar, ausência de autoconfiança e dificuldades de concentração e de interação.
No presencial, as pessoas que sofrem com os sintomas do TAS são aturdidas por pensamentos invasores, que geralmente nada tem a ver com sua rotina de trabalho, e pensamentos catastróficos quanto aos acontecimentos próximos e/ou quanto ao que já aconteceu. As pessoas com esses sintomas ficam ‘mastigando’ o ocorrido, sofrendo com um intenso sentimento de dor e desaprovação de suas próprias ações.
Situações como essas podem acarretar até mesmo problemas físicos, como taquicardia, coceira incessante, queda de cabelo, enxaqueca, tremores e inchaços pelo corpo e hiperventilação; a consequência é o aumento do absenteísmo, da dificuldade em conduzir diariamente suas obrigações e demandas, resultando em insatisfação e desmotivação aparentes no ambiente de trabalho.
TAS, a dor de cabeça do RH
Como uma verdadeira dor de cabeça, o TAS no trabalho assombra os profissionais elencados como responsáveis pelo recrutamento e seleção de pessoas. O RH é o setor da empresa que recebe situações bombásticas de Transtorno de Ansiedade Social quase que diariamente, já que é o profissional responsável pelo desempenho da promoção de um ambiente favorável de trabalho e pelo bem-estar de seus colaboradores. Os desafios de sua função inclui até mesmo a liderança, comumente exposta aos sintomas de TAS no trabalho. Uma pesquisa da Gallup afirmou que, no mundo, 28% do time vivencia o engajamento da empresa; o restante ou já pediu demissão ou trabalha pela metade, sem motivação e incentivos para ‘vestir a camisa’, graças à incapacidade de seus líderes de gerir sem inspirar e administrar as funções de seus colaboradores à base do controle, da hierarquia e da subserviência.
Segundo um estudo realizado pela AL + People & Performance Solutions, com 117 startups e grandes empresas brasileiras, para 76,9% dos entrevistados, a maior preocupação é o desenvolvimento da liderança e a falta de preparo para lidar com desafios. 46,20% preocupam-se com a saúde mental desses líderes. De acordo com o relatório da Sapiens Labs, de 2023, o Brasil teve o terceiro pior percentual de pessoas que sofrem com instabilidades emocionais no ano, de uma lista de 71 países, perdendo apenas para o Reino Unido, que ficou em primeiro lugar, e para a África do Sul, listada em terceiro.
Quais são os sintomas do Transtorno de Ansiedade Social no trabalho de maneira geral?
O desempenho no trabalho de uma pessoa com sintomas de TAS cai devido à sua constante crença de que não é suficiente, o que vem à tona quando precisa desempenhar alguma função específica em público, a exemplo de comentários/falas/palestras realizados na frente de duas ou mais pessoas.A pessoa que tem sintomas de TAS no trabalho geralmente mantém sentimentos relacionados aos medos mais diversos e que afetam a sua rotina. Alguns desses medos:
- Envolvem outras pessoas e os receios de suas reações quanto a si mesma;
- Quase sempre acontecem diante das mesmas situações, o que os torna parte da rotina;
- São duradouros, com intensidade que alcança além dos seis meses de sofrimento;
- Têm relação com uma ou mais situações cotidianas e sociais;
- Impõem à pessoa que está sofrendo que encare essas situações por obrigação, com total desconforto e vontade de desistir/ir embora;
- São desproporcionais aos verdadeiros perigos;
- Causam um sentimento excessivo de angústia;
- Prejudicam o desempenho das atividades diárias.
Como tratar uma pessoa diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Social no trabalho
Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo PNAD-C, do IBGE, diante do principal ponto positivo que as pessoas elucidam ao falar sobre qualidade de vida e bem-estar no trabalho, 28,5% devem essas sensações ao home office, enquanto 15,8% consideram o home office principalmente quando o assunto é não perder tempo com deslocamento. O contrário disso pode ocasionar sintomas intensos de estresse e que têm relação direta com o TAS, mas ainda assim, a partir do momento em que a pessoa se propuser a realizar o diagnóstico, ela pode vivenciar um tratamento saudável e com resultados positivos.
Entre esses tratamentos, três podem gerar efeitos consideráveis. São eles:
- Terapia cognitivo-comportamental: nesse modelo terapêutico, a pessoa em tratamento aprende a ajustar seus padrões de pensamento, a identificá-los a partir de comportamentos, como ansiedade ou sentimento de pânico, e a usar técnicas de relaxamento. Os resultados envolvem a modificação adequada de seu comportamento e a sensação de mais tranquilidade;
- Terapia de exposição: essa terapia consiste em fazer com que as pessoas pratiquem ações que geralmente as deixam nervosas. Por exemplo, se falar em público desencadeia sintomas de pânico, elas precisam praticar isso em algum outro lugar, como expor suas palavras em frente às pessoas em quem confiam, a exemplo de ambientes religiosos, como discursar no púlpito;
- Terapia com antidepressivos: remédios com indicação prévia podem ajudar pessoas com diagnóstico de Transtorno de Ansiedade Social no trabalho. As pessoas que fazem terapia com antidepressivos, utilizam medicamentos ansiolíticos, e geralmente, os profissionais responsáveis medicam os pacientes com betabloqueadores, que são medicamentos responsáveis por diminuir o estresse no coração e nos vasos sanguíneos, bem como controlar a enxaqueca, a ansiedade e os tremores. A sudorese também pode ser evitada pelos betabloqueadores, um sintoma que ocorre principalmente ao realizar ações publicamente.
O diagnóstico de TAS no trabalho deve ser feito por um psiquiatra ou psicólogo através de entrevistas clínicas e testes psicológicos.
O cuidado com a saúde mental
Cuidar da saúde mental é tarefa diária e contínua. Profissionais de ambos os modelos de trabalho necessitam manter as inquietações da mente sob controle. No contexto do mundo moderno, tudo muda em segundos, o que acaba exigindo resiliência diante das sobrecargas mentais diárias, intensificadas pelos acontecimentos comuns da rotina.
Hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, a meditação, a autoaceitação, o relaxamento em momentos oportunos, a boa alimentação e uma noite de sono aprazível são remédios naturais para os problemas enfrentados durante o dia a dia de trabalho. Mas, lembre-se: nesse processo, o que não podemos fazer é desistir.
*Priscila Oliveira é psicóloga clínica, com MBA em Gestão de Pessoas, e atua como Head de Cultura e Pessoas na Kstack.
Enviado por: LÍVIA IKEDA | PARALELO COMUNICA ASSESSORIA DE IMPRENSA
Saúde
Mutirão Agora tem Especialistas faz mais de mil cirurgias em todo país

O mutirão Agora tem Especialistas Dia-E realizou de forma simultânea, em 24 estados brasileiros, mais de 1,1 mil cirurgias, além de 10 mil procedimentos, consultas e exames especializados, neste sábado (5), em 45 hospitais universitários federais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), em uma parceria dos ministérios da Saúde e da Educação.
O objetivo da iniciativa é ampliar a capacidade de atendimento da rede pública a fim de reduzir o tempo de espera por serviços especializados.
“É o maior mutirão do SUS já feito no Brasil inteiro e mais diverso. Já teve situação de fazer mutirão de uma cirurgia, [um tipo] de um procedimento. Hoje nós fizemos em todo o Brasil de Norte a Sul com 45 hospitais, que envolveram mil tipos diferentes de cirurgias, 10,3 mil procedimentos de diagnóstico, de consulta e é um movimento que não para hoje”.
“Os hospitais universitários federais vão continuar fazendo mutirões, atendendo em terceiro turno os procedimentos de exames eletivos, não só urgência, para a gente reduzir o tempo de espera das cirurgias e dos exames em nosso país”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, após visitar o mutirão no Centro Cirúrgico do Hospital Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Prioridades
Padilha orientou que a prioridade dos atendimentos fosse aos pacientes oncológicos.
“A gente tem grande prioridade no câncer, porque no câncer tempo é vida. Fazer o diagnóstico o mais rápido possível, começar a cirurgia o mais rápido possível, pode significar a vida ou a morte daquele paciente”, observou.
Ainda segundo o ministro, em todo o país existem prioridades também para demandas que têm maior tempo de espera e impactam mais na população.
“São os problemas de saúde da mulher e toda a parte de ginecologia; a oncologia que é a parte do câncer; os problemas de visão, a gente envelhece cada vez mais e cada vez mais tem cirurgias e exames para tratar da visão; os problemas de ortopedia; de otorrino na parte da audição; são as grandes prioridades, além do câncer”, explicou.
Para o ministro é necessário acelerar o atendimento de saúde pública em todo o Brasil, mesmo em capitais que dispõem de mais médicos e hospitais. Ele citou um exemplo no Rio de Janeiro, onde foi identificado um paciente que esperava há dez anos para fazer uma cirurgia.
“Enquanto não vira urgência acaba não passando na frente de outros procedimentos e acaba ficando de lado. Essa ação do Agora tem Especialistas tem esse papel de identificar pacientes que estão há muitos anos esperando”, completou.
Atendimentos
O presidente da Ebserh, Arthur Chioro, destacou que os atendimentos do programa Agora tem Especialistas podem começar com a consulta médica. “É isso que mobiliza para que a gente possa ajudar esse esforço do Brasil de garantir – da consulta à cirurgia – as necessidades da população”, comentou.
Chioro informou que em uma ação que começou em março foram feitas 89 mil cirurgias. Segundo ele, deve haver mais dois mutirões Dia-E até o fim deste ano, um em setembro e o outro em dezembro.
A orientação para os hospitais universitários federais, segundo Chioro, é para que ampliem o horário de funcionamento com um terceiro turno, incluindo atendimentos aos sábados e domingos.
“No nosso caso, na medida em que a gente aumentar a oferta de atendimento para a população, estamos envolvendo os novos alunos residentes, portanto, formando melhor os nossos futuros profissionais de saúde. É exatamente isso que diferencia o hospital universitário no compromisso com o ensino e a pesquisa, mas também com o SUS”, concluiu.
Parceria
A secretária de estado de Saúde do Rio de Janeiro, Claudia Mello, comemorou a parceria com os ministérios da Saúde e da Educação, porque também será acelerado o tratamento de pacientes do estado.
Segundo ela, quando se consegue verificar a fila interna de uma unidade é possível aumentar o acesso para novos pacientes chegarem ao sistema de saúde.
“A gente está avançando no país como um todo em 45 universidades no mutirão. É importante para nós do Rio de Janeiro e para o Brasil na diminuição de filas. Isso é o SUS avançando a cada dia”, pontuou.
Saúde da mulher
Antes da visita ao Hospital Gaffrée e Guinle, na Tijuca, zona norte do Rio, o ministro da Saúde esteve no mutirão do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão e na sequência foi à maternidade Paulino Werneck, Ilha do Governador, zona norte da cidade.
Nos dois, estava acompanhado da primeira-dama, Janja Lula da Silva, da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e do presidente da Ebserh, Arthur Chioro. Lá, anunciaram medidas de reforço à saúde da mulher.
Saúde
Pesquisa com coautoria da USP pode avançar tratamento de doença rara

Um estudo clínico internacional, publicado no The New England Journal of Medicine, testou um novo medicamento para pacientes com hipertensão arterial pulmonar (HAP), doença rara e grave que afeta os vasos sanguíneos dos pulmões. A nova droga foi desenvolvida para agir nos vasos pulmonares, reduzindo sua espessura, facilitando a circulação sanguínea e aliviando a sobrecarga cardíaca provocada pela doença. O fármaco Sotatercept foi administrado em pacientes em estágios avançados da HAP.
Segundo o professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Rogério de Souza, ao longo dos últimos 20 anos, houve o desenvolvimento de vários tratamentos para a hipertensão pulmonar, mas não como nesse estudo, em que só foram estudados pacientes com alto risco de morte. “O fármaco diminuiu em 76% a chance de o paciente ser hospitalizado, transplantado ou morrer da doença”, disse o pesquisador, que assina o artigo com mais 15 cientistas europeus e norte-americanos.
A hipertensão arterial pulmonar é uma condição que acomete principalmente mulheres entre 40 e 50 anos de idade e, se não tratada, pode ter uma progressão que leva a uma sobrevida inferior à de muitos tipos de câncer. A doença provoca sintomas como fadiga extrema e falta de ar até mesmo em atividades simples, levando à perda de qualidade de vida e ao isolamento social. Estima-se em 5 mil o número de casos de pacientes com essa doença no país.
“O paciente não consegue andar, tem dificuldade para tomar banho. O diagnóstico é demorado. A queixa inicial é muito inespecífica, de falta de ar ao fazer um esforço. Muitas doenças podem ter esse tipo de quadro. Ela muitas vezes é confundida com outras doenças como insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica. O diagnóstico errado acaba retardando o tempo que o paciente vai ser tratado”, explica o professor.
Tratamento de alto custo
A nova medicação já foi aprovada pelo FDA e pelo EMA (agências americana e europeia de medicamentos) e milhares de pacientes já tomam esse medicamento, de acordo com o pesquisador.
No Brasil, o medicamento obteve registro no fim de 2024 na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS). A administração é por meio de uma injeção subcutânea em que é possível a autoaplicação a cada três semanas. O tratamento é considerado de alto custo.
Para Rogério Souza, o próximo passo é ampliar o conhecimento sobre a doença e sensibilizar as autoridades de saúde quanto à importância de incorporar o tratamento no sistema público, ao menos para os pacientes mais graves.
“Agora começa o processo de mostrar para o governo a importância dessa nova tecnologia para redução de risco de internações, transplante ou morte dos pacientes. Agora começa um processo das sociedades médicas e das associações de pacientes de conversar com os governos em suas diferentes esferas para sensibilizá-los para a necessidade de incorporação ao SUS”, afirma o professor.
Segundo o pesquisador, a alternativa para esses pacientes, muitas vezes, é o transplante de pulmão. Com esse medicamento, é possível retirar pessoas da fila do transplante e devolvê-las à vida ativa. “É um ganho em quantidade e qualidade de vida — além de representar uma forma mais racional de utilizar os recursos públicos”.
O Ministério da Saúde informou à Agência Brasil que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) não recebeu, até o momento, nenhuma solicitação para avaliação dessa tecnologia. “A comissão é responsável por analisar as evidências científicas, considerando aspectos como eficácia, efetividade e segurança”, diz a pasta, em nota.
Segundo o ministério, para pacientes com hipertensão arterial pulmonar, o SUS oferece gratuitamente opções de tratamento com ambrisentana, bosentana, iloprosta, selexipague, além da sildenafila, cuja conduta médica segue o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas.
Saúde
Lesões no Joelho no Futebol: Causas, Tipos e Estratégias de Prevenção e Tratamento

Por Dr. Mauricio Armede, Especialista em Ortopedia e Traumatologia
O joelho, sendo a maior articulação do corpo humano, desempenha um papel fundamental na mobilidade dos jogadores de futebol, permitindo a execução de movimentos complexos e dinâmicos. Contudo, essa articulação é frequentemente acometida por lesões que podem resultar em afastamento prolongado dos atletas dos campos, impactando significativamente suas carreiras.
Por que as lesões no joelho são tão prevalentes no futebol?
As lesões no joelho em jogadores de futebol decorrem principalmente de dois mecanismos: sobrecarga ou trauma. O trauma, mais comum nesse esporte, está relacionado à alta intensidade das partidas, às mudanças bruscas de direção, às colisões de alta energia, às quedas ou aos esforços para evitar quedas, bem como à rotação do corpo com o pé fixo no solo. Esses fatores sobrecarregam as estruturas articulares, aumentando o risco de lesões.
Principais Lesões no Joelho no Futebol
A seguir, apresentamos as quatro lesões no joelho mais frequentes entre jogadores de futebol, com suas características, tratamentos e tempos de recuperação:
1. Ruptura do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)
O LCA é um dos principais estabilizadores do joelho, e sua ruptura é uma das lesões mais graves no futebol. Geralmente, ocorre em movimentos de rotação ou hiperextensão. O tratamento requer reconstrução cirúrgica, com reabilitação que pode variar de 6 a 12 meses, dependendo da gravidade e da resposta do paciente.
2. Lesão do Ligamento Colateral Medial (LCM)
O LCM contribui para a estabilidade lateral do joelho. Lesões nesse ligamento, frequentemente distensões, são tratadas de forma conservadora com fisioterapia, imobilização ou órteses, com recuperação estimada entre 4 e 8 semanas, sem necessidade de cirurgia na maioria dos casos.
3. Rompimento do Menisco
Os meniscos, estruturas fibrocartilaginosas que atuam como amortecedores entre o fêmur e a tíbia, podem sofrer rupturas devido a movimentos de torção. Embora não impeçam completamente a prática esportiva, essas lesões comprometem a performance e a agilidade. O tratamento, que pode ser conservador ou cirúrgico (artroscopia), varia de 1 a 4 semanas, dependendo da extensão da lesão.
4. Deslocamento da Rótula
Menos comum, o deslocamento da rótula ocorre quando esse osso, que protege a articulação do joelho, sai de sua posição anatômica. É mais prevalente em atletas jovens, especialmente mulheres, devido a fatores anatômicos e biomecânicos. O tratamento pode incluir imobilização, fisioterapia ou, em casos recorrentes, intervenção cirúrgica, com tempo de recuperação variável.
Recuperação e Retorno ao Esporte
O período de afastamento varia de 1 semana a 12 meses, dependendo do tipo e da gravidade da lesão. Embora no passado lesões graves no joelho frequentemente resultassem na aposentadoria precoce de atletas, os avanços nas técnicas cirúrgicas, como a artroscopia, e os protocolos de reabilitação modernos têm permitido o retorno à atividade esportiva em grande parte dos casos. A reabilitação personalizada, com ênfase na fisioterapia e no fortalecimento muscular, é essencial para a recuperação funcional.
Prevenção de Lesões
Embora muitas lesões no joelho no futebol sejam inevitáveis devido à natureza imprevisível do esporte, estratégias preventivas podem reduzir sua incidência. O fortalecimento da musculatura glútea, dos quadríceps e dos isquiotibiais atua como uma barreira protetora, estabilizando a articulação durante movimentos bruscos. Programas de treinamento que incluem exercícios de propriocepção, equilíbrio e técnica de movimento também são recomendados para minimizar o risco de traumas.
As lesões no joelho representam um desafio significativo no futebol, mas os avanços na medicina esportiva têm permitido diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, possibilitando o retorno de muitos atletas aos gramados. A combinação de prevenção, por meio de fortalecimento muscular e treinamento adequado, e intervenções terapêuticas modernas é fundamental para a longevidade da carreira dos jogadores.